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23/03/2003 - 15h02

Descoberta da estrutura do DNA é o principal tema de seminário

MARCELO LEITE
editor de Ciência DA Folha de S.Paulo

Entre as várias comemorações no Reino Unido dos 50 anos da descoberta da estrutura do DNA por James Watson e Francis Crick, o British Council reuniu 26 pessoas de 17 países em Newcastle, entre os dias 10 e 14 últimos, no seminário "Explorando o Conhecimento Genético". Um dos temas mais debatidos foi a democratização dos sucessos da biologia molecular e em que medida a iniciativa privada a favorece ou dificulta.

Sir John Sulston, por exemplo, Nobel de Medicina em 2002, desancou a tentativa de "privatizar" o genoma humano. Na sua versão, ela foi capitaneada pela firma americana Celera no final dos anos 90. Com aparente satisfação, sir John contou como a iniciativa de que participou, o consórcio internacional Projeto Genoma Humano (dominado por instituições públicas como universidades e fundações), acabou ganhando a parada.

O PGH prossegue com o trabalho de acabamento da sequência (transcrição) de todas as letras do DNA da espécie. Já a Celera abandonou progressivamente a exploração comercial de informações genéticas, livrando-se do polêmico cientista-empresário Craig Venter, antes um prolífico patenteador de genes humanos.

De certo modo, foi como chutar um animal desfalecido (embora Venter permaneça muito vivo, vendendo a idéia de soletrar o genoma de pessoas físicas por US$ 700 mil). Funcionou, porém, como contraponto para a perspectiva privatista de outros conferencistas, biólogos migrados para empresas de biotecnologia.

A democratização da genética não vive só de resistência, contudo. Como é mais típico da Europa do que da América, foram apresentadas várias iniciativas em que setores do público tentam exercer algum controle sobre sua aplicação.

Uma das mais criativas é a idéia de ampliar o controle de qualidade conhecido como "peer review" (revisão pelos pares, que designa a praxe de remeter trabalhos científicos, antes da publicação, para exame de especialistas desvinculados do grupo que realizou a pesquisa). Ela está sendo posta em prática pela Sociedade de Alzheimer do Reino Unido, organização sem fins lucrativos que despende 2 milhões de libras esterlinas (R$ 10,8 milhões) anualmente com pesquisas sobre a demência senil, doença com considerável componente hereditária.

Trata-se do programa Pesquisa de Qualidade em Demência (www.qrd.ion.ucl.ac.uk), que de certo modo inverteu o sistema tradicional de seleção de projetos de pesquisa para financiamento. A noção de base é que a comunidade de pacientes, familiares e profissionais de saúde diretamente afetados pelo mal de Alzheimer tem algo a dizer sobre as pesquisas que gostaria de ver realizadas.

O programa não dispensa a "peer review", apenas a acopla com um sistema paralelo. Para começar, toda proposta de pesquisa tem de ser submetida em termos compreensíveis por leigos -o que deve deixar muitos cientistas de cabelos em pé, mas não a ponto de fazer com que desistam dessa fonte de financiamento.

Num primeiro passo, uma rede de 150 leigos montada pela Sociedade Alzheimer faz uma pré-seleção das pesquisas prioritárias para a comunidade. Entram então em cena os especialistas, para examinar o mérito científico das propostas pré-selecionadas, mas sem ter a palavra final. Ela só é proferida por um painel de concessão de verbas que é paritário (metade cientistas, metade leigos).
Parece populismo, mas não é.

O jornalista Marcelo Leite cursou o seminário "Explorando o Conhecimento Genético" em Newcastle-upon-Tyne (Reino Unido) com patrocínio do British Council

E-mail: cienciaemdia@uol.com.br
 

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