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26/02/2002
-
22h49
da Folha de S.Paulo
A próxima viagem do ônibus espacial poderia muito bem ser um episódio de "Missão: Impossível". Os sete astronautas, que decolam na quinta do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, partem para o espaço com o objetivo de instalar e substituir peças do Telescópio Espacial Hubble. Só que uma delas não foi projetada para ser trocada no espaço _e vai exigir que o satélite seja totalmente desligado, outra coisa nunca feita antes.
A missão está sendo considerada a mais difícil envolvendo o observatório espacial, lançado em 1990. E olhe que ele já passou por maus bocados em 1993, quando os astronautas tiveram de curar a "miopia" do equipamento _corrigindo um defeito na curvatura de seu espelho de 2,4 metros.
O veículo escalado agora para a missão é um velho conhecido dos entusiastas da astronáutica: o Columbia, primeiro ônibus espacial a sair da Terra, em 1981. A nave passou por dois anos de reforma, ganhando nova cabine e sofrendo mudanças na área de carga. Ela decolou pela última vez em 1999.
Incapacitado de servir aos vôos à ISS (Estação Espacial Internacional), por sua capacidade de carga menor e por ter uma porta de atracação incompatível com o complexo orbital, o Columbia acaba sendo escalado para missões desligadas do principal programa tripulado da Nasa.
Parada dura
A missão é um pesadelo logístico. Cinco caminhadas espaciais, cinco diferentes equipamentos para instalar, 12 dias no espaço.
Os astronautas devem instalar um novo sistema de giroscópios (equipamentos que permitem controlar a orientação do telescópio em órbita), um novo conjunto de painéis solares, um resfriador para substituir o original (que se esgotou antes do tempo e está impedindo o funcionamento do instrumento detector de infravermelho do telescópio) e a ACS, câmera que deve ampliar em dez vezes a resolução das observações.
Mas o drama será instalar a nova unidade de controle de força. O Hubble foi projetado modularmente, de modo a sofrer atualizações regulares dos sistemas. Entretanto, essa unidade _que, grosso modo, serve de interruptor para todo o equipamento_ não foi projetada para ser substituída.
A instalação do equipamento exigirá que o Hubble seja desligado enquanto os astronautas trocam a unidade, desconectando e reconectando 36 cabos. Enquanto a energia está cortada, o sistema de refrigeração do telescópio pára de funcionar. Em razão disso, o ônibus espacial terá de manobrar para evitar que o equipamento seja exposto à incinerante luz solar. Tudo isso deve acontecer na terceira caminhada, no dia 6 _o momento mais crítico da missão.
"Estamos seguros de que isso pode ser feito", diz John Ira Petty, porta-voz do Centro Espacial Kennedy. "Os astronautas treinaram 12 a 18 meses só para essa missão, tanto no tanque d'água que usamos para simular zero-G [a "sensação" gravitacional do astronauta; no caso, nenhuma] como com realidade virtual."
Com as modificações, a agência espacial dos EUA espera esticar a vida útil do telescópio até 2010.
A sorte ajuda os bravos
Caso a missão seja bem-sucedida, o Hubble estará mais poderoso do que nunca. "O tamanho do espelho é o que é, mas os novos detectores vão permitir ver os mesmos objetos com menos luz", diz o italiano Duccio Macchetto, líder científico do Space Telescope Science Institute, organização que coordena o uso do Hubble.
Isso significa que coisas que antes não eram vistas poderão ser. Uma delas é enxergar ainda mais longe, estudando o chamado campo profundo de Hubble (do astrônomo, não do telescópio), onde estão as mais antigas e distantes galáxias conhecidas. "A meta é saber quando se formaram as primeiras galáxias", diz.
Outra meta fascinante é a tentativa de fotografar planetas extra-solares orbitando estrelas próximas. "Ainda não sabemos se isso pode ser feito, mas certamente vamos tentar", afirma.
Hubble sofre sua "cirurgia" mais arriscada
SALVADOR NOGUEIRAda Folha de S.Paulo
A próxima viagem do ônibus espacial poderia muito bem ser um episódio de "Missão: Impossível". Os sete astronautas, que decolam na quinta do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, partem para o espaço com o objetivo de instalar e substituir peças do Telescópio Espacial Hubble. Só que uma delas não foi projetada para ser trocada no espaço _e vai exigir que o satélite seja totalmente desligado, outra coisa nunca feita antes.
A missão está sendo considerada a mais difícil envolvendo o observatório espacial, lançado em 1990. E olhe que ele já passou por maus bocados em 1993, quando os astronautas tiveram de curar a "miopia" do equipamento _corrigindo um defeito na curvatura de seu espelho de 2,4 metros.
O veículo escalado agora para a missão é um velho conhecido dos entusiastas da astronáutica: o Columbia, primeiro ônibus espacial a sair da Terra, em 1981. A nave passou por dois anos de reforma, ganhando nova cabine e sofrendo mudanças na área de carga. Ela decolou pela última vez em 1999.
Incapacitado de servir aos vôos à ISS (Estação Espacial Internacional), por sua capacidade de carga menor e por ter uma porta de atracação incompatível com o complexo orbital, o Columbia acaba sendo escalado para missões desligadas do principal programa tripulado da Nasa.
Parada dura
A missão é um pesadelo logístico. Cinco caminhadas espaciais, cinco diferentes equipamentos para instalar, 12 dias no espaço.
Os astronautas devem instalar um novo sistema de giroscópios (equipamentos que permitem controlar a orientação do telescópio em órbita), um novo conjunto de painéis solares, um resfriador para substituir o original (que se esgotou antes do tempo e está impedindo o funcionamento do instrumento detector de infravermelho do telescópio) e a ACS, câmera que deve ampliar em dez vezes a resolução das observações.
Mas o drama será instalar a nova unidade de controle de força. O Hubble foi projetado modularmente, de modo a sofrer atualizações regulares dos sistemas. Entretanto, essa unidade _que, grosso modo, serve de interruptor para todo o equipamento_ não foi projetada para ser substituída.
A instalação do equipamento exigirá que o Hubble seja desligado enquanto os astronautas trocam a unidade, desconectando e reconectando 36 cabos. Enquanto a energia está cortada, o sistema de refrigeração do telescópio pára de funcionar. Em razão disso, o ônibus espacial terá de manobrar para evitar que o equipamento seja exposto à incinerante luz solar. Tudo isso deve acontecer na terceira caminhada, no dia 6 _o momento mais crítico da missão.
"Estamos seguros de que isso pode ser feito", diz John Ira Petty, porta-voz do Centro Espacial Kennedy. "Os astronautas treinaram 12 a 18 meses só para essa missão, tanto no tanque d'água que usamos para simular zero-G [a "sensação" gravitacional do astronauta; no caso, nenhuma] como com realidade virtual."
Com as modificações, a agência espacial dos EUA espera esticar a vida útil do telescópio até 2010.
A sorte ajuda os bravos
Caso a missão seja bem-sucedida, o Hubble estará mais poderoso do que nunca. "O tamanho do espelho é o que é, mas os novos detectores vão permitir ver os mesmos objetos com menos luz", diz o italiano Duccio Macchetto, líder científico do Space Telescope Science Institute, organização que coordena o uso do Hubble.
Isso significa que coisas que antes não eram vistas poderão ser. Uma delas é enxergar ainda mais longe, estudando o chamado campo profundo de Hubble (do astrônomo, não do telescópio), onde estão as mais antigas e distantes galáxias conhecidas. "A meta é saber quando se formaram as primeiras galáxias", diz.
Outra meta fascinante é a tentativa de fotografar planetas extra-solares orbitando estrelas próximas. "Ainda não sabemos se isso pode ser feito, mas certamente vamos tentar", afirma.
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