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05/09/2002
-
05h15
da Folha de S.Paulo
O esqueleto quase completo de um bebê neandertal, desaparecido há 88 anos, foi redescoberto e analisado por um antropólogo francês, achado que promete trazer informações sem precedentes sobre a relação entre os neandertais e o Homo sapiens.
Com meio metro de altura, o esqueleto da criança (de sexo desconhecido) tem cerca de 40 mil anos. Foi achado em 1914 por Denis Peyrony (1869-1954), uma lenda da paleoantropologia francesa.
Só que, no caso do bebê neandertal, ele cochilou: embora tenha intuído que se tratava de um recém-nascido, Peyrony nunca descreveu o fóssil e ainda deixou que ele se perdesse nos porões do Museu Nacional da Pré-História, em Les Eyzies de Tayac (sudoeste da França). Todos achavam que o fóssil havia sido remetido para Paris e se perdera.
Coube a Bruno Maureille, da Universidade de Bourdeaux, desfazer esse engano. Em 1996, o antropólogo obteve a permissão do museu para vasculhar os restos mortais. "Logo tive certeza de que aqueles eram os restos do bebê", contou Maureille à Folha.
"Os sedimentos eram iguais ao do abrigo de Le Moustier, onde Peyrony achou a criança. E era evidente que se tratava de um neonato [bebê] neandertal, o que é muito raro no nosso campo de estudo", disse o antropólogo, cujo trabalho sai hoje na revista científica "Nature" (www.nature.com)
Raro, aliás, é eufemismo: de acordo com Maureille, o Le Moustier 2 (nome oficial do espécime) é o único bebê neandertal bem conservado. Além disso, recém-nascidos de outras espécies de hominídeos (grupo do homem e de seus parentes próximos) simplesmente não existem.
De um lado, a criança, que não devia ter mais de quatro meses quando morreu, revela a estranha semelhança entre humanos modernos e neandertais: tudo indica que ela tenha sido enterrada propositalmente, e a mandíbula contém sinais de dentes de leite.
De outro, porém, as diferenças são numerosas: "A robustez dos ossos é grande, as proporções corporais são diferentes. Ele tinha uma cabeça enorme, pés, mãos e tronco muito grandes".
"Num bebê, você tem certeza de que os traços morfológicos são a consequência dos genes nucleares neandertais. Em espécimes mais velhos, você não sabe se a morfologia é uma consequência da cultura, do ambiente ou da história de vida pessoal", disse Maureille.
Cientista redescobre raro bebê neandertal
REINALDO JOSÉ LOPESda Folha de S.Paulo
O esqueleto quase completo de um bebê neandertal, desaparecido há 88 anos, foi redescoberto e analisado por um antropólogo francês, achado que promete trazer informações sem precedentes sobre a relação entre os neandertais e o Homo sapiens.
Com meio metro de altura, o esqueleto da criança (de sexo desconhecido) tem cerca de 40 mil anos. Foi achado em 1914 por Denis Peyrony (1869-1954), uma lenda da paleoantropologia francesa.
Só que, no caso do bebê neandertal, ele cochilou: embora tenha intuído que se tratava de um recém-nascido, Peyrony nunca descreveu o fóssil e ainda deixou que ele se perdesse nos porões do Museu Nacional da Pré-História, em Les Eyzies de Tayac (sudoeste da França). Todos achavam que o fóssil havia sido remetido para Paris e se perdera.
Coube a Bruno Maureille, da Universidade de Bourdeaux, desfazer esse engano. Em 1996, o antropólogo obteve a permissão do museu para vasculhar os restos mortais. "Logo tive certeza de que aqueles eram os restos do bebê", contou Maureille à Folha.
"Os sedimentos eram iguais ao do abrigo de Le Moustier, onde Peyrony achou a criança. E era evidente que se tratava de um neonato [bebê] neandertal, o que é muito raro no nosso campo de estudo", disse o antropólogo, cujo trabalho sai hoje na revista científica "Nature" (www.nature.com)
Raro, aliás, é eufemismo: de acordo com Maureille, o Le Moustier 2 (nome oficial do espécime) é o único bebê neandertal bem conservado. Além disso, recém-nascidos de outras espécies de hominídeos (grupo do homem e de seus parentes próximos) simplesmente não existem.
De um lado, a criança, que não devia ter mais de quatro meses quando morreu, revela a estranha semelhança entre humanos modernos e neandertais: tudo indica que ela tenha sido enterrada propositalmente, e a mandíbula contém sinais de dentes de leite.
De outro, porém, as diferenças são numerosas: "A robustez dos ossos é grande, as proporções corporais são diferentes. Ele tinha uma cabeça enorme, pés, mãos e tronco muito grandes".
"Num bebê, você tem certeza de que os traços morfológicos são a consequência dos genes nucleares neandertais. Em espécimes mais velhos, você não sabe se a morfologia é uma consequência da cultura, do ambiente ou da história de vida pessoal", disse Maureille.
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