Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
13/11/2002 - 10h54

Uniban investiga própolis contra tumor

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Os papéis parecem brotar da mesa de José Agustín Quincoces Suárez na Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) enquanto ele descreve os resultados terapêuticos, obtidos in vitro com culturas de células, de um composto que sintetizou em seu laboratório. A substância, derivada da própolis das abelhas, parece boa demais para ser verdade: apresenta um potente efeito contra tumores e baixo nível de toxicidade.

"Quando fizemos os primeiros testes de toxicidade letal e de efeito antitumoral, todo mundo achou que tinha algo errado. Fizemos de novo e o resultado foi o mesmo", ele conta, enquanto mostra dezenas de gráficos que sugerem a potência da substância.

Não é de todo surpreendente que um derivado de própolis tenha poder medicamentoso: as abelhas usam essa substância na colméia como uma espécie de antibiótico natural, para evitar que as larvas sejam afetadas por infecção. Mas Quincoces, 56, afirma que, durante seus mais de 30 anos como químico, nunca havia se interessado por ela antes. Ele só se envolveu na pesquisa quando veio de Cuba e precisou se integrar a um dos grupos já formados na Uniban, em 1999.

A partir daí, analisando os componentes da própolis, Quincoces passou a investigar quais moléculas ele poderia sintetizar em laboratório e, dessas, quais poderiam ter algum potencial médico. Da lista final de substâncias, a mais promissora aparece em seus papéis designada, misteriosamente, apenas como "composto 37".

Em testes in vitro com culturas de células cancerosas, essa substância mostrou enorme capacidade de interromper sua proliferação e, em maior quantidade, efetivamente matar os tumores. Em geral foi necessária uma concentração de 0,25 micrograma (milionésimo de grama) por mililitro para interromper o crescimento do tumor. Os resultados são similares aos da droga mais popular da quimioterapia, doxorrubicina.

Até aí, nada demais. Afinal, para ser um grande remédio, não basta matar a doença: é preciso, acima de tudo, não matar o paciente junto. E é nisso que o "composto 37" realmente surpreende.

Com a ajuda de pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Quincoces injetou a substância em camundongos, para descobrir a dose letal. No caso da doxorrubicina, que tem efeito devastador para o organismo, com 20 mg/kg (20 miligramas para cada quilo de camundongo) é possível matar metade das cobaias.

"Eu pensei que meu composto fosse também altamente tóxico. Mandei um grama para a Unicamp e pensei, "bom, vai dar e sobrar" ", conta Quincoces. Mas não foi bem assim que aconteceu. Injetaram 2,5 g/kg e nenhum dos dez camundongos morreu. Com 4 g/kg, mataram apenas um. Com 5 g/kg, morreram só dois. A dose letal foi calculada em 8,54 g/ kg. "Com isso, meu composto pode ser classificado como atóxico."

Quincoces pretende agora iniciar os testes in vivo com camundongos vitimados por tumores. O plano é conduzir esse procedimento na Unicamp com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). O projeto já foi aprovado pela instituição, mas está parado em razão da suspensão temporária das importações por conta da alta do dólar.

Mesmo sem esses testes, o pesquisador já uniu forças com a Fapesp para pedir uma patente para a substância, que também parece ter um poderoso efeito analgésico (ao menos deixou os camundongos bem grogues e imunes à dor). Quando ela for concedida, Quincoces pretende publicar os resultados e deixar de chamar sua droga de "composto 37", em favor da fórmula real do medicamento.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página