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24/06/2002 - 08h04

Brasil tem duas novas espécies de macaco

REINALDO JOSÉ LOPES
Free-lance para a Folha

Achar uma nova espécie de mamífero costuma ser comemorado pelos cientistas como um feito raro. Porém, quando se trata de Amazônia brasileira, não tem miséria: são logo duas de uma vez. Foi o que anunciou ontem a ONG Conservation International, ao revelar duas espécies de macaco totalmente desconhecidas, que habitam áreas isoladas das regiões centro e leste do Amazonas.

Os dois bichinhos, batizados com os imponentes nomes latinos de Callicebus bernhardi e Callicebus stephennashi (belo macaco de Bernhard e belo macaco de Stephen Nash) fazem subir para 95 o número de primatas nativos do Brasil, que agora é o país com a maior diversidade de espécies nesse grupo. Desde o começo da década passada, já são 13 novas espécies achadas em terras brasileiras, dez dessas na Amazônia.

O achado foi relatado num suplemento da revista científica "Neotropical Primates" por Marc van Roosmalen, primatologista do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), por seu filho Tomas e por Russell Mittermeier, presidente da Conservation International.

"Isso mostra como é importante conhecer essas regiões para podermos conservar a biodiversidade", disse à Folha Anthony Rylands, do Centro de Ciências Aplicadas à Biodiversidade da Conservation International, em Washington. "Com a destruição de habitats na Amazônia, nós estamos correndo o risco de extinguir espécies como essas antes mesmo de conhecê-las", diz o norte-americano, que vive no Brasil há 24 anos e é professor de zoologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Grande família
Dos dois novos macacos, apenas o habitat do C. bernhardi é conhecido com segurança: os pesquisadores o encontraram na margem leste do rio Madeira, entre o Estado do Amazonas e o de Rondônia. Já o C. stephennashi chegou até Roosmalen em Manaus pelas mãos de pescadores. Com base na distribuição de espécies aparentadas, supõe-se que ele habite o centro da Amazônia, a leste do rio Purus.

E parente é o que não falta, conta Rylands. "Em 1963 só eram conhecidas três espécies do gênero Callicebus. Hoje já são 28", afirma. Nem todas essas espécies foram descobertas do nada: muitas delas resultaram de novos estudos mostrando que o que se acreditava ser uma única espécie na verdade eram duas ou mais. Os macacos recém-descobertos pertencem à família dos cebídeos, a mesma do macaco-prego.

Por enquanto, os nomes populares das novas espécies são sauá príncipe Bernhard (em homenagem ao príncipe Bernhard dos Países Baixos, um defensor da causa conservacionista) e sauá Stephen Nash (em honra do ilustrador científico de mesmo nome, especializado no desenho de primatas e vinculado à ONG Conservation International).

Os dois bichinhos pesam cerca de 700 g e não ultrapassam os 80 cm da ponta do focinho à cauda. Alimentam-se de frutos, folhas e insetos e vivem em pequenos grupos familiares (cerca de cinco indivíduos) formados por um casal e seus filhotes.

De acordo com Rylands, as novas espécies nascem com uma preocupação a menos: ao contrário de outros animais descobertos recentemente, que já entraram para o registro científico com um pé na extinção, eles vivem em áreas suficientemente isoladas e protegidas e, devido ao seu tamanho diminuto e à abundância de peixes por perto, não são caçados.

Rylands explica que um fator conhecido para a formação de novas espécies, a existência de barreiras geográficas, contribuiu para a diversidade dos macacos da Amazônia. "Mas nós estamos descobrindo que mesmo os afluentes menores são capazes de estimular essa divisão", afirma.

Para o pesquisador norte-americano, mais espécies de macacos podem estar a caminho se a imensidão amazônica for bem vasculhada. "Devem aparecer mais macacos em regiões pouco conhecidas da Amazônia na Colômbia, no Peru e no próprio Brasil", pondera.

E, em relação a outros tipos de mamífero, a lista de novatos ainda crescerá: "Nos grupos mais diversificados, como morcegos e roedores, novas espécies com certeza aparecerão". Tudo isso, claro, se o ritmo da devastação de habitats no planeta diminuir.
 

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