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15/01/2003 - 09h03

Herbicida de transgênico perde eficácia

ANDREW POLLACK
do "The New York Times"

As lavouras transgênicas mais plantadas no mundo —soja, algodão, milho e canola criados para resistir a um dado herbicida— estão enfrentando um novo desafio para seu uso no futuro. O herbicida, conhecido como Roundup, está perdendo eficiência no controle de ervas daninhas.

Nos últimos anos, ervas daninhas resistentes ao herbicida têm surgido nos Estados americanos de Delaware, Maryland, Califórnia, Tennessee, Ohio e Indiana.

O problema, dizem agrônomos, é o próprio sucesso das plantas geneticamente modificadas, em particular a soja, que hoje responde por três quartos de toda a soja plantada nos EUA. Os agricultores gostam dos transgênicos, conhecidos como Roundup Ready, porque podem pulverizar o herbicida diretamente sobre a lavoura.

Mas a popularidade dessas plantas fez o uso do Roundup explodir, armando um cenário no qual as raras ervas daninhas que sobrevivem ao herbicida podem florescer. Futuramente, os agricultores terão de reduzir o uso de cultivares transgênicas para preservar sua utilidade a longo prazo.

"A longo prazo, o que vai acontecer é um afastamento do uso contínuo de sementes Roundup Ready", disse Mark J. VanGessel, da Universidade de Delaware.

A resistência ocorre hoje em poucas ervas daninhas, dizem os agrônomos, e é possível usar outros herbicidas para matá-las.

Mas alguns cientistas se preocupam com o espalhamento da resistência, o que tornaria o glifosato —nome genérico do Roundup— menos útil. Seria um problema para os agricultores, porque esse composto é de longe o mais popular do gênero no mundo. É relativamente inofensivo ao ambiente e evita a aragem que contribui para a erosão do solo.

Especialistas em ervas daninhas dizem que pode ser difícil achar bons substitutos, em parte porque o sucesso do Roundup acabou com os lucros dos outros herbicidas, o que fez com que as indústrias agroquímicas reduzissem investimentos em desenvolvimento de novos produtos.

Carro-chefe
As ervas daninhas resistentes podem também ser um problema para a gigante agroquímica Monsanto, que desenvolveu o Roundup e as plantas Roundup Ready.

O Roundup é o principal produto da Monsanto. As plantas Roundup Ready, carro-chefe do setor de biotecnologia da empresa, renderam US$ 470 milhões em 2002.

Os executivos da empresa dizem que a resistência não é um problema significativo. "A realidade é, e os fatos são, um, que a resistência ao glifosato é rara, e dois, ela é bastante manejável nos lugares do mundo onde ocorreu", disse Kerry Preete, responsável pelo mercado doméstico.

Para o biólogo Francisco Aragão, que desenvolve plantas transgênicas na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a resistência ao glifosato é um fenômeno esperado. "Ela acontece até no Brasil, onde o herbicida é usado em soja convencional."

O problema, diz Aragão, é que, no caso de plantas transgênicas, é preciso desenvolver sementes que resistam a outros herbicidas, "para dar ao agricultor a oportunidade de fazer rotação de culturas".

O encontro da Sociedade de Ervas Daninhas da América, no mês que vem, deve debater o uso excessivo do Roundup e talvez recomende limitações, disse o presidente da sociedade, Ian Heap.

E os concorrentes da Monsanto vêem uma oportunidade para empurrar os próprios produtos como alternativas aos da empresa. A Syngenta está recomendando aos fazendeiros que não plantem milho Roundup Ready se já estiverem plantando soja.

Colaborou a Folha de S.Paulo
 

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