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23/04/2003
-
09h50
Editor-assistente de Ciência da Folha de S.Paulo
O vírus causador da pneumonia asiática deve entrar, ao lado do HIV, do Ebola e da febre amarela, para a enorme galeria dos patógenos assassinos que saíram da natureza e atingiram seres humanos.
Estudos genéticos mostram, no entanto, que ele não pertence a uma outra classe -a dos assassinos mutantes. E isso pode ser uma boa notícia.
Segundo pesquisadores que estudam a evolução do parasita, cujo nome oficial é "coronavírus Urbani Sars-associado", a mais nova dor de cabeça da humanidade parasitava algum animal -possivelmente uma ave- na China e, por alguma razão, "pulou" a barreira de espécies.
"Esse vírus é antigo e é uma zoonose", diz o virologista Paolo Zanotto, da USP, que está preparando um diagnóstico molecular da pneumonia.
Essa antiguidade pode significar que o causador da doença, também conhecida como Sars (sigla em inglês para síndrome respiratória aguda grave), não sofre mutações com tanta facilidade.
Isso é tudo o que esperam órgãos como os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA, que correm atrás de uma vacina para a doença.
Quanto mais facilmente um vírus sofre mutações, ou seja, trocas ou perdas de "letras" químicas nos seus genes, mais difícil é a obtenção de vacinas eficientes.
O caso clássico de vírus tornado assassino por uma mutação é o da gripe de 1918, a chamada gripe espanhola. Ela matou cerca de 20 milhões de pessoas.
Assim como o agente causador da Sars, o vírus da gripe espanhola surgiu na China, país com uma grande população rural, onde porcos e aves costumam ser criados juntos e perto demais de humanos.
O que o tornou um matador tão eficiente foi uma recombinação: genes de uma linhagem de vírus da gripe de patos e de uma linhagem de vírus de porcos se misturaram, dando origem a um patógeno contra o qual seres humanos simplesmente não tinham defesa.
Assim como o influenza, vírus causador da gripe, os coronavírus (que, em humanos, costumam causar apenas resfriados) são sujeitos a recombinação. Mas esse não parece ser o caso do coronavírus da Sars.
"As análises feitas com diferentes genes sequenciados até o momento indicam que esse não parece ser um recombinante", disse à Folha a médica Teresa Peret, dos CDC (Centros para Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA, uma brasileira que integrou a equipe que identificou o vírus.
Cientistas chineses estão tentando, agora, descobrir de que animal o novo coronavírus saltou para os humanos. Identificar essa espécie -o reservatório, na linguagem técnica- é importante para quebrar a cadeia de transmissão da epidemia.
Segundo Zanotto, o animal que se procura é muito provavelmente uma ave.
Para o cientista, o coronavírus Urbani pode ter um calcanhar-de-aquiles: o tamanho de seu genoma. Com 29 mil pares de "letras", é um dos maiores genomas de vírus de RNA conhecidos.
"Para ter um genoma desse tamanho, ele precisa de grande fidelidade de replicação", afirma Zanotto. Ou seja: algum mecanismo genético que faça a partícula produzir cópias de si mesma sem muitas trocas de "letras" no RNA.
Isso pode ser uma boa coisa, avalia, já que a tendência do vírus seria a de mudar pouco, facilitando a produção de uma vacina. "Existem no mercado vacinas para coronavírus de aves e cachorros.
E elas funcionam bem", afirmou o pesquisador da USP.
Vírus da pneumonia asiática é pouco variável, afirmam cientistas
CLAUDIO ANGELOEditor-assistente de Ciência da Folha de S.Paulo
O vírus causador da pneumonia asiática deve entrar, ao lado do HIV, do Ebola e da febre amarela, para a enorme galeria dos patógenos assassinos que saíram da natureza e atingiram seres humanos.
Estudos genéticos mostram, no entanto, que ele não pertence a uma outra classe -a dos assassinos mutantes. E isso pode ser uma boa notícia.
Segundo pesquisadores que estudam a evolução do parasita, cujo nome oficial é "coronavírus Urbani Sars-associado", a mais nova dor de cabeça da humanidade parasitava algum animal -possivelmente uma ave- na China e, por alguma razão, "pulou" a barreira de espécies.
"Esse vírus é antigo e é uma zoonose", diz o virologista Paolo Zanotto, da USP, que está preparando um diagnóstico molecular da pneumonia.
Essa antiguidade pode significar que o causador da doença, também conhecida como Sars (sigla em inglês para síndrome respiratória aguda grave), não sofre mutações com tanta facilidade.
Isso é tudo o que esperam órgãos como os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA, que correm atrás de uma vacina para a doença.
Quanto mais facilmente um vírus sofre mutações, ou seja, trocas ou perdas de "letras" químicas nos seus genes, mais difícil é a obtenção de vacinas eficientes.
O caso clássico de vírus tornado assassino por uma mutação é o da gripe de 1918, a chamada gripe espanhola. Ela matou cerca de 20 milhões de pessoas.
Assim como o agente causador da Sars, o vírus da gripe espanhola surgiu na China, país com uma grande população rural, onde porcos e aves costumam ser criados juntos e perto demais de humanos.
O que o tornou um matador tão eficiente foi uma recombinação: genes de uma linhagem de vírus da gripe de patos e de uma linhagem de vírus de porcos se misturaram, dando origem a um patógeno contra o qual seres humanos simplesmente não tinham defesa.
Assim como o influenza, vírus causador da gripe, os coronavírus (que, em humanos, costumam causar apenas resfriados) são sujeitos a recombinação. Mas esse não parece ser o caso do coronavírus da Sars.
"As análises feitas com diferentes genes sequenciados até o momento indicam que esse não parece ser um recombinante", disse à Folha a médica Teresa Peret, dos CDC (Centros para Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA, uma brasileira que integrou a equipe que identificou o vírus.
Cientistas chineses estão tentando, agora, descobrir de que animal o novo coronavírus saltou para os humanos. Identificar essa espécie -o reservatório, na linguagem técnica- é importante para quebrar a cadeia de transmissão da epidemia.
Segundo Zanotto, o animal que se procura é muito provavelmente uma ave.
Para o cientista, o coronavírus Urbani pode ter um calcanhar-de-aquiles: o tamanho de seu genoma. Com 29 mil pares de "letras", é um dos maiores genomas de vírus de RNA conhecidos.
"Para ter um genoma desse tamanho, ele precisa de grande fidelidade de replicação", afirma Zanotto. Ou seja: algum mecanismo genético que faça a partícula produzir cópias de si mesma sem muitas trocas de "letras" no RNA.
Isso pode ser uma boa coisa, avalia, já que a tendência do vírus seria a de mudar pouco, facilitando a produção de uma vacina. "Existem no mercado vacinas para coronavírus de aves e cachorros.
E elas funcionam bem", afirmou o pesquisador da USP.
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