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28/05/2003
-
09h11
da Folha de S.Paulo
Um grupo de especialistas brasileiros está unindo forças para mostrar que pesquisa científica pode, sim, ser caso de polícia. Eles acabaram de desenvolver um método mais preciso e confiável para determinar se um suspeito de fato disparou uma arma --e qual.
O trabalho, realizado em conjunto por peritos do Instituto de Criminalística de São Paulo e por pesquisadores do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), será publicado na edição de julho do "Journal of Forensic Sciences" (journalsip.astm.org/ jofs/). Trata-se de uma publicação americana de renome internacional em ciências forenses --área do conhecimento ligada à obtenção de provas de origem técnica a partir de material coletado na cena do crime, ou entre os envolvidos na ocorrência.
O estudo é o primeiro do grupo a ganhar destaque, mas não será o último. Concebido a partir de um acordo assinado em 2000 pelo governador Geraldo Alckmin, estabelecendo a parceria entre a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo e o Ipen, o grupo é uma espécie de tropa de elite na área de ciências forenses.
Os estudos devem tornar o trabalho policial mais próximo do que se vê na série de TV "C.S.I.", transmitida no Brasil pela Sony, em que tecnologia e perícia legal se juntam na solução de crimes.
A técnica desenvolvida pelo grupo de Jorge Sarkis, do Ipen, e Osvaldo Negrini Neto, do Instituto de Criminalística, já está até tendo uso em investigações reais.
Coleta e análise
O método consiste em duas etapas. A primeira delas ocorre na coleta de material para análise. Para descobrir se um suspeito disparou uma arma, a melhor forma é tentar coletar em suas mãos resíduos do disparo --partículas de metais como chumbo, bário e antimônio são os traços mais comuns. Alguns procedimentos para isso, como o uso de fita adesiva ou esparadrapo para arrancar as partículas da pele, já estão ultrapassados e muitas vezes dão um resultado negativo falso.
O novo método usa algodão embebido num ácido para captar as partículas. A coleta é feita em áreas específicas da mão, não em toda sua superfície, de modo a evitar também falsos positivos.
Depois disso, entra a fase de fato tecnológica. As amostras são levadas ao Ipen, onde um analisador originalmente usado para pesquisas de física e química nuclear processa os resultados.
"Com isso, é possível verificar as assinaturas químicas de diferentes armas. Aí você pode dizer se o disparo veio de um 38, de uma 9 mm etc.", diz Serkis. "O equipamento tem uma precisão para analisar amostras de uma parte por trilhão ou uma parte por quatrilhão --alguns poucos átomos podem ser identificados", complementa Negrini Neto.
O uso desse equipamento de alta precisão na análise das amostras já foi feito em outros países. "Mas o método de coleta é totalmente novo e mostrou eficiência até 400% superior a técnicas tradicionais", diz Negrini Neto.
A metodologia pode ser um diferencial importante na solução de crimes, especialmente quando as circunstâncias envolverem alegação de legítima defesa num caso de homicídio. Será possível confirmar ou refutar o relato do suspeito de que a vítima teria de fato atirado contra ele antes.
O trabalho, financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), é apenas um exemplo do que a ciência pode fazer pela lei. Outro estudo, também do grupo do Ipen e do IC, está usando detecção de traços de metal para apontar a origem da maconha apreendida na cidade de São Paulo.
"Esse trabalho está na fase de conclusão", diz Sarkis. "Não precisamos mais depender da alegação do traficante para apontar a origem da droga. Comparando a presença de metais com amostras de terreno de onde ela poderia ter vindo, podemos confrontar o depoimento", continua.
Segundo Negrini Neto, os resultados do estudo demonstram que 95% da maconha apreendida na capital paulista teve origem nos Estados do sul do país, não do norte, como alegavam antes vários dos traficantes presos.
Novo método paulista denuncia atirador
SALVADOR NOGUEIRAda Folha de S.Paulo
Um grupo de especialistas brasileiros está unindo forças para mostrar que pesquisa científica pode, sim, ser caso de polícia. Eles acabaram de desenvolver um método mais preciso e confiável para determinar se um suspeito de fato disparou uma arma --e qual.
O trabalho, realizado em conjunto por peritos do Instituto de Criminalística de São Paulo e por pesquisadores do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), será publicado na edição de julho do "Journal of Forensic Sciences" (journalsip.astm.org/ jofs/). Trata-se de uma publicação americana de renome internacional em ciências forenses --área do conhecimento ligada à obtenção de provas de origem técnica a partir de material coletado na cena do crime, ou entre os envolvidos na ocorrência.
O estudo é o primeiro do grupo a ganhar destaque, mas não será o último. Concebido a partir de um acordo assinado em 2000 pelo governador Geraldo Alckmin, estabelecendo a parceria entre a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo e o Ipen, o grupo é uma espécie de tropa de elite na área de ciências forenses.
Os estudos devem tornar o trabalho policial mais próximo do que se vê na série de TV "C.S.I.", transmitida no Brasil pela Sony, em que tecnologia e perícia legal se juntam na solução de crimes.
A técnica desenvolvida pelo grupo de Jorge Sarkis, do Ipen, e Osvaldo Negrini Neto, do Instituto de Criminalística, já está até tendo uso em investigações reais.
Coleta e análise
O método consiste em duas etapas. A primeira delas ocorre na coleta de material para análise. Para descobrir se um suspeito disparou uma arma, a melhor forma é tentar coletar em suas mãos resíduos do disparo --partículas de metais como chumbo, bário e antimônio são os traços mais comuns. Alguns procedimentos para isso, como o uso de fita adesiva ou esparadrapo para arrancar as partículas da pele, já estão ultrapassados e muitas vezes dão um resultado negativo falso.
O novo método usa algodão embebido num ácido para captar as partículas. A coleta é feita em áreas específicas da mão, não em toda sua superfície, de modo a evitar também falsos positivos.
Depois disso, entra a fase de fato tecnológica. As amostras são levadas ao Ipen, onde um analisador originalmente usado para pesquisas de física e química nuclear processa os resultados.
"Com isso, é possível verificar as assinaturas químicas de diferentes armas. Aí você pode dizer se o disparo veio de um 38, de uma 9 mm etc.", diz Serkis. "O equipamento tem uma precisão para analisar amostras de uma parte por trilhão ou uma parte por quatrilhão --alguns poucos átomos podem ser identificados", complementa Negrini Neto.
O uso desse equipamento de alta precisão na análise das amostras já foi feito em outros países. "Mas o método de coleta é totalmente novo e mostrou eficiência até 400% superior a técnicas tradicionais", diz Negrini Neto.
A metodologia pode ser um diferencial importante na solução de crimes, especialmente quando as circunstâncias envolverem alegação de legítima defesa num caso de homicídio. Será possível confirmar ou refutar o relato do suspeito de que a vítima teria de fato atirado contra ele antes.
O trabalho, financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), é apenas um exemplo do que a ciência pode fazer pela lei. Outro estudo, também do grupo do Ipen e do IC, está usando detecção de traços de metal para apontar a origem da maconha apreendida na cidade de São Paulo.
"Esse trabalho está na fase de conclusão", diz Sarkis. "Não precisamos mais depender da alegação do traficante para apontar a origem da droga. Comparando a presença de metais com amostras de terreno de onde ela poderia ter vindo, podemos confrontar o depoimento", continua.
Segundo Negrini Neto, os resultados do estudo demonstram que 95% da maconha apreendida na capital paulista teve origem nos Estados do sul do país, não do norte, como alegavam antes vários dos traficantes presos.
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