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15/02/2003 - 09h57

Evento científico lança idéia de um "médico artificial"

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo, em Denver

Um clima de novidade marcou a abertura da 169ª Reunião Anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência, na sigla em inglês) anteontem. Em cena entra o médico artificial e para os bastidores vai a noção de que a biologia molecular é o Santo Graal da medicina.

No discurso inaugural do evento, tido como a maior reunião científica do mundo, o presidente da entidade, Floyd Bloom, resolveu seguir à risca o tema da conferência, "Ciência como um Modo de Vida", e se concentrou no assunto que mais afeta a vida das pessoas: medicina.

Bloom lançou algumas idéias sobre o que será da ciência médica _mais que isso, do atendimento médico_ no futuro. A bola da vez, para ele, é a inteligência artificial aplicada à medicina.

"Imaginem uma máquina-doutor automática", arriscou Bloom, que é neurobiólogo, arrancando alguns risos da platéia. "Não riam. Quando foi a última vez que vocês foram ao banco para resolver suas pendências bancárias?"

Bloom apresentou o médico artificial como uma das soluções potenciais para o que considera uma situação insustentável: a do sistema de saúde nos EUA. Com custo estimado de US$ 1,2 trilhão em 2002, os instrumentos que garantem o atendimento dos americanos estão longe de satisfatórios.

Bloom citou o lendário programa de computador Eliza, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), que era capaz de imitar o comportamento de uma pessoa (uma psicóloga) e fazer com que pessoas interagindo com a máquina acreditassem estar falando com um ser humano.

Para o presidente da AAAS, um médico artificial programado com um vasto banco de dados de tratamentos, sintomas, doenças e medicamentos talvez seja uma solução para melhorar o atendimento e reduzir os custos do inchado sistema de saúde.

A ênfase do discurso de Bloom, neurocientista do Instituto de Pesquisa Scripps e ex-editor-chefe da "Science" (publicação científica da AAAS), recaiu sobre o ritmo em que a ciência caminha.

O melhor paradigma para isso é a biologia molecular, impulsionada, entre outras coisas, pela febre da decifração do genoma humano. Bloom demonstra todo o seu entusiasmo pela descoberta, enumerando algumas das grandes revelações de 2002 sobre doenças como mal de Alzheimer, esquizofrenia e câncer feitas com a ajuda de análises genéticas.

Em compensação, ele é rápido em dizer que até agora as descobertas serviram mais para que os cientistas entendam melhor essas doenças do que para criar meios de combatê-la. E esse entendimento mais profundo tem um gosto amargo: os problemas são em geral muito complexos, envolvendo várias interações de genes —o que torna ainda mais difícil imaginar como vencê-los.

Bloom também foi crítico com o determinismo genético, citando experimentos recentes que mostram que o ambiente pode ter impactos marcantes nos indivíduos, que não só não têm nada a ver com a genética como também, acredite se quiser, podem ser transmitidos aos descendentes.

Ele cita, por exemplo, uma pesquisa sobre camundongos fêmeas que, quando filhotes, tiveram uma mãe pouco atenciosa e também se tornaram pouco atenciosos quando chegou a sua vez de cuidar da própria prole. E o traço comportamental persiste por pelo menos três gerações.

A Reunião Anual da AAAS vai até a próxima quinta-feira em Denver, no Colorado (EUA) e deve contar com mais de 5.000 participantes. É a quinta vez que o evento é realizado em Denver (a primeira foi em 1901). Entre os temas quentes da conferência devem estar genética, genômica, nanotecnologia, medicina, astronomia e ciências da Terra.
 

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