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03/04/2002
-
06h18
da "New Scientist"
Se as drogas são tão ruins assim, por que tantas pessoas fazem uso delas? Porque elas ajudaram nossos ancestrais, argumenta uma dupla de antropólogos.
Nossa predileção por substâncias psicotrópicas é geralmente vista como um acidente biológico. A visão convencional é que as drogas induzem o cérebro a pensar - erroneamente - que está obtendo uma recompensa quando, de fato, não está.
Mas os antropólogos Roger Sullivan, da Universidade de Auckland (Nova Zelândia), e Edward Hagen, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara (EUA), ressaltam que os ancestrais da espécie humana estiveram expostos a plantas que contêm substâncias psicoativas por milhões de anos.
Na edição deste mês da revista "Addiction" (www.addiction-ssa.org), eles argumentam que humanos têm predisposição ao uso de drogas porque a espécie evoluiu para procurar plantas ricas em alcalóides.
Consumir essas plantas poderia ter sido uma estratégia básica de sobrevivência. "Alcalóides como nicotina e cocaína poderiam ter sido explorados pelos nossos ancestrais para ajudá-los a suportar condições ambientais difíceis", diz Sullivan. Por exemplo, até recentemente, os aborígenes da Austrália usaram o "pituri", uma planta rica em nicotina, para viajar pelo deserto com pouca comida. E as populações dos Andes ainda mascam folhas de coca para trabalhar em altitudes elevadas.
Evidências arqueológicas mostram que o uso de drogas era amplo em culturas antigas. Nozes de bétele, uma planta aromática que contém substâncias psicoativas, eram mascadas há 13 mil anos no Timor. E artefatos descobertos no Equador estendem o uso das folhas de coca a 5.000 anos atrás.
Muitas dessas drogas eram potentes: o "pituri" contêm 5% de nicotina, enquanto o tabaco hoje contém 1,5%. E mais: esses pioneiros algumas vezes mascavam as plantas psicotrópicas com álcalis, como cinzas. Esse processo, conhecido como "freebasing", libera a forma livre da substância ativa e permite que ela seja absorvida diretamente no sangue.
No entanto, nas culturas do Pacífico nas quais mascar nozes de bétele ainda é um costume difundido, a planta é vista mais como uma fonte de energia do que como uma droga, diz Sullivan. E algumas drogas têm valor nutricional real: cem gramas de folha de coca, por exemplo, contêm mais do que a dose diária recomendada nos EUA de cálcio, fósforo, ferro e vitaminas A, B2 e E.
E, em ambientes como o deserto australiano, a dieta provavelmente era tão pobre que as pessoas lutavam para produzir um número suficiente de neurotransmissores, os mensageiros químicos do cérebro. Consumir plantas contendo substâncias que imitam o funcionamento dos neurotransmissores poderia ter ajudado a compensar essa deficiência.
Eles afirmam que essa parte da sua teoria poderia ser testada privando cobaias de certos neurotransmissores e verificando se elas passam a procurar comida rica nessas substâncias.
O modelo de Sullivan é perfeitamente plausível, diz Wayne Hall, da Universidade de Queensland (Austrália), ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisa de Álcool e Drogas daquele país. "Certamente há evidência de que plantas evoluíram para imitar neurotransmissores de mamíferos", diz. "Mas o problema hoje é que temos doses muito maiores de substâncias muito mais potentes.
Uso de droga evoluiu com a humanidade, indica estudo
ABBIE THOMASda "New Scientist"
Se as drogas são tão ruins assim, por que tantas pessoas fazem uso delas? Porque elas ajudaram nossos ancestrais, argumenta uma dupla de antropólogos.
Nossa predileção por substâncias psicotrópicas é geralmente vista como um acidente biológico. A visão convencional é que as drogas induzem o cérebro a pensar - erroneamente - que está obtendo uma recompensa quando, de fato, não está.
Mas os antropólogos Roger Sullivan, da Universidade de Auckland (Nova Zelândia), e Edward Hagen, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara (EUA), ressaltam que os ancestrais da espécie humana estiveram expostos a plantas que contêm substâncias psicoativas por milhões de anos.
Na edição deste mês da revista "Addiction" (www.addiction-ssa.org), eles argumentam que humanos têm predisposição ao uso de drogas porque a espécie evoluiu para procurar plantas ricas em alcalóides.
Consumir essas plantas poderia ter sido uma estratégia básica de sobrevivência. "Alcalóides como nicotina e cocaína poderiam ter sido explorados pelos nossos ancestrais para ajudá-los a suportar condições ambientais difíceis", diz Sullivan. Por exemplo, até recentemente, os aborígenes da Austrália usaram o "pituri", uma planta rica em nicotina, para viajar pelo deserto com pouca comida. E as populações dos Andes ainda mascam folhas de coca para trabalhar em altitudes elevadas.
Evidências arqueológicas mostram que o uso de drogas era amplo em culturas antigas. Nozes de bétele, uma planta aromática que contém substâncias psicoativas, eram mascadas há 13 mil anos no Timor. E artefatos descobertos no Equador estendem o uso das folhas de coca a 5.000 anos atrás.
Muitas dessas drogas eram potentes: o "pituri" contêm 5% de nicotina, enquanto o tabaco hoje contém 1,5%. E mais: esses pioneiros algumas vezes mascavam as plantas psicotrópicas com álcalis, como cinzas. Esse processo, conhecido como "freebasing", libera a forma livre da substância ativa e permite que ela seja absorvida diretamente no sangue.
No entanto, nas culturas do Pacífico nas quais mascar nozes de bétele ainda é um costume difundido, a planta é vista mais como uma fonte de energia do que como uma droga, diz Sullivan. E algumas drogas têm valor nutricional real: cem gramas de folha de coca, por exemplo, contêm mais do que a dose diária recomendada nos EUA de cálcio, fósforo, ferro e vitaminas A, B2 e E.
E, em ambientes como o deserto australiano, a dieta provavelmente era tão pobre que as pessoas lutavam para produzir um número suficiente de neurotransmissores, os mensageiros químicos do cérebro. Consumir plantas contendo substâncias que imitam o funcionamento dos neurotransmissores poderia ter ajudado a compensar essa deficiência.
Eles afirmam que essa parte da sua teoria poderia ser testada privando cobaias de certos neurotransmissores e verificando se elas passam a procurar comida rica nessas substâncias.
O modelo de Sullivan é perfeitamente plausível, diz Wayne Hall, da Universidade de Queensland (Austrália), ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisa de Álcool e Drogas daquele país. "Certamente há evidência de que plantas evoluíram para imitar neurotransmissores de mamíferos", diz. "Mas o problema hoje é que temos doses muito maiores de substâncias muito mais potentes.
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