Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
04/07/2003 - 07h12

Cochilo da tarde é natural, diz estudo

RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Quem faz sesta depois do almoço já pode argumentar que esse hábito está de acordo com a evolução biológica e não é mera consequência de uma lauta refeição azeitada por três caipirinhas. Foi descoberta uma nova engrenagem do relógio biológico que ajuda a explicar por que não só o homem, mas vários animais, descansam no meio da tarde.

O estudo, feito em camundongos por Steven McKnight, da Universidade do Texas, e mais seis colegas, está publicado na edição de hoje da revista "Science" (www.sciencemag.org).

O comportamento dos animais é regulado nas 24 horas do dia principalmente pelo ciclo claro-escuro (ou noite-dia). Esse ritmo "circadiano" envolve uma grande variação na produção de proteínas pelos genes ao longo do dia, em vários pontos do organismo.

Ou seja, os genes são ligados ou desligados de acordo com a luz do ambiente. E, mesmo em situações de total escuridão, o sistema continua funcionando por motivos ainda em parte desconhecidos.

Almoço atrasado

O relógio biológico tem um ponto central no cérebro humano. Ele é regulado em grande parte pela ação de uma proteína, batizada CLOCK ("relógio", em inglês). Mas, na parte do cérebro que processa as informações dos sentidos, uma outra proteína dá as cartas, a NPAS2.

Ao criar camundongos mutantes incapazes de produzir a NPAS2, os cientistas descobriram que os animais tinham maior dificuldade de se adaptar a certos estímulos do ambiente, mais especificamente a uma mudança do horário de refeição. Eles perdiam peso e ficavam doentes.

Mas por que os animais teriam dois mecanismos distintos, dois verdadeiros relógios?

"Boa pergunta. Minha impressão, como está no artigo da 'Science', é que esse segundo relógio permite adaptação ao ambiente", disse McKnight à Folha.

Ele argumenta com o exemplo dos morcegos. "Morcegos são animais noturnos, eles saem de cavernas de noite para comer insetos voadores. Em certas estações, insetos não voam à noite. Nessas circunstâncias, os morcegos saem das cavernas quando os insetos estão disponíveis --e não no meio da noite."

Isto é: os morcegos não estão adaptando seu comportamento só devido ao ciclo noite-dia. Segundo McKnight, essa adaptação dos morcegos depende do novo relógio por eles descoberto.

"Muitos animais fazem a sesta. Eu estou familiarizado com veados, raposas e outros animais que sempre podem ser vistos no nascer ou no pôr-do-Sol. Nunca vemos esses animais na metade do dia porque eles vão dormir", diz.

Dois períodos de atividade, dois períodos de sono. Por que o relógio biológico faria isso ainda é um mistério. Uma explicação possível é o fato de duas regiões do cérebro controlarem o ritmo circadiano.

Os ratos mutantes bagunçariam os horários dessas atividades. E, com isso, não teriam a sesta.

"É minha sensação que os seres humanos retiveram esse mesmo sistema. Se for assim, culturas que têm uma sesta estarão sem dúvida mais ligadas aos seus ritmos do que as que tentam manter um período contínuo de atividade."
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página