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05/06/2003
-
09h20
Editor-assistente de Ciência da Folha de S.Paulo
Depois de terem passado cinco anos em campo estudando, coletando e catalogando espécimes de fauna e flora do Estado, pesquisadores de São Paulo se preparam para a "fase dois": ajudar a transformar o conhecimento acumulado sobre a biodiversidade em dinheiro. Eles lançam hoje na capital paulista o embrião da primeira rede de bioprospecção do país.
A RedeBio, acrônimo de Rede Biota de Bioprospecção e Ensaios, (www.redebio.org.br) é uma filha do programa Biota da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que desde 1998 se dedica ao estudo da diversidade biológica paulista.
O objetivo do novo programa, também financiado pela Fapesp, é gerar inovação tecnológica, na forma de medicamentos, cosméticos ou produtos alimentícios, a partir de substâncias puras ou extratos obtidos pelos cientistas do Biota com base em plantas, fungos, microrganismos e animais.
Esses extratos seriam testados contra câncer, malária, leishmaniose e mal de Chagas, e também como analgésicos.
"Se eu identifiquei uma enzima que pode servir de alvo contra o tripanossoma [causador do mal de Chagas], posso fazer um 'screening' [varredura] de substâncias que atuam sobre essa enzima", exemplifica Glaucius Oliva, do Instituto de Física da USP de São Carlos, um dos coordenadores da RedeBio.
"A intenção é agregar valor àquilo que o Biota tem feito em relação ao conhecimento da biodiversidade do Estado de São Paulo", disse Oliva à Folha.
As substâncias isoladas pela rede --estimam-se cerca de 10 mil extratos por ano a partir de 2004-- serão depositadas num banco de acesso fechado. Empresas que quiserem pesquisar essas substâncias para produzir um remédio, por exemplo, precisarão fazer um contrato com a Fapesp.
Patentes
As patentes, quando --e se-- vierem, serão repartidas entre a fundação, as instituições acadêmicas responsáveis e a indústria.
Isso evitaria problemas como o polêmico acordo da empresa paraestatal Bioamazônia com a multinacional farmacêutica Novartis, em 2000, para fazer bioprospecção na Amazônia --que daria à gigante suíça a exclusividade sobre pesquisas da biodiversidade amazônica.
De outro lado, aumentaria também a participação de cientistas brasileiros no processo de descoberta de medicamentos, diferentemente do que ocorre com países como a Costa Rica. Lá, segundo Oliva, os pesquisadores locais acabam atuando como meros coletores de espécimes para cientistas estrangeiros.
"Uma coisa é passar para a indústria farmacêutica o extrato bruto. Outra é avançar na pesquisa", diz a cientista Vanderlan Bolzani, do Instituto de Química da Unesp de Araraquara.
A criação da rede pela Fapesp reflete também um problema crônico da pesquisa no Brasil: os investimentos em inovação tecnológica são assumidos pelo Estado, não pela iniciativa privada.
Em outros países, a busca de novas substâncias de potencial interesse farmacêutico é realizada pelas empresas. O processo é caro, lento e altamente arriscado. A maioria das descobertas jamais chega a virar uma droga.
Segundo Oliva, empresas farmacêuticas brasileiras não têm dinheiro para aplicar em todo o processo --da prospecção à farmácia, uma pesquisa farmacêutica pode levar uma década.
O capital de risco para investimentos desse tipo também costuma passar longe do Brasil. Uma exceção foram os projetos genoma da Fapesp, que atraíram esse capital e deram origem a duas empresas, a Alellyx (genômica) e a Scilla (bioinformática).
Oliva e Bolzani dizem esperar que a RedeBio vá ter um efeito semelhante. "Podemos ter empresas envolvidas em diferentes momentos", diz o cientista da USP.
O grupo de Bolzani, em Araraquara, de onde partiu a idéia de uma rede de bioprospecção, já conhece esse envolvimento. Em cinco anos, ele reuniu 1.500 extratos prontos e duas patentes pedidas de substâncias puras modificadas. Uma delas despertou interesse do laboratório Eurofarma, que quer pesquisar uma droga.
"Também temos dois projetos com financiamento do Fundo Verde-Amarelo [de inovação], um com a Natura e outro com a Eurofarma", diz a química. "A indústria está interessada."
Rede busca patentes sobre biodiversidade
CLAUDIO ANGELOEditor-assistente de Ciência da Folha de S.Paulo
Depois de terem passado cinco anos em campo estudando, coletando e catalogando espécimes de fauna e flora do Estado, pesquisadores de São Paulo se preparam para a "fase dois": ajudar a transformar o conhecimento acumulado sobre a biodiversidade em dinheiro. Eles lançam hoje na capital paulista o embrião da primeira rede de bioprospecção do país.
A RedeBio, acrônimo de Rede Biota de Bioprospecção e Ensaios, (www.redebio.org.br) é uma filha do programa Biota da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que desde 1998 se dedica ao estudo da diversidade biológica paulista.
O objetivo do novo programa, também financiado pela Fapesp, é gerar inovação tecnológica, na forma de medicamentos, cosméticos ou produtos alimentícios, a partir de substâncias puras ou extratos obtidos pelos cientistas do Biota com base em plantas, fungos, microrganismos e animais.
Esses extratos seriam testados contra câncer, malária, leishmaniose e mal de Chagas, e também como analgésicos.
"Se eu identifiquei uma enzima que pode servir de alvo contra o tripanossoma [causador do mal de Chagas], posso fazer um 'screening' [varredura] de substâncias que atuam sobre essa enzima", exemplifica Glaucius Oliva, do Instituto de Física da USP de São Carlos, um dos coordenadores da RedeBio.
"A intenção é agregar valor àquilo que o Biota tem feito em relação ao conhecimento da biodiversidade do Estado de São Paulo", disse Oliva à Folha.
As substâncias isoladas pela rede --estimam-se cerca de 10 mil extratos por ano a partir de 2004-- serão depositadas num banco de acesso fechado. Empresas que quiserem pesquisar essas substâncias para produzir um remédio, por exemplo, precisarão fazer um contrato com a Fapesp.
Patentes
As patentes, quando --e se-- vierem, serão repartidas entre a fundação, as instituições acadêmicas responsáveis e a indústria.
Isso evitaria problemas como o polêmico acordo da empresa paraestatal Bioamazônia com a multinacional farmacêutica Novartis, em 2000, para fazer bioprospecção na Amazônia --que daria à gigante suíça a exclusividade sobre pesquisas da biodiversidade amazônica.
De outro lado, aumentaria também a participação de cientistas brasileiros no processo de descoberta de medicamentos, diferentemente do que ocorre com países como a Costa Rica. Lá, segundo Oliva, os pesquisadores locais acabam atuando como meros coletores de espécimes para cientistas estrangeiros.
"Uma coisa é passar para a indústria farmacêutica o extrato bruto. Outra é avançar na pesquisa", diz a cientista Vanderlan Bolzani, do Instituto de Química da Unesp de Araraquara.
A criação da rede pela Fapesp reflete também um problema crônico da pesquisa no Brasil: os investimentos em inovação tecnológica são assumidos pelo Estado, não pela iniciativa privada.
Em outros países, a busca de novas substâncias de potencial interesse farmacêutico é realizada pelas empresas. O processo é caro, lento e altamente arriscado. A maioria das descobertas jamais chega a virar uma droga.
Segundo Oliva, empresas farmacêuticas brasileiras não têm dinheiro para aplicar em todo o processo --da prospecção à farmácia, uma pesquisa farmacêutica pode levar uma década.
O capital de risco para investimentos desse tipo também costuma passar longe do Brasil. Uma exceção foram os projetos genoma da Fapesp, que atraíram esse capital e deram origem a duas empresas, a Alellyx (genômica) e a Scilla (bioinformática).
Oliva e Bolzani dizem esperar que a RedeBio vá ter um efeito semelhante. "Podemos ter empresas envolvidas em diferentes momentos", diz o cientista da USP.
O grupo de Bolzani, em Araraquara, de onde partiu a idéia de uma rede de bioprospecção, já conhece esse envolvimento. Em cinco anos, ele reuniu 1.500 extratos prontos e duas patentes pedidas de substâncias puras modificadas. Uma delas despertou interesse do laboratório Eurofarma, que quer pesquisar uma droga.
"Também temos dois projetos com financiamento do Fundo Verde-Amarelo [de inovação], um com a Natura e outro com a Eurofarma", diz a química. "A indústria está interessada."
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