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29/01/2003
-
09h03
Editor-assistente de Ciência da Folha de S.Paulo
Um grupo de mais de 2.000 cientistas de todo o planeta está começando o maior inventário já feito dos bens e serviços fornecidos de graça ao homem pelos ecossistemas da Terra. No Brasil, campeão mundial de biodiversidade, o ponto de partida para o trabalho é um local inusitado: a zona metropolitana de São Paulo.
A chamada Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, que abrange 17 mil km2 em 73 municípios, é uma das quatro áreas da América do Sul escolhidas para a fase inicial da Avaliação Ecossistêmica do Milênio --que tem o objetivo pouco modesto de descobrir tudo sobre a saúde do planeta até 2005.
Iniciada em 2001, a avaliação é um esforço conjunto de diversas agências da ONU, da Fundação das Nações Unidas e de ONGs como a IUCN (União Mundial para a Conservação da Natureza).
Segundo um de seus coordenadores, Robert T. Watson, cientista-chefe do Banco Mundial, a idéia é produzir relatórios sobre o estado dos ecossistemas que possam ser usados para orientar políticas públicas --nos moldes do que já vem sendo feito sobre o aquecimento global pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática).
Como não dá para começar com o planeta inteiro, foram escolhidas 20 áreas-piloto para o estudo inicial. Na América do Sul, os trabalhos começarão com a cordilheira de Vilcanota, no Peru, o deserto de Atacama, no Chile, a zona cafeeira da Colômbia e o cinturão verde de São Paulo.
Considerando o potencial de regiões como a Amazônia e o Pantanal, parece estranho começar por uma das áreas mais degradadas do país. Mas, para o engenheiro florestal Rodrigo Victor, 31, do Instituto Florestal de São Paulo, coordenador da reserva, o ponto de partida faz sentido.
"A avaliação vai ser feita levando em conta a capacidade do ecossistema de fornecer bens e serviços para a humanidade", diz Victor. "Geralmente, quando se fala em ecossistemas, pensamos em espécies ameaçadas. No Milênio, a abordagem é assumidamente antropocêntrica."
Por bens e serviços de ecossistemas entenda-se o conjunto de valores que nem sempre são computados por economistas e governantes antes de decidir, por exemplo, construir uma estrada, ou preservar um trecho de mata.
Na categoria desses "bens" incluem-se água, madeira e alimentos. A água consumida por quase 20 milhões de pessoas na zona metropolitana de São Paulo é fornecida por rios e reservatórios do cinturão verde. Também ao redor da cidade estão as pequenas propriedades que fornecem hortifrutigranjeiros para a metrópole.
Editoria de Arte/Folha Imagem![](http://www.uol.com.br/folha/ciencia/images/reserva_biosfera.gif)
Ar condicionado
A categoria "serviços" é mais escorregadia. Embora não haja dados precisos sobre os serviços prestados pelo cinturão verde, os cientistas suspeitam que, se não fosse o anel de mata em torno de São Paulo, o calor na cidade seria insuportável. Estudo clássico feito em 1985 pela geógrafa Magda Lombardo, da Unesp, constatou uma diferença de temperatura de até 10ºC entre o centro da cidade e as matas da serra da Cantareira.
O fenômeno foi batizado por Lombardo de "ilhas de calor". Ninguém sabe exatamente qual seria o efeito da retirada da vegetação do entorno da cidade --uma das tarefas da Avaliação do Milênio é justamente construir cenários e projetar o que acontece com a região metropolitana após graus diferentes de comprometimento dos serviços ambientais. O que já se sabe é que as ilhas de calor alteram o regime de chuvas.
"Chove mais durante a semana do que no fim de semana, quando há menos carros circulando", diz Victor. Um provável serviço indireto da vegetação, portanto, é controlar enchentes. O pesquisador espera ter esse e outros serviços mapeados até o fim do ano.
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CLAUDIO ANGELOEditor-assistente de Ciência da Folha de S.Paulo
Um grupo de mais de 2.000 cientistas de todo o planeta está começando o maior inventário já feito dos bens e serviços fornecidos de graça ao homem pelos ecossistemas da Terra. No Brasil, campeão mundial de biodiversidade, o ponto de partida para o trabalho é um local inusitado: a zona metropolitana de São Paulo.
A chamada Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, que abrange 17 mil km2 em 73 municípios, é uma das quatro áreas da América do Sul escolhidas para a fase inicial da Avaliação Ecossistêmica do Milênio --que tem o objetivo pouco modesto de descobrir tudo sobre a saúde do planeta até 2005.
Iniciada em 2001, a avaliação é um esforço conjunto de diversas agências da ONU, da Fundação das Nações Unidas e de ONGs como a IUCN (União Mundial para a Conservação da Natureza).
Segundo um de seus coordenadores, Robert T. Watson, cientista-chefe do Banco Mundial, a idéia é produzir relatórios sobre o estado dos ecossistemas que possam ser usados para orientar políticas públicas --nos moldes do que já vem sendo feito sobre o aquecimento global pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática).
Como não dá para começar com o planeta inteiro, foram escolhidas 20 áreas-piloto para o estudo inicial. Na América do Sul, os trabalhos começarão com a cordilheira de Vilcanota, no Peru, o deserto de Atacama, no Chile, a zona cafeeira da Colômbia e o cinturão verde de São Paulo.
Considerando o potencial de regiões como a Amazônia e o Pantanal, parece estranho começar por uma das áreas mais degradadas do país. Mas, para o engenheiro florestal Rodrigo Victor, 31, do Instituto Florestal de São Paulo, coordenador da reserva, o ponto de partida faz sentido.
"A avaliação vai ser feita levando em conta a capacidade do ecossistema de fornecer bens e serviços para a humanidade", diz Victor. "Geralmente, quando se fala em ecossistemas, pensamos em espécies ameaçadas. No Milênio, a abordagem é assumidamente antropocêntrica."
Por bens e serviços de ecossistemas entenda-se o conjunto de valores que nem sempre são computados por economistas e governantes antes de decidir, por exemplo, construir uma estrada, ou preservar um trecho de mata.
Na categoria desses "bens" incluem-se água, madeira e alimentos. A água consumida por quase 20 milhões de pessoas na zona metropolitana de São Paulo é fornecida por rios e reservatórios do cinturão verde. Também ao redor da cidade estão as pequenas propriedades que fornecem hortifrutigranjeiros para a metrópole.
Editoria de Arte/Folha Imagem
![](http://www.uol.com.br/folha/ciencia/images/reserva_biosfera.gif)
Ar condicionado
A categoria "serviços" é mais escorregadia. Embora não haja dados precisos sobre os serviços prestados pelo cinturão verde, os cientistas suspeitam que, se não fosse o anel de mata em torno de São Paulo, o calor na cidade seria insuportável. Estudo clássico feito em 1985 pela geógrafa Magda Lombardo, da Unesp, constatou uma diferença de temperatura de até 10ºC entre o centro da cidade e as matas da serra da Cantareira.
O fenômeno foi batizado por Lombardo de "ilhas de calor". Ninguém sabe exatamente qual seria o efeito da retirada da vegetação do entorno da cidade --uma das tarefas da Avaliação do Milênio é justamente construir cenários e projetar o que acontece com a região metropolitana após graus diferentes de comprometimento dos serviços ambientais. O que já se sabe é que as ilhas de calor alteram o regime de chuvas.
"Chove mais durante a semana do que no fim de semana, quando há menos carros circulando", diz Victor. Um provável serviço indireto da vegetação, portanto, é controlar enchentes. O pesquisador espera ter esse e outros serviços mapeados até o fim do ano.
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