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29/03/2002 - 16h58

TV induz agressividade, dizem cientistas

REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Pesquisadores norte-americanos estão fazendo um apelo radical, mas que dizem estar apoiado em estatísticas: é preciso reduzir a uma hora diária o tempo gasto por adolescentes diante da TV. Do contrário, o risco de que jovens entre 16 e 22 anos desenvolvam comportamento violento ou mesmo criminoso pode triplicar.

Apesar da afirmação aparentemente exagerada, o estudo, coordenado pelo psiquiatra Jeffrey Johnson, da Universidade Columbia em Nova York, recebeu a chancela da revista científica "Science" (www.sciencemag.org), na sua edição de hoje.

O que não faltou a Johnson e seus colegas foram dados: a pesquisa englobou mais de 700 famílias do norte do Estado americano de Nova York, entre os anos de 1975 a 2000, no que é considerado o levantamento mais extenso já feito sobre a velha e polêmica relação entre TV e violência.

Questionários aplicados aos jovens e a seus pais simultaneamente avaliavam o número de horas de TV por dia e o registro de atitudes violentas: agressão, brigas resultantes em ferimentos, roubo, ameaças de ferir alguém ou uso de armas para cometer crimes.

Os dados fornecidos por quem participou da pesquisa eram cruzados com registros criminais do FBI (a polícia federal dos EUA) e do Estado de Nova York.

Os resultados, para Johnson, são mais do que eloquentes: enquanto 5,7% dos adolescentes que viam até uma hora de TV por dia aos 14 anos cometiam atos de violência, a proporção subia para 18,4% com um tempo televisivo que variava de uma até três horas e alcançava a marca de 25,3% com três ou mais horas de TV diárias.

Johnson diz que o fato de ver televisão não incita, por si só, à violência. "Existem estudos mostrando que vídeos musicais, por exemplo, têm o efeito contrário", afirmou o pesquisador à Folha.

Entretanto, ele afirma que programas não-violentos têm pouca participação na programação da TV norte-americana. "Hoje, 60% da programação nos EUA mostra cenas violentas. Isso está presente não só em programas de entretenimento e filmes, mas também nos comerciais", disse.

O ovo e a galinha
Estudos epidemiológicos como esse costumam ser cercados de incerteza: afinal, não é possível estabelecer as relações sólidas de causa e consequência que seriam observadas, por exemplo, num experimento de laboratório.

A pesquisa de Johnson e seus colegas incluiu a avaliação de fatores que normalmente estão associados à overdose televisiva e à prática da violência, como baixa renda, baixa escolaridade dos pais, negligência paterna e grau de violência na vizinhança onde os adolescentes viviam.

Mas os dados mostram claramente quem é o ovo e quem é a galinha da equação: "Quando o programa de computador que nós desenvolvemos isolava a influência disso tudo, nós víamos que, nas classes alta, média e baixa, o número de horas vendo TV tinha uma correlação positiva com a violência", afirmou.

Da mesma forma, a análise dos dados sugere que essa correlação não pode ser explicada pelo simples fato de pessoas agressivas terem mais propensão a ver TV. "O tempo gasto vendo televisão estava associado agressão subsequente, houvesse ou não um histórico de comportamento agressivo."

No entanto, os autores do estudo admitem que pode haver mais variáveis que contribuam para o comportamento agressivo e que não foram computadas pelo estudo. "É preciso notar que uma inferência forte de causa e consequência não pode ser feita sem um experimento controlado."

Para Johnson, o problema é duplo: de um lado, a violência na TV deixou de ocupar o lugar que costumava ter em manifestações culturais mais antigas. De outro, os estímulos negativos estariam encontrando um campo fértil "num momento, como a adolescência, em que as pessoas têm uma tendência maior a imitar comportamentos", diz. O veredicto? "A Associação Americana de Pediatria fala em uma ou duas horas de TV por dia como um número aceitável. Eu não hesitaria em reduzir esse total para apenas uma hora."

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