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31/03/2002 - 15h28

Transferência de transposons ainda é mistério para cientistas

JOSÉ REIS
da Folha de S.Paulo

Na década de 40, Barbara McClintock, encontrando anomalias em suas experiências genéticas com o milho, sugeriu que elas decorressem da mobilidade de certos genes, que mudariam de lugar nos cromossomos ou de um cromossomo para outro, na mesma célula ou em células diversas. A idéia demorou muito a ser aceita, mas afinal foi confirmada, despertando esses genes saltadores ou transposons enorme interesse que se traduziu na suposta participação deles em vários fenômenos.

Como os genes em geral, os transposons passam verticalmente, de uma geração à seguinte, mas houve quem imaginasse a possibilidade de eles se transmitirem também horizontalmente, de um organismo a outro, talvez mesmo de uma espécie a outra, idéias absurdas em face dos conhecimentos da genética convencional. Essa estranha possibilidade foi sugerida por experimentos de Margaret G. Kidwell e Marilyn A. Houck, que encontraram indícios da passagem de um gene chamado de elemento P entre duas espécies de drosófila.

Na década de 70, Kidwell e outros notaram o aparecimento de incompatibilidade sexual entre populações de uma certa drosófila, uma nativa ou selvagem e outra havia muito criada em laboratório. Esta última era desprovida de elementos P, que eram todavia abundantes na outra. Ficou demonstrado em estudos especiais que os elementos P da espécie nativa eram perfeitamente iguais aos de outra espécie nativa.

A questão principal que preocupou os cientistas foi a maneira pela qual ocorria a transferência dos transposons. O mistério parece ter sido desfeito pelas observações de Houck num acarino (animalzinho muito parecido com um carrapatinho) que parasitava as drosófilas nativas. Ela o examinou ao microscópio eletrônico e observou que suas peças bucais pareciam uma pipeta de ponta muito fina na qual se viam elementos P, que também eram vistos no intestino do acarino.

Kidwell e Houck desenvolveram a hipótese de que o acarino, depois de contaminado numa das espécies, poderia banquetear-se dos ovos da outra espécie, deixando neles elementos P da outra espécie de drosófila. Os elementos P se integrariam no DNA dessa espécie, caracterizando, pois, transferência horizontal entre as duas espécies. Atualmente, as pesquisadoras estão criando no laboratório as duas espécies de drosófila e o acarino, todos juntos. Como as mosquinhas das duas populações misturadas não podem cruzar entre si por serem de espécies diferentes, elas devem permanecer geneticamente diferentes. Mas, se Kidwell estiver certa, fragmentos de uma espécie devem aparecer na outra.

Certos cientistas imaginam que algum vírus possa participar do salto dos transposons entre as espécies. A idéia é plausível e tem sido muito debatida. O vírus poderia ter agregado o transposon no próprio material genético e o distribuído a diferentes células. Se confirmada a passagem de transposons de uma espécie a outra, esses elementos poderão ser considerados como agentes de mudanças evolucionárias, ou mesmo participantes de papel na origem das espécies. Neste último caso reforçariam a hipótese recente da evolução pontuada ou em saltos, segundo a qual as mutações não ocorreriam de maneira progressiva pelo acréscimo de pequenas alterações, mas de maneira abrupta após longos períodos de estabilidade.

Mas antes é preciso confirmar a possibilidade da transferência horizontal dos transposons.
 

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