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17/01/2003
-
09h34
Editor-assistente de Ciência da Folha de S.Paulo
O sonho de usar células-tronco de embriões para curar diabetes vai ter de esperar. Um grupo de pesquisadores da Universidade Harvard (EUA) descobriu que células que se achava terem sido transformadas para produzir o hormônio que falta em portadores da doença estavam, na verdade, absorvendo-o do ambiente e secretando-o depois.
O truque celular foi descoberto pela equipe do médico indiano Jerry Rajagopal e denunciado na edição de hoje da revista "Science" (www.sciencemag.org). "Foi uma surpresa para nós, pois trata-se de um fenômeno novo", afirmou. Apesar de não achar que isso seja um golpe mortal nas pesquisas, Rajagopal diz que os estudiosos vão precisar descobrir um novo método para transformar células-tronco em células produtoras desse hormônio, a insulina.
Células-tronco embrionárias são uma grande promessa da medicina porque têm a capacidade de se transformar em virtualmente qualquer tipo de tecido no organismo. Em tese, seria possível programá-las para recompor cérebros, corações e fígados, por exemplo. Doenças degenerativas como o mal de Alzheimer, no qual células do cérebro morrem, poderiam ser tratadas com um implante dessas células multiuso.
Portadores de diabetes têm um defeito no pâncreas que faz com que eles produzam pouca ou nenhuma insulina, hormônio que ajuda as células a absorver açúcar. Os cientistas têm tentado usar células-tronco para produzir as chamadas ilhotas de Langerhans, células produtoras de insulina.
Embora nenhum ser humano tenha recebido esse tipo de tratamento ainda, vários estudos têm demonstrado que células-tronco de embrião podem ser programadas para produzir o hormônio.
Para testar o sucesso da transformação, os cientistas misturam-nas a um anticorpo —molécula que reage com a insulina.
O que o grupo de Rajagopal descobriu foi que essa reação não garante o "pedigree" das ilhotas. Como a insulina é usada no laboratório para estimular a diferenciação das células-tronco, elas simplesmente absorvem o hormônio do meio de cultura e secretam-no aos poucos —dando a impressão de que são as suas verdadeiras produtoras.
Os médicos de Harvard desmascararam as falsas ilhotas cultivando-as num meio pobre em insulina. "Ninguém esperava que isso pudesse acontecer. E não sabemos bem como acontece", contou Rajagopal. "Mas os implantes de ilhotas feitos em camundongos terão de ser revistos."
Não é que a diferenciação não aconteça. "Havia células genuínas, mas em quantidade muito pequena, não o bastante para produzir insulina em quantidade [terapêutica]", afirmou. Mesmo assim, o pesquisador se disse animado com o potencial das células embrionárias. "As perspectivas são grandes."
Células-tronco enganam pesquisadores
CLAUDIO ANGELOEditor-assistente de Ciência da Folha de S.Paulo
O sonho de usar células-tronco de embriões para curar diabetes vai ter de esperar. Um grupo de pesquisadores da Universidade Harvard (EUA) descobriu que células que se achava terem sido transformadas para produzir o hormônio que falta em portadores da doença estavam, na verdade, absorvendo-o do ambiente e secretando-o depois.
O truque celular foi descoberto pela equipe do médico indiano Jerry Rajagopal e denunciado na edição de hoje da revista "Science" (www.sciencemag.org). "Foi uma surpresa para nós, pois trata-se de um fenômeno novo", afirmou. Apesar de não achar que isso seja um golpe mortal nas pesquisas, Rajagopal diz que os estudiosos vão precisar descobrir um novo método para transformar células-tronco em células produtoras desse hormônio, a insulina.
Células-tronco embrionárias são uma grande promessa da medicina porque têm a capacidade de se transformar em virtualmente qualquer tipo de tecido no organismo. Em tese, seria possível programá-las para recompor cérebros, corações e fígados, por exemplo. Doenças degenerativas como o mal de Alzheimer, no qual células do cérebro morrem, poderiam ser tratadas com um implante dessas células multiuso.
Portadores de diabetes têm um defeito no pâncreas que faz com que eles produzam pouca ou nenhuma insulina, hormônio que ajuda as células a absorver açúcar. Os cientistas têm tentado usar células-tronco para produzir as chamadas ilhotas de Langerhans, células produtoras de insulina.
Embora nenhum ser humano tenha recebido esse tipo de tratamento ainda, vários estudos têm demonstrado que células-tronco de embrião podem ser programadas para produzir o hormônio.
Para testar o sucesso da transformação, os cientistas misturam-nas a um anticorpo —molécula que reage com a insulina.
O que o grupo de Rajagopal descobriu foi que essa reação não garante o "pedigree" das ilhotas. Como a insulina é usada no laboratório para estimular a diferenciação das células-tronco, elas simplesmente absorvem o hormônio do meio de cultura e secretam-no aos poucos —dando a impressão de que são as suas verdadeiras produtoras.
Os médicos de Harvard desmascararam as falsas ilhotas cultivando-as num meio pobre em insulina. "Ninguém esperava que isso pudesse acontecer. E não sabemos bem como acontece", contou Rajagopal. "Mas os implantes de ilhotas feitos em camundongos terão de ser revistos."
Não é que a diferenciação não aconteça. "Havia células genuínas, mas em quantidade muito pequena, não o bastante para produzir insulina em quantidade [terapêutica]", afirmou. Mesmo assim, o pesquisador se disse animado com o potencial das células embrionárias. "As perspectivas são grandes."
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