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13/07/2002 - 06h47

Brasileiros apostam na era pós-genoma

RICARDO BONALUME NETO
Enviado da Folha de S.Paulo a Goiânia

Duas redes de pesquisa, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro, vão iniciar o estudo em larga escala de proteínas —os "tijolos" básicos codificados pelos genes que são responsáveis pela imensa maioria das funções dos organismos— em igualdade de condições com os principais centros de pesquisa do mundo.

Até o final do ano os primeiros resultados importantes já estarão sendo divulgados, segundo declarou na 54ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), encerrada ontem em Goiânia, o pesquisador Elias Walter Alves, um dos coordenadores da rede fluminense. "É um assunto em que o Brasil acompanha passo a passo o resto do mundo. O Brasil tem enorme tradição em pesquisa de proteínas, mais do que tinha com genoma", diz Alves, diretor do Centro de Biociências e Biotecnologia da Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense), em Campos (a 240 km do Rio).

Se o genoma é o conjunto do material genético de um organismo vivo, ou seja, a "receita" para sua fabricação, seu "proteoma" é o resultado disso —o conjunto de suas proteínas, as substâncias que constituem tanto as "peças" que formam o ser como as que o mantêm em funcionamento.

Em outras palavras, analisar o proteoma é dar um passo além do genoma —um mais diretamente prático. Tradicionalmente os cientistas estudam proteínas isoladamente. A proteômica envolve o estudo das propriedades dessas substâncias em larga escala.

As duas redes estão sendo financiadas com verbas estaduais, das respectivas fundações de amparo à pesquisa, Fapesp e Faperj.

A rede fluminense foi lançada primeiro, no fim do ano passado, e já está em operação. São cinco laboratórios em três instituições —além da Uenf, dois na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e um na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). O coordenador é Paulo Bisch, da UFRJ.

Venenos na mira
Os principais objetivos da Rede de Proteômica do Rio de Janeiro são as proteínas das células humanas envolvidas na luta contra o vírus causador da dengue (além das do próprio micróbio), as proteínas da bactéria causadora do cólera, as de toxinas (venenos) animais e as da bactéria responsável pela fixação do nitrogênio na raiz da cana-de-açúcar, a Gluconacetobacter diazotrophicus.

A equipe de Alves optou por estudar as proteínas do veneno da cobra surucucu-pico-de-jaca, talvez a mais temida das cobras brasileiras, capaz de injetar até cinco mililitros de veneno em uma picada, uma dose fortíssima.

"É o modelo ideal para treinar uma equipe", diz Alves. É mais fácil trabalhar com um veneno, cujas proteínas são solúveis, do que com uma célula.

Venenos têm propriedades que podem ser úteis para desenvolver medicamentos. Um exemplo clássico de droga criada a partir de estudos com toxinas animais é o captopril, para hipertensão, derivado do veneno da jararaca.

A equipe de Alves já tem um resultado que sairá logo na revista "Parasitology Research". Uma fração de veneno de cobra matou o parasita causador da doença de Chagas, o Trypanosoma cruzi.

O estudo de toxinas animais é uma área em que a comunidade científica brasileira tem impacto mundial —16% dos artigos publicados são nacionais, diz Alves.

A pesquisa de proteomas envolve equipamentos sofisticados e caros, em geral importados. Um dos mais importantes é o espectrômetro de massa, uma espécie de "balança" que "pesa" os elementos constitutivos da proteína.

Fazer proteômica, diz ele, é como "quebrar um relógio com um martelo e depois tentar reconstituir as partes" —os fragmentos que constituem as proteínas.

A Faperj destinou verba de R$ 2 milhões para o projeto.
 

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