Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
06/03/2002 - 18h23

Homem moderno pode ser mistura entre Homo sapiens e outras raças

da Folha Online

A tese de que o homem moderno surgiu na África e substitui as outras raças foi superada em um novo estudo. De acordo com pesquisa feita a partir da análise de amostras de genoma de quatro continentes, o Homo sapiens se misturou às antigas raças, em vez de extingui-las. Isso significa que a humanidade pode ter (entre outros) sangue neandertal.

O estudo que mostra essa miscigenação ancestral, feito pelo norte-americano Alan Templeton, do departamento de Biologia da Universidade de Washington, estará publicado na edição de amanhã da revista científica "Nature" (www.nature.com). Sua idéia era compreender geneticamente como se deu a expansão das linhagens humanas pré-históricas a partir da África.

Os indícios antropológicos há muito tempo dão a entender que o continente exerceu influência enorme na hora de moldar as características do homem moderno. Mas havia dúvidas se os africanos simplesmente substituído os hominídeos que alcançaram Ásia e Europa antes deles, ou se houve uma mistura com o prevalecimento dos traços mais eficientes para a sobrevivência.

Templeton determinou as relações genéticas dentro das populações e entre elas utilizando um programa informático estatístico denominado Geodis, que analisa as mutações nas diferentes amostras.

Esta investigação baseou-se no estudo de dez sequências de DNA herdadas de um ou outro progenitor, entre elas a do DNA mitocondrial (que é transmitido só pelo lado materno), um parte do cromossomo Y (legado pelos pais apenas aos descendentes masculinos) e duas sequências do cromossomo X. A utilização dessas sequências permite uma maior precisão estatística que a simples utilização do DNA mitocondrial, que até agora era utilizada como referência neste tipo de pesquisa genética.

Amostras de populações da África, Ásia, Europa e América, que variavam entre 35 e 1.500 pessoas, foram esmiuçadas.

Em comum, os pedaços do genoma que entraram na análise têm a propriedade de não se recombinarem, isto é, de não se misturarem com os genes de um parceiro na fecundação. Com isso, a única mudança que os afeta é a mutação, modificação aleatória e espontânea das sequências de DNA. Conhecendo-se a taxa de mutação ao longo do tempo, é possível estimar a "antiguidade" de um gene _quanto mais mutações existirem, maior sua idade.

Os resultados obtidos por esta nova pesquisa tendem a demonstrar que houve, na história da humanidade, duas grandes fases de expansão do homem pelo mundo, cuja origem está na África.

A primeira fase aconteceu entre 420.000 e 840.000 anos atrás, e a segunda entre 80.000 e 150.000 anos.

Segundo esta teoria, esta segunda fase não deu lugar à extinção das linhagens de hominídeos existentes, e sim a uma mestiçagem entre eles. Apoiando sua teoria, Templeton argumenta que "se tivesse havido substituição, as marcas genéticas correspondentes às mais antigas das expansões teriam desaparecido". Segundo ele, "os cruzamentos permitem reforçar os laços genéticos entre as diferentes populações humanas".

A teoria, se confirmada, pode gerar um interessante meio-termo entre a hipótese "out of Africa", que aposta na substituição completa dos outros hominídeos pelos africanos, e o multirregionalismo, segundo o qual o Homo sapiens emergiu independentemente em várias partes da Terra.

Com Folha de S.Paulo e agências internacionais
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página