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25/12/2002
-
09h19
da Folha de S.Paulo
Anote aí, pois dentro de alguns anos o sonho de quase todos os astrônomos vai ser estar lá: Lama. A aposta é de Paul Hickson, astrônomo da Universidade da Colúmbia Britânica e idealizador do projeto de um telescópio líquido, que pode levar a várias revoluções científicas, como o entendimento da natureza da energia escura e a primeira imagem de um planeta localizado fora do Sistema Solar.
Ou muito mais: "De fato, estamos atualmente escrevendo um documento de umas cem páginas para descrever tudo isso. Há vários programas científicos muito interessantes que poderiam se beneficiar do Lama", ele conta.
Lama, ou Large Aperture Mirror Array (Conjunto de Espelhos de Grande Abertura, em inglês), é um projeto que prevê a construção de um telescópio tecnologicamente inovador. Composto por 18 espelhos, cada um com 12 metros de diâmetro, o Lama teria resolução maior que o telescópio Hubble, ou mesmo seu sucessor espacial, o NGST (Next Generation Space Telescope).
Isso tudo vai custar no máximo uns US$ 100 milhões --bagatela, perto de qualquer projeto de grande porte. O segredo está nos espelhos incomuns: "Espelhos líquidos oferecem o potencial de fazer telescópios muito grandes a um décimo do custo de outras tecnologias", explica Hickson. "É o que torna possível para um pequeno grupo como o nosso considerar a realização desse projeto."
O princípio por trás dos espelhos líquidos com capacidade de ampliação de imagens já era velho desde os tempos de Isaac Newton (o físico britânico que, entre outras coisas impressionantes, construiu o primeiro telescópio refletor, com uso de espelhos, em 1671). Para fazer ampliação com espelho, é preciso que ele tenha o formato côncavo. No caso de um material sólido, é só confeccioná-lo com a curva adequada.
No caso dos líquidos, entretanto, o buraco é mais embaixo. Como eles não têm forma definida, o jeito de obter a curvatura côncava é girá-los rapidamente. Pode não parecer óbvio, mas basta lembrar o que acontece quando se mistura o açúcar num copo de suco para perceber que a rotação, combinada com a ação da gravidade, faz o líquido se curvar numa parábola.
O Lama segue exatamente esse princípio. "A idéia inicial surgiu de uma conversa que eu tive com Ken Lanzetta, na reunião da IAU [União Astronômica Internacional] no Japão, uns anos atrás", conta Hickson. "Desde então, preenchemos muitos detalhes tanto do programa científico como do design técnico. Acho que as questões fundamentais estão todas respondidas."
Atualmente, a equipe está estudando onde o equipamento poderá ser montado. "Estamos explorando potenciais locais e falando com outros grupos que possam estar interessados em se juntar ao projeto", afirma Hickson.
Olhar fixo no alto
Embora os telescópios desse tipo só possam apontar para o cume da abóbada celeste (o espelho líquido entornaria se alguém tentasse inclinar o eixo para onde aponta), as perspectivas de obtenção de imagens de altíssima resolução nessa região compensam essa deficiência.
A combinação dos 18 espelhos (que, juntos, funcionam como um megaespelho de 50 metros de diâmetro) pode até ser o primeiro equipamento a detectar diretamente a luz vinda de planetas extra-solares. "Detectar um planeta discreto perto de uma estrela brilhante é difícil e exige alta resolução, assim como atenção cuidadosa ao desempenho óptico. Telescópios terrestres da classe dos de 50 a 100 metros, equipados com óptica adaptativa, têm uma grande chance disso."
Já a observação de supernovas (explosões de estrelas) nos confins do cosmos pode ajudar a determinar o ritmo de expansão do Universo. Quando esse fator estiver bem determinado, será possível ver qual dos modelos de fato explica a estranha força que está causando a aceleração do ritmo de expansão (a chamada energia escura). "Eu não acho que haja um modelo preferido no momento", afirma Hickson.
Telescópio líquido caça planeta extra-solar
SALVADOR NOGUEIRAda Folha de S.Paulo
Anote aí, pois dentro de alguns anos o sonho de quase todos os astrônomos vai ser estar lá: Lama. A aposta é de Paul Hickson, astrônomo da Universidade da Colúmbia Britânica e idealizador do projeto de um telescópio líquido, que pode levar a várias revoluções científicas, como o entendimento da natureza da energia escura e a primeira imagem de um planeta localizado fora do Sistema Solar.
Ou muito mais: "De fato, estamos atualmente escrevendo um documento de umas cem páginas para descrever tudo isso. Há vários programas científicos muito interessantes que poderiam se beneficiar do Lama", ele conta.
Lama, ou Large Aperture Mirror Array (Conjunto de Espelhos de Grande Abertura, em inglês), é um projeto que prevê a construção de um telescópio tecnologicamente inovador. Composto por 18 espelhos, cada um com 12 metros de diâmetro, o Lama teria resolução maior que o telescópio Hubble, ou mesmo seu sucessor espacial, o NGST (Next Generation Space Telescope).
Isso tudo vai custar no máximo uns US$ 100 milhões --bagatela, perto de qualquer projeto de grande porte. O segredo está nos espelhos incomuns: "Espelhos líquidos oferecem o potencial de fazer telescópios muito grandes a um décimo do custo de outras tecnologias", explica Hickson. "É o que torna possível para um pequeno grupo como o nosso considerar a realização desse projeto."
O princípio por trás dos espelhos líquidos com capacidade de ampliação de imagens já era velho desde os tempos de Isaac Newton (o físico britânico que, entre outras coisas impressionantes, construiu o primeiro telescópio refletor, com uso de espelhos, em 1671). Para fazer ampliação com espelho, é preciso que ele tenha o formato côncavo. No caso de um material sólido, é só confeccioná-lo com a curva adequada.
No caso dos líquidos, entretanto, o buraco é mais embaixo. Como eles não têm forma definida, o jeito de obter a curvatura côncava é girá-los rapidamente. Pode não parecer óbvio, mas basta lembrar o que acontece quando se mistura o açúcar num copo de suco para perceber que a rotação, combinada com a ação da gravidade, faz o líquido se curvar numa parábola.
O Lama segue exatamente esse princípio. "A idéia inicial surgiu de uma conversa que eu tive com Ken Lanzetta, na reunião da IAU [União Astronômica Internacional] no Japão, uns anos atrás", conta Hickson. "Desde então, preenchemos muitos detalhes tanto do programa científico como do design técnico. Acho que as questões fundamentais estão todas respondidas."
Atualmente, a equipe está estudando onde o equipamento poderá ser montado. "Estamos explorando potenciais locais e falando com outros grupos que possam estar interessados em se juntar ao projeto", afirma Hickson.
Olhar fixo no alto
Embora os telescópios desse tipo só possam apontar para o cume da abóbada celeste (o espelho líquido entornaria se alguém tentasse inclinar o eixo para onde aponta), as perspectivas de obtenção de imagens de altíssima resolução nessa região compensam essa deficiência.
A combinação dos 18 espelhos (que, juntos, funcionam como um megaespelho de 50 metros de diâmetro) pode até ser o primeiro equipamento a detectar diretamente a luz vinda de planetas extra-solares. "Detectar um planeta discreto perto de uma estrela brilhante é difícil e exige alta resolução, assim como atenção cuidadosa ao desempenho óptico. Telescópios terrestres da classe dos de 50 a 100 metros, equipados com óptica adaptativa, têm uma grande chance disso."
Já a observação de supernovas (explosões de estrelas) nos confins do cosmos pode ajudar a determinar o ritmo de expansão do Universo. Quando esse fator estiver bem determinado, será possível ver qual dos modelos de fato explica a estranha força que está causando a aceleração do ritmo de expansão (a chamada energia escura). "Eu não acho que haja um modelo preferido no momento", afirma Hickson.
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