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26/10/2000 - 07h55

Feiúra extrema garante sucesso com fêmeas de pássaro

RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha de S.Paulo

Os machos mais bonitos e os mais feios são os que mais sucesso conseguem com as fêmeas; aqueles de beleza intermediária são os que menos fazem sexo e menos deixam descendentes.

Esse comportamento sexual pouco comum foi descoberto numa espécie de pássaro norte-americano, o tentilhão lápis-lazúli, que tem esse nome pela cor azulada brilhante dos machos adultos.

Quando completam um ano de idade, antes de ficarem adultos, os machos da espécie Passerina amoena podem variar muito na coloração. Alguns já têm a plumagem azulada vistosa dos adultos; outros têm cor amarronzada, parecida com a das fêmeas; já a maioria fica no meio-termo.

Uma equipe de cientistas dos EUA e Canadá estudou populações do pássaro no Estado americano de Montana. Descobriu que é a minoria dos mais bonitos e dos mais feios que atrai as fêmeas.

Trata-se de um fenômeno raro entre animais, o da cooperação reprodutiva entre machos, agora demonstrado pela primeira vez.

Segundo a teoria tradicional da "seleção sexual", desenvolvida pelo naturalista inglês Charles Darwin, os machos mais bem-sucedidos em produzir filhotes são os que levam seus ornamentos sexuais ao extremo _o pavão com a cauda maior e mais colorida, o veado com os maiores chifres.

Os machos mais coloridos conseguem conquistar os melhores territórios, com mais vegetação para a feitura dos ninhos. As fêmeas estão interessadas em fazer ninhos nesses locais. Os "feinhos" conseguem se estabelecer ao lado dos bons territórios, pois os adultos os ignoram, considerando que não representam ameaça.

Fêmeas interesseiras

"As fêmeas são interessadas em várias coisas, incluindo a plumagem. Elas claramente dão atenção à vegetação no território do macho, mas não sabemos o porquê", disse à Folha um dos co-autores do estudo publicado hoje na revista científica "Nature", Bruce Lyon, da Universidade da Califórnia.

A hipótese de que os pássaros adultos confundiam os "feinhos" com as fêmeas foi descartada por um experimento feito anteriormente. "Os machos respondem de modo diferente a uma fêmea ou a um macho empalhados. Eles reconhecem os machos de cor menos vistosa como machos, mas os toleram", diz o pesquisador.

Os pássaros dessa espécie são socialmente monogâmicos, mas não na prática. O índice de "adultério" é altíssimo. Testes de paternidade de DNA revelaram que quase a metade dos ninhos (49%) continham pelo menos um filhote cujo pai era outro macho.

Os maiores "ricardões" são os machos adultos. Para eles, ter os machos mais feios em volta é vantajoso, pois impede a competição pelos rivais mais sérios -outros adultos de plumagem vistosa-, além de ser uma fonte de potenciais casos extraconjugais.

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