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20/12/2002 - 09h01

Micromolécula faz de 2002 o ano do RNA

MARCELO LEITE
Editor de Ciência da Folha de S.Paulo

Quem acha que o DNA está na origem e no controle da vida vai precisar reavaliar seus conceitos e abrir espaço para o RNA, molécula-irmã que inaugura uma dinastia de siglas fundamentais para a biologia: smRNa, RNAi, miRNA, siRNA. Guarde-as na memória. Elas fazem parte da descoberta eleita como a mais importante de 2002 e algum dia ainda vão render um Prêmio Nobel.

A escolha foi feita pela revista norte-americana "Science" (www.sciencemag.org), que reúne seus editores todos os anos para fazer uma seleção dos dez principais avanços da pesquisa. Só um deles é destacado como campeão —os outros nove são todos considerados vices—, e este ano foi a vez dos pequenos RNAs, ou smRNAs (de "small RNAs").

Apesar de contar com apenas 21 a 28 "letras" do código genético (as chamadas bases nitrogenadas), essas moléculas fizeram estrago considerável no reinado do DNA, que reúne nos cromossomos sequências de centenas de milhões de bases.

A coisa é tão séria que o editor-chefe da "Science", Donald Kennedy, já fala em "mudança de paradigma", no editorial publicado hoje com a lista das dez mais. "Os pequenos RNAs (...) impõem toda uma nova camada de regulação sobre o genoma, produzindo uma mudança de paradigma em nossa visão do controle genético e epigenético" (o último termo se refere a informação hereditária não mediada por genes).

O papel central do DNA foi tão valorizado nos últimos 50 anos, desde que James Watson e Francis Crick descobriram sua estrutura em 1953, que deu origem ao chamado Dogma Central da biologia molecular: DNA faz RNA que faz proteína —e nunca o fluxo inverso de informação. Nessa visão, o núcleo da célula não era só a área delimitada por uma membrana em que ficam contidos os cromossomos, mas também um núcleo do poder.

Não é bem assim, estão descobrindo os cientistas desde 1998. Experimentos revelaram que pedaços de RNA —antes encarado como simples intermediário (o mRNA, ou RNA mensageiro)— participam da própria regulação do DNA, sendo capazes por exemplo de impedir que certos trechos do cromossomo sejam usados pela célula, uma forma de silenciar genes que foi batizada de interferência de RNA (RNAi).

A revelação mais surpreendente veio em 2002, quando nada menos que quatro trabalhos foram publicados mostrando que a RNAi na realidade participa da própria epigenética, por meio da estruturação dos cromossomos. Eles são formados por cromatina, um complexo de proteínas e DNA. Dependendo da conformação da cromatina, alguns genes podem ser lidos (expressos) e outros, não. Esse padrão —que nada tem a ver com a sequência de DNA— pode ser passado para a geração seguinte.

Tal informação não-genética é crucial para que os genes sejam ligados e desligados na ordem certa, durante o desenvolvimento de um organismo. Por isso é um exagero dizer que no genoma (sequência de DNA) estão todas as informações necessárias para construir um ser humano.

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