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27/12/2002
-
09h54
da Folha de S.Paulo
Num piscar de olhos geológico, talvez 100 mil anos, o Homo erectus saiu da África e chegou à Indonésia, tornando-se o primeiro ancestral da humanidade a colonizar o planeta. Essa expansão, concluída há 1,7 milhão de anos, pode ter tido motivações prosaicas: os hominídeos estavam em crescimento e faltou comida.
É o que sugere o modelo de William Leonard, Marcia Robertson e Susan Antón para explicar a saída dos hominídeos da África, publicado este mês no "Journal of Human Evolution" (www.academicpress.com/jhevol). Com base no aumento do H. erectus e nas mudanças em sua dieta, calcularam que ele precisaria de uma área até dez vezes maior que a usada pelos hominídeos mais antigos para conseguir se manter.
Durante muito tempo, o sucesso na expansão foi atribuído à invenção de machados de pedra mais eficientes, há 1,4 milhão de anos. Mas achados recentes mostraram que o H. erectus já estava na ilha de Java, Indonésia, por volta de 1,8 milhão de anos atrás.
Isso sugere que a tecnologia não tenha sido o fator-chave. Mudanças fundamentais aconteceram no próprio corpo dos hominídeos: o H. erectus é o primeiro a andar da mesma forma que o homem moderno, a ter a mesma estatura média (1,70 m) e a ter um aumento significativo do cérebro.
Foi seguindo essa pista que Leonard e suas colegas começaram a desenvolver o modelo. Antón, da Universidade Rutgers, tentou estimar a velocidade anual de expansão do H. erectus e compará-la à de outros primatas. Leonard e Robertson, da Universidade Northwestern, usaram dados de primatas modernos e de grupos de caçadores-coletores para testar a correlação entre dieta, tamanho do corpo e área exigida por cada indivíduo para se sustentar.
O H. erectus derrota de goleada seus concorrentes primatas. Enquanto os macacos venciam de 0,1 km a 0,2 km por ano, o hominídeo avançava a 2,4 km por ano.
Para os pesquisadores, a explicação está na relação entre o tamanho corporal das espécies de primata e a área de que elas necessitam para sobreviver.
Somente o aumento corporal já faria dos H. erectus uma espécie duas vezes mais necessitada de espaço que seus parentes australopitecos. Quando um consumo moderado de carne é incluído, a área exigida fica dez vezes maior.
"Nosso modelo pressupõe apenas um aumento muito modesto na alimentação de origem animal, que corresponderia a cerca de 30% da dieta", diz Leonard.
Para o antropólogo, a mudança climática pode ter estado na raiz das mudanças alimentares e morfológicas da humanidade primitiva. "A África estava passando por um período de seca que diminuiu as florestas e abriu espaço para as savanas. Dessa forma, menos comida vegetal ficou disponível. O Homo erectus, aparentemente, começou a incorporar essa rica alimentação animal em sua dieta", especula o pesquisador.
Mudança em padrão de vida gerou migração
REINALDO JOSÉ LOPESda Folha de S.Paulo
Num piscar de olhos geológico, talvez 100 mil anos, o Homo erectus saiu da África e chegou à Indonésia, tornando-se o primeiro ancestral da humanidade a colonizar o planeta. Essa expansão, concluída há 1,7 milhão de anos, pode ter tido motivações prosaicas: os hominídeos estavam em crescimento e faltou comida.
É o que sugere o modelo de William Leonard, Marcia Robertson e Susan Antón para explicar a saída dos hominídeos da África, publicado este mês no "Journal of Human Evolution" (www.academicpress.com/jhevol). Com base no aumento do H. erectus e nas mudanças em sua dieta, calcularam que ele precisaria de uma área até dez vezes maior que a usada pelos hominídeos mais antigos para conseguir se manter.
Durante muito tempo, o sucesso na expansão foi atribuído à invenção de machados de pedra mais eficientes, há 1,4 milhão de anos. Mas achados recentes mostraram que o H. erectus já estava na ilha de Java, Indonésia, por volta de 1,8 milhão de anos atrás.
Isso sugere que a tecnologia não tenha sido o fator-chave. Mudanças fundamentais aconteceram no próprio corpo dos hominídeos: o H. erectus é o primeiro a andar da mesma forma que o homem moderno, a ter a mesma estatura média (1,70 m) e a ter um aumento significativo do cérebro.
Foi seguindo essa pista que Leonard e suas colegas começaram a desenvolver o modelo. Antón, da Universidade Rutgers, tentou estimar a velocidade anual de expansão do H. erectus e compará-la à de outros primatas. Leonard e Robertson, da Universidade Northwestern, usaram dados de primatas modernos e de grupos de caçadores-coletores para testar a correlação entre dieta, tamanho do corpo e área exigida por cada indivíduo para se sustentar.
O H. erectus derrota de goleada seus concorrentes primatas. Enquanto os macacos venciam de 0,1 km a 0,2 km por ano, o hominídeo avançava a 2,4 km por ano.
Para os pesquisadores, a explicação está na relação entre o tamanho corporal das espécies de primata e a área de que elas necessitam para sobreviver.
Somente o aumento corporal já faria dos H. erectus uma espécie duas vezes mais necessitada de espaço que seus parentes australopitecos. Quando um consumo moderado de carne é incluído, a área exigida fica dez vezes maior.
"Nosso modelo pressupõe apenas um aumento muito modesto na alimentação de origem animal, que corresponderia a cerca de 30% da dieta", diz Leonard.
Para o antropólogo, a mudança climática pode ter estado na raiz das mudanças alimentares e morfológicas da humanidade primitiva. "A África estava passando por um período de seca que diminuiu as florestas e abriu espaço para as savanas. Dessa forma, menos comida vegetal ficou disponível. O Homo erectus, aparentemente, começou a incorporar essa rica alimentação animal em sua dieta", especula o pesquisador.
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