Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
16/10/2000 - 08h02

Pesquisa nega que sexo seja bom para eliminar defeitos do genoma

RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha de S.Paulo

Um estudo de dois pesquisadores britânicos torpedeou uma das explicações tradicionais para a existência do sexo, entendido como a troca de material genético entre indivíduos.

Ao estudar o material genético de seis pares de espécies de vertebrados e três pares de insetos, eles concluíram que não existe motivo para o sexo ter surgido na natureza como uma maneira de eliminar do genoma as mutações nocivas -modificações nos genes que afetariam negativamente a capacidade de sobrevivência.

A maioria dos biólogos acredita que o sexo surgiu como uma maneira de misturar o material genético e, com isso, evitar o dano das mutações nocivas. Os autores descobriram que o ritmo de mutação é menor do que o necessário para o sexo ser vantajoso.

O sexo também seria um meio de readaptar as espécies mais rapidamente a mudanças no ambiente, pois ele permite a existência de diferenças potencialmente úteis entre os indivíduos.

Por exemplo, se a temperatura do ambiente aumenta, um indivíduo capaz de se adaptar ao calor tende a sobreviver e a deixar mais descendentes. Os que precisam de clima frio morrem. As hipóteses ligadas a essa capacidade de adaptação passariam a ser as mais razoáveis para explicar o sexo, de acordo com a nova pesquisa.

Buscar explicação para a existência do sexo decorre do fato de esta ser uma maneira de reprodução que desperdiça recursos. Encontrar um parceiro para fazer sexo é mais trabalhoso que simplesmente se partir em dois.

O número de descendentes produzido pelo sexo é a metade do possível pela reprodução assexuada. Um ser assexuado pode se reproduzir sozinho; sexo precisa de um macho e de uma fêmea.

O índice essencial para saber se o sexo surgiu para resolver o problemas das mutações nocivas é o ritmo de acumulação delas ao longo das gerações, segundo o estudo publicado na última edição da revista "Science" por Peter Keightley, da Universidade de Edimburgo, e Adam Eyre-Walker, da Universidade de Sussex.

Para que o sexo seja realmente útil, seria preciso um valor alto (quanto mais mutações, mais vantajoso haver sexo para corrigi-las). E as mutações nocivas devem interagir entre si de modo que ter duas delas de um dado efeito é muito pior do que ter só uma.

"Se ambas as condições forem preenchidas, então a aptidão média de uma população sexuada será, em teoria, mais do que o dobro da assexuada, porque as interações sinérgicas entre as mutações levam a que elas sejam eliminadas mais rapidamente numa população dessas do que na assexuada", disse Keightley à Folha.

Os dois pesquisadores obtiveram estimativas das mutações para pares de animais que divergiram de ancestrais comuns, como o rato e o camundongo, o homem e o chimpanzé, ou as diferentes espécies de drosófilas. São mutantes de ancestrais comuns.

Os dois autores não descobriram um mecanismo geral que pudesse dar força à hipótese das mutações como origem do sexo.

Leia mais notícias de ciência na Folha Online
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página