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15/03/2003 - 07h46

Cientistas vêem água corrente em Marte

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

O monte Olimpo, que já era uma das regiões mais famosas de Marte, está a ponto de se tornar ainda mais célebre. Afinal, suas encostas são agora o palco de um fenômeno que os cientistas há anos queriam ver no planeta vermelho: água em estado líquido correndo pela superfície.

Dois estudos independentes apontaram a mesma conclusão, a partir da análise de imagens da sonda Mars Global Surveyor que mostram traços muito recentes na superfície do planeta. Numa foto de 1998, eles não existiam. Em 2001, já estavam lá. São os primeiros sinais de que a água ocasionalmente ainda entrecorta o solo marciano, pelo menos por alguns breves períodos de tempo.

A desconfiança de que isso acontecia já vinha crescendo entre os cientistas desde 2000, conforme dados obtidos pela mesma sonda foram revelando formações no solo que teriam sido produzidas por erosões recentes, causadas por água em estado líquido. Mas esses sinais tinham pelo menos alguns milhares de anos.

No ano passado, dados da sonda Mars Odyssey mostraram enormes quantidades de água congelada recobertas por menos de um metro de terra, sob a superfície. Depois disso, faltava só testemunhar um desses reservatórios congelados se tornar líquido e escorrer pelo solo avermelhado para que os cientistas pudessem abrir a primeira champanhe.

É onde entra o monte Olimpo, gigante de 27 km de altitude (o equivalente a três Everests e meio) que herdou seu nome do mítico lar dos deuses gregos. Néctar e ambrosia ainda não são servidos por lá, mas água _um bem mais precioso por sua conexão com a vida, em se tratando de Marte_ já está disponível. É o que mostrará na semana que vem Tahirih Motazedian, durante a 34º Conferência de Ciência Lunar e Planetária, em Houston.

Em seu estudo, ela apresentará diversas imagens obtidas pela Surveyor dos mesmos lugares, mas em diferentes épocas. As sequências demonstram o surgimento de tracejados negros que, segundo ela, foram escavados por água. "As dimensões das linhas negras tipicamente vão de 10 a 60 metros de largura por 300 a 1.500 metros de comprimento", ela diz.

Além de analisar a rapidez com que elas ocorrem, ela também fez comparações de dinâmica de fluidos e estudos de fundo químico, concluindo que a água deve ser bastante salgada, o que não surpreende pesquisadores.

Outro estudo, realizado independentemente, chegou às mesmas conclusões. Analisando imagens parecidas, Justin Ferris, da Geological Survey dos EUA, e seus colegas na Universidade do Arizona apresentaram os resultados no final do ano passado. "Muitos dos mecanismos que sugerimos estão presentes no estudo de Motazedian", diz Ferris.

Ele se anima com o fato de os dois estudos apontarem as mesmas coisas, embora um pesquisador não tenha ouvido falar do outro. "É muito empolgante para mim e meu grupo de pesquisa. Se dois cientistas chegam à mesma conclusão independentemente, isso a torna muito mais forte."

Claro, ainda há teorias alternativas _em geral mais complicadas_ para explicar o fenômeno. "Estamos sem dúvida progredindo", diz Ferris. "Mas para dizer que estamos fechando a questão da água em Marte, só mesmo quando estivermos lá, com máquinas ou humanos."

Embora aponte que, em alguns anos, sondas robóticas poderão fazer todo o trabalho que hoje só poderia ser conduzido por humanos, Ferris ainda acha melhor ir ao planeta vermelho pessoalmente. "E a principal razão para ir a Marte é porque ele está lá. Nada substitui o efeito que a exploração espacial tem de fazer nos sentirmos como uma só espécie. Lá de cima, a Terra é uma só."
 

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