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22/02/2002 - 20h11

Há 5 anos Dolly era apresentada; dilema sobre clonagem cresceu

da Agência Lusa

Amanhã faz cinco anos que o primeiro animal clonado foi apresentado ao mundo. No dia 23 de fevereiro de 1997, os cientistas do Instituto Roslin (Edimburgo), Escócia, mostravam à sociedade cietífica e leiga a ovelha Dolly, que, com essa idade, já começa a apresentar sinais de envelhecimento precoce.

O anúncio significou, para alguns, o início de possibilidades fantásticas mas, para outros, foi como abrir uma caixa de Pandora de experiências que resultavam em aberrações.

Os avanços verificados na clonagem nos últimos cinco anos obrigaram os parlamentos de todo o mundo a reformar legislação, os cientistas a introduzir novas normas éticas e a opinião pública a debater a moralidade desta técnica.

A familiaridade com estes procedimentos é atualmente tão grande que o anúncio, feito há dez dias, da primeira experiência de clonagem bem sucedida de um gato não espantou ninguém, a não ser pelo fato de este não ser idêntico à sua mãe, já que as manchas do pelo são muito diferentes.

Os especialistas do Instituto Roslin, encabeçados por Ian Wilmut, conseguiram em 1997 extrair o núcleo de uma célula mamária de uma ovelha e transferi-lo para um óvulo não fertilizado de forma a conseguir um embrião, que implantaram no útero de uma "mãe adotiva" para gestação.

A polêmica explodiu imediatamente: entre advertências do papa de que "o homem não podia pretender ser Deus" e as profecias dos cientistas de que este podia ser o início da cura para doenças até aqui devastadoras, como a esclerose múltipla ou a doença de Parkinson.

E os mais ousados, como o italiano Severino Antinori, proclamaram a intenção de clonar um humano, parecendo tornar cada vez menos ficcional o cenário do livro "O Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley.

Desde essa data, as experiências de clonagem de vitelas, rãs, galinhas e até macacos sucederam-se, com técnicas cada vez mais aperfeiçoadas.

Na "Polly", uma ovelha clonada a partir de uma célula da Dolly, foi mesmo incorporado um gene humano que permite produzir mais leite e que poderá ser transmissível aos seus descendentes.

Outras criações foram mais polémicas, como os ratos de cor verde fluorescente obtidos no Hawai através da inserção de DNA de uma outra espécie, neste caso uma medusa.

Tentaram ainda clonar-se animais extintos, como o mamute, e cientistas espanhóis e norte-americanos empenharam-se em devolver a vida a uma subespécie da cabra montesa atualmente desaparecida.

Discutiu-se também a possibilidade de clonar porcos para xenotransplantes (transplante de órgãos de uma espécie animal para outra), para resolver o problema mundial da escassez de órgãos.

No entanto, o assunto que mais polémica tem gerado é o da clonagem humana.

Desde o anúncio do nascimento da Dolly, o que antes parecia um argumento de ficção científica obrigou vários parlamentos a reformular a legislação e a proibir essa prática de modo específico.

No entanto, ainda há quem continue a afirmar que a clonagem humana vai ser, mais cedo ou mais tarde, uma realidade, como o cientista dissidente Severino Antinori ou a seita dos raelianos, que vêem nesta prática um modo de contornar a imortalidade.

Esta polémica apresenta um capítulo mais delicado, o da chamada clonagem terapêutica, a clonagem de embriões para fins de pesquisas médicas e em particular a obtenção de células-mãe, aquelas a partir das quais se pode obter qualquer órgão humano.

O fato de por cada animal clonado saudável mais de 200 tentativas fracassarem ou resultarem em malformações é mais um argumento para o debate.

Em janeiro, o Instituto Roslin anunciou que a Dolly sofre de artrite prematura, uma notícia que fez disparar os alarmes sobre as consequências da clonagem na saúde dos animais.

Já no começo deste mês, uma equipa de cientistas japoneses chegava à mesma conclusão e advertia para a alta taxa de malformações e mortalidade prematura entre os animais clonados.

Cinco anos depois, a expectativa de um admirável mundo novo continua muito distante, pelo menos para os humanos, já que nem as objecções éticas nem a tecnologia atualmente disponível aconselham a investir na clonagem do homem.
 

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