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30/05/2002
-
04h25
Dois terços das drogas aprovadas entre 1989 e 2000 nos EUA são versões modificadas de medicamentos preexistentes ou mesmo idênticas àquelas já no mercado, em vez de remédios de fato novos, aponta um novo estudo.
O relatório, elaborado por uma organização não-governamental americana, também disse que a maior parte dos gastos com novas drogas ocorreu em produtos que, segundo a FDA (agência que controla drogas e alimentos no país), não traziam benefícios significativos sobre aqueles já no mercado.
Algumas das drogas reformuladas estão agora entre as campeãs de propaganda. Por exemplo, o Nexium, uma droga contra úlcera recém-aprovada, é uma modificação do Prilosec, cuja patente está para cair. O Clarinex, um antialérgico, é uma reformulação do Claritin. O Sarafen, para irritação pré-menstrual, é a mesma droga que o antidepressivo Prozac, que foi renomeado e reempacotado em cápsulas de cores diferentes.
"O fato é que muitas drogas novas são versões alteradas ou ligeiramente modificadas de drogas existentes e elas podem ou não ser muito melhores que o que já está disponível", disse Nancy Chockley, presidente da Fundação Instituto Nacional de Administração de Saúde, que fez o relatório.
O instituto recebe 40% de sua verba de uma companhia de seguro-saúde dos EUA e tem se batido com a indústria farmacêutica por causa de seus relatórios sobre o preço crescente dos medicamentos. A organização das indústrias, os Fabricantes e Pesquisadores Farmacêuticos da América, criticou o novo estudo, dizendo que ele era "falho e míope".
Richard I. Smith, vice-presidente de políticas de pesquisa do grupo, afirmou que, ainda se um medicamento for similar a outros no mercado, ele pode beneficiar os pacientes. Por exemplo, disse, mesmo que haja várias drogas parecidas para tratar depressão -Prozac, Zoloft e Paxil- muitos pacientes respondem a um remédio, mas não a outro.
"Se uma droga nova não tiver vantagens suficientes ela não será usada", disse Smith.
Dados da FDA
Enquanto se sabe há algum tempo que muitas das drogas aprovadas são semelhantes a outras existentes, o estudo do instituto parece ser o primeiro a usar dados da FDA para tentar determinar o quão predominantes elas são. Essas drogas são chamadas de "remédios eu também" nos EUA.
Das 1.035 medicações aprovadas pela FDA entre 1989 e 2000, apenas 361, ou 35%, continham ingredientes ativos novos. O resto continha ingredientes ativos já presentes em outras drogas. Menos da metade desses 361 remédios teve análise prioritária pela FDA devido à sua importância.
Considerando essas estatísticas, o instituto descobriu que novas drogas altamente inovadoras -aquelas que contêm novos ingredientes que oferecem melhora significativa em relação a outras drogas- só constituíram 15% das aprovações no período. A lista inclui Foxamax, para osteoporose, Avandia e Actos, para diabetes, e Viagra, para disfunção erétil.
Produção e lucro
O estudo afirma que as companhias, no período analisado, estavam apostando cada vez mais nos "remédios eu também" à medida que as patentes das drogas campeãs de vendas expiravam e elas não conseguiam descobrir medicamentos verdadeiramente novos para aumentar os dividendos tão depressa quanto esperavam os investidores.
As drogas modificadas também dão um retorno alto para o investimento, afirmou o relatório, uma vez que desenvolvê-las é muito menos custoso e demora muito menos tempo.
"É mais uma evidência de que as indústrias farmacêuticas estão virando empresas de marketing", afirmou Chockley. O estudo aponta, ainda, que os remédios novos geralmente custavam mais que seus equivalentes mais antigos, mesmo que a agência reguladora tenha considerado que eles não ofereciam vantagens significativas sobre os últimos.
(MELODY PETERSEN)
EUA têm "remake" de drogas, diz estudo
do "The New York Times"Dois terços das drogas aprovadas entre 1989 e 2000 nos EUA são versões modificadas de medicamentos preexistentes ou mesmo idênticas àquelas já no mercado, em vez de remédios de fato novos, aponta um novo estudo.
O relatório, elaborado por uma organização não-governamental americana, também disse que a maior parte dos gastos com novas drogas ocorreu em produtos que, segundo a FDA (agência que controla drogas e alimentos no país), não traziam benefícios significativos sobre aqueles já no mercado.
Algumas das drogas reformuladas estão agora entre as campeãs de propaganda. Por exemplo, o Nexium, uma droga contra úlcera recém-aprovada, é uma modificação do Prilosec, cuja patente está para cair. O Clarinex, um antialérgico, é uma reformulação do Claritin. O Sarafen, para irritação pré-menstrual, é a mesma droga que o antidepressivo Prozac, que foi renomeado e reempacotado em cápsulas de cores diferentes.
"O fato é que muitas drogas novas são versões alteradas ou ligeiramente modificadas de drogas existentes e elas podem ou não ser muito melhores que o que já está disponível", disse Nancy Chockley, presidente da Fundação Instituto Nacional de Administração de Saúde, que fez o relatório.
O instituto recebe 40% de sua verba de uma companhia de seguro-saúde dos EUA e tem se batido com a indústria farmacêutica por causa de seus relatórios sobre o preço crescente dos medicamentos. A organização das indústrias, os Fabricantes e Pesquisadores Farmacêuticos da América, criticou o novo estudo, dizendo que ele era "falho e míope".
Richard I. Smith, vice-presidente de políticas de pesquisa do grupo, afirmou que, ainda se um medicamento for similar a outros no mercado, ele pode beneficiar os pacientes. Por exemplo, disse, mesmo que haja várias drogas parecidas para tratar depressão -Prozac, Zoloft e Paxil- muitos pacientes respondem a um remédio, mas não a outro.
"Se uma droga nova não tiver vantagens suficientes ela não será usada", disse Smith.
Dados da FDA
Enquanto se sabe há algum tempo que muitas das drogas aprovadas são semelhantes a outras existentes, o estudo do instituto parece ser o primeiro a usar dados da FDA para tentar determinar o quão predominantes elas são. Essas drogas são chamadas de "remédios eu também" nos EUA.
Das 1.035 medicações aprovadas pela FDA entre 1989 e 2000, apenas 361, ou 35%, continham ingredientes ativos novos. O resto continha ingredientes ativos já presentes em outras drogas. Menos da metade desses 361 remédios teve análise prioritária pela FDA devido à sua importância.
Considerando essas estatísticas, o instituto descobriu que novas drogas altamente inovadoras -aquelas que contêm novos ingredientes que oferecem melhora significativa em relação a outras drogas- só constituíram 15% das aprovações no período. A lista inclui Foxamax, para osteoporose, Avandia e Actos, para diabetes, e Viagra, para disfunção erétil.
Produção e lucro
O estudo afirma que as companhias, no período analisado, estavam apostando cada vez mais nos "remédios eu também" à medida que as patentes das drogas campeãs de vendas expiravam e elas não conseguiam descobrir medicamentos verdadeiramente novos para aumentar os dividendos tão depressa quanto esperavam os investidores.
As drogas modificadas também dão um retorno alto para o investimento, afirmou o relatório, uma vez que desenvolvê-las é muito menos custoso e demora muito menos tempo.
"É mais uma evidência de que as indústrias farmacêuticas estão virando empresas de marketing", afirmou Chockley. O estudo aponta, ainda, que os remédios novos geralmente custavam mais que seus equivalentes mais antigos, mesmo que a agência reguladora tenha considerado que eles não ofereciam vantagens significativas sobre os últimos.
(MELODY PETERSEN)
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