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23/08/2003 - 04h55

Criador do VLS aposta em falha humana como causa do acidente

PLÍNIO FRAGA
da Folha de S.Paulo

O criador do projeto do Veículo Lançador de Satélites (VLS) acredita que a razão do acidente foi uma falha humana na operação de um dos motores e diz ser mínima a possibilidade de sabotagem.

"No momento, pode parecer uma opinião leviana, mas acho que certamente houve uma falha humana. Pela experiência de mais de 30 anos, acredito que houve falha de manuseio. O acidente não foi no ponto crítico usual, que é o lançamento", afirma o major-brigadeiro reformado Hugo de Oliveira Piva, 76.

O VLS brasileiro foi contestado por países desenvolvidos por abrir a possibilidade de o país usar sua tecnologia em mísseis balísticos, mas Piva não acredita em sabotagem do programa.

"Possibilidade existe, mas é muito pouco provável. São centenas de equipamentos sofisticados que têm de trabalhar com precisão. Se desregulados, poderiam causar problemas sérios. Mas não acredito", declara o brigadeiro.

Piva calcula que a destruição do VLS deve atrasar em ao menos um ano o projeto. "Tenho medo dos imediatistas que podem dizer que não devemos mais investir no programa. Se formos um país que pretende desenvolver alta tecnologia, a falha atual seria até um incentivo para continuarmos."

O brigadeiro relativiza a terceira falha ocorrida no projeto. "Até 1984, o programa espacial brasileiro não tinha falha nenhuma. Houve essas três, mas o programa dos Estados Unidos, o da Rússia ou o da França também tiveram dezenas de falhas. O nosso ainda é um recorde de segurança", diz.

Piva já foi apelidado de "Von Braun brasileiro", numa referência ao engenheiro espacial alemão Wernher von Braun (1912-1977), que criou o míssil balístico para os nazistas na Segunda Guerra e morreu trabalhando para o Exército americano e a Nasa. Ele diz que um acidente sempre afeta a imagem de um programa.

"Ainda mais com tantas mortes trágicas. Mas a base de Alcântara permanecerá sendo um excelente ponto de lançamento por suas qualidades técnicas", diz o brigadeiro, responsável pela escolha da cidade maranhense quando comandava o Centro Técnico Aeroespacial, no regime militar.

O brigadeiro comandou também a aproximação do Brasil com o Iraque nos anos 80, já sob a administração de Saddam Hussein, o que levou os americanos a suspeitarem de uma parceria para a construção de uma bomba atômica conjunta. Piva sempre negou que fosse essa a proposta do acordo com o Iraque.

Segundo ele, o objetivo oficial era o desenvolvimento de um míssil ar-ar (armamento de aviões para serem usados contra outros aviões), de alcance restrito a 8 quilômetros. O Brasil entrava com a tecnologia, e o Iraque, com os petrodólares.
 

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