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27/04/2002 - 11h08

Pesquisadores acham vulcão mais antigo do Brasil na Amazônia

REINALDO JOSÉ LOPES
free-lance para a Folha

Não dá mais para sair por aí dizendo que os megavulcões são privilégio do Pacífico. Bem no meio da Amazônia, um grupo de pesquisadores da USP acaba de achar um gigante do mundo vulcânico, com 22 km de diâmetro. Por sorte, trata-se de um inativo ancião de 1,85 bilhão de anos. Mas o achado pode ajudar na busca por metais de valor econômico, como ouro, cobre e molibdênio.

É claro, ninguém vai sair abrindo buracos em vulcões extintos no meio da floresta: o local estudado, cerca de 1.600 km a sudoeste de Belém, na bacia do rio Tapajós, deve apenas servir como modelo para a exploração mineira em outros terrenos similares no mundo e no Brasil.

É o que explica Rafael Hernandes Corrêa Silva, 28, um dos participantes da pesquisa, cujo trabalho de mestrado, apresentado ontem no IGC (Instituto de Geociências) da USP, descreve o vulcão veterano e seu potencial.

De acordo com ele, terrenos com essa combinação de minerais importantes costumam ser muito mais jovens em termos geológicos: em geral, eles surgem com vulcões do Mesozóico (de 248 a 65 milhões de anos atrás). Acontece, porém, que vastas porções do território nacional, assim como regiões da África, do Canadá e dos Estados Unidos, também são antigas como a do supervulcão amazônico. Procurar estruturas parecidas ajudaria a achar os cobiçados metais.

"Em geral, rochas dessa época já estão degradadas. Por isso, um trabalho como esse pode ser uma contribuição relevante para a geologia", disse à Folha Leila Marques, do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP. Segundo ela, o vulcão deve ser o mais antigo do Brasil com a estrutura preservada.

É até difícil traçar um retrato do que viria a ser a Amazônia no período remoto em que o vulcão apareceu, que leva o indigesto nome de Paleoproterozóico (termo grego que pode ser traduzido como "antiga vida primordial").

"É uma época em que nem os continentes existiam ainda", afirma Silva. Algumas placas tectônicas pré-continentais, mesmo assim, já estavam assumindo uma posição mais fixa, enquanto outras ainda "flutuavam" e colidiam pelo antigo oceano da Terra.

Foi uma dessas colisões que criou o gigante amazônico, que fica perto do município paraense de Itaituba. Um pequeno vulcão já havia se formado no mesmo lugar, mas a trombada de uma placa tectônica que se enfiou debaixo do trecho de crosta que o sustentava iniciou um processo de desabamento da cratera do vulcão, o mesmo se dando com o terreno nas imediações.

Resultado: o que era uma cratera virou uma caldeira vulcânica, um buraco no chão de 22 km de diâmetro, em cujas bordas a pressão do magma (massa de rochas derretidas abaixo da crosta terrestre) foi criando diversos pequenos vulcões. "A quantidade de cinza que foi lançada na atmosfera deve ter sido imensa. O clima da região deve ter mudado muito", afirmou Silva.

Paradoxalmente, a região deve ter esfriado, graças à nuvem de cinzas que ficou suspensa no ar e diminuiu a luminosidade. As chuvas formaram um lago na caldeira e, com o tempo, ele deve ter ficado cheio das poucas formas de vida que já existiam na Terra: bactérias e algas microscópicas chamadas cianofíceas.

De acordo com Silva, já se desconfiava da topografia do lugar, uma depressão quase no nível do mar (a caldeira) cercada de morros de 500 metros de altura (os pequenos vulcões das bordas).

Contudo, foram as imagens de satélite, que deixavam entrever a estrutura da caldeira, as responsáveis por intrigar a equipe, coordenada por Caetano Juliani, orientador de Silva, e da qual também participam pesquisadores paraenses e norte-americanos. O teste definitivo veio com a análise dos minerais: "Dá para ver claramente o jorro do material fundido, que vem de baixo, substituindo as rochas mais antigas", afirma o pesquisador da USP.

Segundo Silva, é difícil avaliar o valor das jazidas na região, que tem outros vulcões extintos de tamanho similar. Além disso, afirma, a área é totalmente isolada, o que —felizmente— diminui o interesse das mineradoras em explorar o antigo vulcão. O estudo teve apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
 

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