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30/03/2003
-
07h07
editor de Ciência da Folha de S.Paulo
O que têm em comum o empresário Gordon "Intel" Moore e o ator Harrison "Indiana Jones" Ford, além do talento para ganhar milhões e milhões de dólares? A capacidade de doar uma certa parte deles para a preservação ambiental, mais precisamente para a organização não-governamental Conservation International (CI), que acaba de lançar no Brasil "Wilderness" (Grandes Regiões Naturais), o terceiro de uma série luxuosa de livros que não fariam feio numa mesa de centro de rancho algum nas Rochosas ou na Patagônia.
Fica para outras pessoas a discussão das implicações morais (ou moralistas) desse estilo de ambientalismo. O fato é que, luxuosos ou não, os mais de 5 kg e as 576 págs. não têm só centenas de fotografias de embasbacar quem se disponha a desembolsar os US$ 75,00 (mais de R$ 250,00) pelo "coffee-table book" de 35 cm por 30 cm, mas também muita informação e substância para reflexão.
Os irmãos mais velhos do volume, "Megadiversity" (Megadiversidade) e "Hotspots" (Áreas Prioritárias de Biodiversidade), seguem o mesmo princípio: mapeamento de áreas de interesse biológico no mundo todo, segundo um conjunto de critérios, para influenciar políticas públicas nacionais e internacionais de conservação de áreas naturais.
No caso de "Megadiversity", foram identificados países com maior concentração de espécies. Brasil e Indonésia ficaram no topo da lista. O catatau, financiado pelo grupo mexicano de cimento Cemex, está esgotado e sob risco de tornar-se item para colecionadores -além de ser citado com frequência, pela meticulosidade do levantamento.
"Hotspots" destacou biomas com grande quantidade de espécies únicas
(endemismo) sob ameaça. O conceito havia sido formulado uma década antes pelo ecólogo britânico Norman Myers e ganhou roupa nova com o levantamento da CI (www.conservation.org), sob o comando de Russell Mittermeier. Virou capa da revista científica "Nature" e, de novo, referência comum quando se trata de debater prioridades para conservação (do Brasil, figuram na lista a mata atlântica e o cerrado).
Agora, "Wilderness" repete a dose destacando áreas segundo o critério da extensão (no mínimo 10 mil km2), da baixa densidade populacional (menor que 5 habitantes/ km2) e da conservação (pelo menos 70% de vegetação intacta). Foram dois anos de trabalho, com o envolvimento de 200 autores.
Não deu outra: Amazônia na cabeça, com 6,7 milhões de km2 (dos quais cerca de 5 milhões no Brasil) e 40 mil espécies de plantas (30 mil endêmicas). É a maior extensão de floresta tropical em bom estado, com uma relação custo/ benefício para conservação muito favorável.
Outras regiões campeãs são a ilha da Nova Guiné, as florestas do Congo, as de Miombo Mopane, também na África, assim como as pradarias do sul do continente, e a os desertos da América do Norte. São 11,8 milhões de km2 (6,1% da superfície terrestre, ou cerca de um Brasil e meio), que abrigam 17% das espécies de plantas endêmicas do mundo.
Um quarto volume da série está em preparação, "Spectacle" (Espetáculo), sobre grandes concentrações de espécies animais, de formigas a borboletas e pinguins. Será mais um livro de impacto visual, decerto, mas é difícil enxergar nele uma vocação para a repercussão científica, como foi o caso dos dois primeiros. Mas, se ajudar a CI a levantar entre as celebridades outros US$ 200 milhões de fundos para conservação (além dos que já administra), que mal pode causar?
E-mail: cienciaemdia@uol.com.br
Ambiente de luxo
Marcelo Leiteeditor de Ciência da Folha de S.Paulo
O que têm em comum o empresário Gordon "Intel" Moore e o ator Harrison "Indiana Jones" Ford, além do talento para ganhar milhões e milhões de dólares? A capacidade de doar uma certa parte deles para a preservação ambiental, mais precisamente para a organização não-governamental Conservation International (CI), que acaba de lançar no Brasil "Wilderness" (Grandes Regiões Naturais), o terceiro de uma série luxuosa de livros que não fariam feio numa mesa de centro de rancho algum nas Rochosas ou na Patagônia.
Fica para outras pessoas a discussão das implicações morais (ou moralistas) desse estilo de ambientalismo. O fato é que, luxuosos ou não, os mais de 5 kg e as 576 págs. não têm só centenas de fotografias de embasbacar quem se disponha a desembolsar os US$ 75,00 (mais de R$ 250,00) pelo "coffee-table book" de 35 cm por 30 cm, mas também muita informação e substância para reflexão.
Os irmãos mais velhos do volume, "Megadiversity" (Megadiversidade) e "Hotspots" (Áreas Prioritárias de Biodiversidade), seguem o mesmo princípio: mapeamento de áreas de interesse biológico no mundo todo, segundo um conjunto de critérios, para influenciar políticas públicas nacionais e internacionais de conservação de áreas naturais.
No caso de "Megadiversity", foram identificados países com maior concentração de espécies. Brasil e Indonésia ficaram no topo da lista. O catatau, financiado pelo grupo mexicano de cimento Cemex, está esgotado e sob risco de tornar-se item para colecionadores -além de ser citado com frequência, pela meticulosidade do levantamento.
"Hotspots" destacou biomas com grande quantidade de espécies únicas
(endemismo) sob ameaça. O conceito havia sido formulado uma década antes pelo ecólogo britânico Norman Myers e ganhou roupa nova com o levantamento da CI (www.conservation.org), sob o comando de Russell Mittermeier. Virou capa da revista científica "Nature" e, de novo, referência comum quando se trata de debater prioridades para conservação (do Brasil, figuram na lista a mata atlântica e o cerrado).
Agora, "Wilderness" repete a dose destacando áreas segundo o critério da extensão (no mínimo 10 mil km2), da baixa densidade populacional (menor que 5 habitantes/ km2) e da conservação (pelo menos 70% de vegetação intacta). Foram dois anos de trabalho, com o envolvimento de 200 autores.
Não deu outra: Amazônia na cabeça, com 6,7 milhões de km2 (dos quais cerca de 5 milhões no Brasil) e 40 mil espécies de plantas (30 mil endêmicas). É a maior extensão de floresta tropical em bom estado, com uma relação custo/ benefício para conservação muito favorável.
Outras regiões campeãs são a ilha da Nova Guiné, as florestas do Congo, as de Miombo Mopane, também na África, assim como as pradarias do sul do continente, e a os desertos da América do Norte. São 11,8 milhões de km2 (6,1% da superfície terrestre, ou cerca de um Brasil e meio), que abrigam 17% das espécies de plantas endêmicas do mundo.
Um quarto volume da série está em preparação, "Spectacle" (Espetáculo), sobre grandes concentrações de espécies animais, de formigas a borboletas e pinguins. Será mais um livro de impacto visual, decerto, mas é difícil enxergar nele uma vocação para a repercussão científica, como foi o caso dos dois primeiros. Mas, se ajudar a CI a levantar entre as celebridades outros US$ 200 milhões de fundos para conservação (além dos que já administra), que mal pode causar?
E-mail: cienciaemdia@uol.com.br
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