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13/09/2002 - 06h07

Grupo revela essência das células-tronco

RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Uma equipe de cinco pesquisadores na Universidade Harvard, EUA, revelou o pano de fundo genético que caracteriza as células-vedetes da ciência atual. Os cientistas descobriram um conjunto de 216 genes mais ativos em células-tronco de camundongos, sejam elas embrionárias, neuronais, ou as que dão origem ao sangue.

O que deixa os cientistas excitados com essas células é sua versatilidade. Células-tronco são aquelas que dão origem a todos os outros tipos de célula do corpo, após um processo chamado diferenciação. Isso faz delas excelentes candidatas para terapias, pois poderiam servir para consertar defeitos do organismo _como, por exemplo, uma parte do cérebro destruída pelo mal de Alzheimer.

O artigo descrevendo a descoberta está publicado na edição de hoje da revista científica "Science" (www.sciencemag.org).

Para os cientistas, o principal achado do estudo é que diferentes tipos de células-tronco _as embrionárias e as adultas, do cérebro ou do sangue_ ativam certos genes em comum, que provavelmente regulariam suas propriedades essenciais _aquelas que fazem uma célula-tronco ser uma célula-tronco, ou "célula estaminal", como se diz em Portugal.

"Em cada tipo de célula estaminal que estudamos detectamos cerca de 2.000 genes sobreativados. Desses, apenas 216 são comuns a todas elas. Portanto, cada célula estaminal tem sobreativados muitos genes que lhe são específicos", declarou à Folha de S.Paulo um dos autores do estudo, o português Miguel Ramalho-Santos.

Ou seja, é possível que novas e ainda desconhecidas funções celulares e genéticas estejam para ser descobertas nessas células.

As semelhanças encontradas entre células-tronco (ou estaminais) provenientes de embriões e as adultas do cérebro deixaram os pesquisadores otimistas quanto à possibilidade de, no futuro, se desenvolverem terapias para regenerar neurônios em doenças neurológicas degenerativas.

Vaivém científico
O achado é uma mostra de como as descobertas científicas tendem a ser pendulares. Na mesma revista "Science", ainda no mês passado, uma outra equipe de pesquisadores nos Estados Unidos não conseguiu fazer com que células-tronco tiradas da medula óssea de camundongos se transformassem em células nervosas, como fora anunciado quase dois anos atrás por dois grupos independentes de cientistas.

Essa revelação demonstra que ainda vai ser necessária muita pesquisa antes que essa promessa fantástica, de "fazer cérebro a partir de osso", se torne realidade.
Os dois estudos do ano 2000 indicavam que células da medula óssea (onde são produzidas as células sanguíneas) de animais adultos, depois de injetadas em outros camundongos, migravam até o cérebro e ali eram capazes de originar células neuronais, de tecido nervoso _que, geralmente, são de regeneração difícil.

Os novos experimentos estão relatados em apenas uma página de comunicação rápida na revista e sugerem que nem toda célula-tronco é capaz de se "transdiferenciar" nas células neuronais.

"Eu acredito que a pesquisa com células-tronco adultas e embrionárias vai se provar proveitosa a longo prazo, e que aquilo que nós descobrirmos sobre um tipo de célula vai ser informativo sobre o outro tipo", disse à Folha de S.Paulo o coordenador da equipe de pesquisa, David Shine.

Ele acha, porém, que novas terapias baseadas em células-tronco ainda vão precisar de muito mais pesquisa antes de renderem aplicações clínicas.

Raridade
Comentando o trabalho do grupo de Shine, Ramalho-Santos afirma que "é possível que a diferenciação de células estaminais da medula óssea em células nervosas seja um evento muito raro, ou que dependa de variáveis como fundo genético, protocolo experimental etc. O que é certo é que vários grupos não conseguem reproduzir esse resultado".

Por outro lado, ele afirma que é relativamente fácil obter neurônios em larga quantidade a partir de células-tronco embrionárias. "O nosso estudo avança com uma explicação para isso: células estaminais embrionárias e células estaminais neuronais partilham muitos dos mesmos genes entre si, mas não com as células estaminais da medula óssea", afirma o pesquisador português.
 

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