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16/09/2002 - 09h05

Estudo aponta elo entre consumo de ferro e mal de Parkinson

REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

O consumo excessivo de ferro pode ser um dos fatores para o surgimento do mal de Parkinson e aumentar o risco de outras doenças degenerativas do cérebro. A constatação, feita por cientistas gaúchos, sugere que é preciso dosar com cuidado suplementos alimentares à base de ferro (usados para combater anemia, ou de forma preventiva), especialmente para bebês.

Os testes mostraram que ratos recém-nascidos aos quais era dada uma determinada dose de ferro por três dias tinham sua memória e sua coordenação motora severamente diminuídas, além de apresentarem danos na chamada substância negra -a região na base do cérebro que perde seus neurônios no mal de Parkinson.

O ponto de partida da pesquisa, porém, não foram os roedores. É o que explica Nadja Schröder, 31, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio Grande do Sul. Ela diz que a análise de seres humanos que morreram em consequência da doença já mostrava uma relação entre o ferro e o mal.
"Muitos trabalhos publicados mostram um acúmulo de ferro na substância negra das pessoas com Parkinson", diz Schröder. "O problema é saber se o ferro é causa ou consequência", afirma.

Na ponta nutricional do problema, existiam outros estudos que mostravam que a maior absorção de ferro pelo cérebro ocorre no chamado período neonatal, que em humanos vai do nascimento até cerca de um ano de idade.

Esse intervalo é o palco da maior parte do desenvolvimento do sistema nervoso e também da formação da barreira sangue-cérebro, que protege o órgão de substâncias tóxicas. E, nessa fase, as substâncias que transportam ferro para dentro do cérebro se concentram na barreira.

"Há testes que utilizam átomos de ferro marcados radioativamente mostrando que a quantidade desse elemento que você adquire nessa fase não sai mais do cérebro", afirma Schröder. Por isso, suspeita-se que essa fase seja crucial para o acúmulo de ferro que causaria danos aos neurônios (células nervosas) mais tarde.

Doses diárias
Para testar o possível efeito nocivo do ferro, os pesquisadores administraram doses do elemento a ratos recém-nascidos do 12º ao 14º dia de vida e acompanharam os bichos até a idade adulta.

Os roedores que ganharam doses extras de ferro superiores a 3,7 mg por quilo de peso corporal andavam menos e de forma menos coordenada que os demais, além de apresentarem problemas sérios de memória.

Em termos relativos, a dose diária dada aos animais seria cerca de dez vezes maior que a recebida por uma criança. Isso porque o teste dura só três dias, enquanto a criança receberia ferro por meses, tornando seu efeito cumulativo, explica a pesquisadora.

De acordo com Schröder, o mecanismo que pode estar por trás dos danos causados aos ratos e também aos pacientes humanos é a ação do ferro como catalisador (acelerador de reações químicas) dos chamados radicais livres.

Esses vilões fisiológicos são átomos isolados de oxigênio cuja ação química é letal para as células. A substância negra do cérebro dos roedores revelou danos causados pelos radicais livres.

Trabalhos sobre a experiência, feita em colaboração com pesquisadores suecos e da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), foram publicados nas revistas "Developmental Brain Research" (www.elsevier.com/locate/bres) e "Parkinsonism & Related Disorders" (www.elsevier.com/locate/parkreldis).

Schröder diz que a intenção da pesquisa não é levar as pessoas a deixar de comer alimentos que contenham ferro naturalmente. "Uma dieta balanceada provavelmente não faria mal nenhum. Mas, embora mais estudos sejam necessários, eu adoto a seguinte regra: não tomar suplemento alimentar de ferro a menos que a pessoa esteja com anemia e realmente precise", afirma.

Recomendação
A quantidade diária de ferro recomendada pelo Ministério da Saúde para crianças até 5 meses é de 6 mg por dia, e sobe para 10 mg de 6 meses a um ano de idade. Em 200 ml de leite enriquecido com ferro, existem 3 mg do elemento. Para Schröder, a cautela não precisaria ser tão grande com alimentos enriquecidos, embora o excesso deles também não seja necessário ou recomendável.
 

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