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07/03/2002 - 19h32

Chinesa diz ter clonado embrião humano

da Folha de S.Paulo

Uma equipe de pesquisadores chineses coordenada pela médica Lu Guangxiu teria clonado dezenas de embriões humanos e extraído deles células-tronco, de grande potencial terapêutico, afirmou ontem o jornal americano "The Wall Street Journal"

O anúncio não chegou nem perto do estardalhaço feito em novembro de 2001 pela empresa americana ACT (Advanced Cell Technology), que alardeara "o primeiro clone humano". No entanto, se confirmado pela publicação em uma revista científica independente _o que ainda não ocorreu_, o feito será um salto na clonagem terapêutica.

O trabalho da ACT, apesar da repercussão na mídia, não tinha sido exatamente um sucesso científico. Seu líder, o argentino José Cibelli, conseguiu inserir o DNA de uma célula adulta humana em um óvulo sem núcleo, mas a divisão celular parou quando havia apenas seis células _ainda muito longe de produzir células-tronco.

Já a pesquisa de Guangxiu _que, por sinal, afirma ter conseguido seu primeiro embrião clonado ainda em 1999_ chegou a um embrião com 200 células (o chamado blastocisto), estágio em que já aparecem as células-tronco, capazes se diferenciar em qualquer tecido do organismo.

Dilema bioético

É exatamente essa capacidade que tem colocado as células-tronco embrionárias na berlinda bioética. Por um lado, elas poderiam ser a resposta para "reconstruir" órgãos atingidos por doenças graves. Por outro, sua obtenção exigiria a destruição de embriões humanos, algo inaceitável em boa parte do mundo.

Alternativas como o uso de células-tronco da medula óssea, presentes em qualquer pessoa adulta, também têm sido pesquisadas, mas muitos cientistas acreditam que as células-tronco embrionárias, graças à sua "juventude" biológica, seriam mais versáteis e promissoras.

Se a proibição da clonagem humana com fins reprodutivos parece ser abominada de forma mais ou menos consensual, a produção de células-tronco para pesquisa médica é outra história. Enquanto os EUA cortaram no ano passado todo o financiamento federal para tais estudos, o Reino Unido acaba de liberá-los.

Avanço chinês

Na China, onde não se considera que embriões recém-fecundados sejam seres humanos, a clonagem terapêutica parece estar avançando rápido. O trabalho de Guangxiu, da Faculdade Médica de Xiangya, só precisou da doação de óvulos de mulheres que frequentam a clínica de fertilização da faculdade.

Os estudos começaram seguindo o exemplo já clássico da ovelha Dolly: o núcleo dos óvulos foi retirado e substituído pelo núcleo de uma célula adulta, com a intenção de induzir o desenvolvimento embrionário, como acontece numa fecundação comum.

Os pesquisadores, porém, notaram que a presença do núcleo original por algum tempo depois da inserção do DNA do doador dava mais estabilidade ao processo. Com a técnica aperfeiçoada, Guangxiu diz ter conseguido transformar cerca de 5% dos óvulos originais em blastocistos e obter deles células-tronco.

As células, porém, ainda não são estáveis: acabam morrendo após três gerações de divisão. Para que a técnica se torne útil, é preciso estabelecer linhagens que se reproduzam por anos.

Publicação

Jerry Yang, cientista chinês especializado em clonagem da Universidade de Connecticut (EUA), diz que o trabalho não o surpreendeu. "Vou para lá uma ou duas vezes por ano e eles estão muito, muito avançados mesmo", afirmou Yang à Folha. "Mas um dos problemas lá é conseguir que eles publiquem os resultados em revistas de fora. Eu tento encorajá-los, mas muitos pesquisadores têm problemas com a língua ou com o governo."

A geneticista Lygia Pereira da Veiga, da USP, afirma que a obtenção do blastocisto "já é um espetáculo" se for verdadeira. "Eu acho que é absolutamente possível. Esses processos são ineficientes, nem todos os blastocistos produzem células-tronco, mas é um grande passo", disse.

Já o bioeticista americano Glenn McGee, da Universidade da Pensilvânia, se disse cético: "Vou acreditar que a China é uma usina de células-tronco quando vir isso publicado".(REINALDO JOSÉ LOPES)
 

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