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09/11/2000 - 04h52

FHC omite as florestas ao abordar mudanças no clima

  • Presidente cita até Trótski em seu discurso

    MARCELO LEITE, da Folha de S.Paulo

    A cinco dias de começar mais uma rodada de negociações sobre o clima mundial, em Haia (Holanda), o presidente Fernando Henrique Cardoso lançou oficialmente no Itamaraty o Fórum de Mudanças Climáticas. Falou até de gases produzidos pelo gado na sua digestão, mas evitou tocar na questão do desmatamento.

    O assunto é polêmico porque tem prevalecido no governo a tese de que florestas não devam entrar no chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

    Tema central em Haia, o MDL, quando regulamentado, será um modo de carrear recursos para países pobres. Nações industrializadas investiriam em projetos de desenvolvimento no Terceiro Mundo capazes de evitar a produção de gases como o carbônico, que agravam o efeito estufa.

    Havia uma menção ao tema no discurso impresso, omitida porém pelo presidente quando abordou o inventário das emissões locais de gases-estufa:

    "(Ele) trará uma contribuição significativa para a metodologia da estimativa das emissões num país tropical, com vastos setores agrícola e silvicultor. Nossa comunidade científica também desenvolve trabalhos relevantes em relação à modelagem numérica da mudança global do clima e à compreensão das interações entre a atmosfera e a biosfera em nosso território, notadamente na Amazônia", escreveu FHC.

    Após destacar que o Brasil tem matriz energética "limpa", FHC afirmava no discurso distribuído: "Determinei a diferentes órgãos do governo que analisem todos os setores de atividade do país do ponto de vista da mudança do clima. O setor de silvicultura merece atenção especial pela sua potencialidade de contribuir para mitigar a concentração dos gases de efeito estufa."

    A inclusão das florestas no MDL é defendida por setores minoritários no governo, como o Ministério do Meio Ambiente (MMA). A omissão presidencial pode, portanto, ser considerada indicativa de sua fraqueza.

    Com 40% das florestas tropicais do mundo, o Brasil renuncia assim a fonte considerável de recursos, na casa de bilhões de dólares. Sem florestas, estima-se que o país abocanharia no máximo 1% da receita com MDL.

    Com a destruição de 20 mil km2 de floresta por ano, em média, a Amazônia é hoje a maior fonte emissora de gases do efeito estufa no país. As estimativas variam, mas ela pode ser três vezes maior que o emitido com a queima de combustíveis fósseis.

    Floresta X reflorestamento

    Um seminário realizado por organizações não-governamentais em Belém, semana passada, defendeu num "Manifesto da Sociedade Civil" que recursos do MDL sejam destinados a projetos de manejo florestal. Essa exploração racional da floresta pode cortar ao meio a derrubada pelo método tradicional, sem planejamento.

    As conclusões do manifesto devem ser apresentadas hoje pelo ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, na primeira reunião do Fórum, na presença de FHC.

    Terá de enfrentar a oposição do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Itamaraty, formuladores da posição brasileira. O máximo que aceitam é incluir florestas plantadas no MDL.
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