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25/08/2003 - 05h22

Investigação de falha no VLS-1 deverá se limitar ao acidente

da Folha de S. Paulo

Os procedimentos de investigação da falha que destruiu o terceiro protótipo do VLS-1 na sexta-feira serão os mesmos usados nos dois fracassos anteriores com o foguete. Com isso, apenas o lado técnico do problema deverá ser contemplado, sem uma avaliação do futuro do programa.

A comissão investigadora, estabelecida pela Aeronáutica e composta por engenheiros do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e militares, terá em princípio 30 dias para apresentar conclusões.

Os trabalhos já foram iniciados, sob o comando do coronel-aviador Antônio Carlos Cerri, diretor do IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço) do CTA, localizado em São José dos Campos (SP).

Os especialistas estão trabalhando inicialmente com o material de vídeo produzido durante o acidente. Até agora, as principais suspeitas estão sobre uma falha no sistema responsável pela ignição de algum dos propulsores do primeiro ou segundo estágios.

O incêndio causado pela queima das 41 toneladas de propelente sólido dos quatro estágios do VLS-1 matou 21 pessoas. Elas trabalhavam na preparação do veículo para uma tentativa de lançamento, que deveria ser hoje.

Seria a terceira tentativa de lançar um satélite usando o foguete brasileiro. As duas anteriores, ocorridas em 1997 e 1999, também falharam, mas os problemas aconteceram durante o vôo, e sua destruição não provocou vítimas.

Nas duas ocasiões, uma comissão nos moldes da que se configura agora foi formada, com a mesma organização, o mesmo enfoque e o mesmo prazo. Os resultados se concentraram no lado técnico das falhas. Nada foi dito a respeito de problemas estruturais do projeto, que são ligados a gerenciamento, orçamento e segurança.

Os relatórios deveriam servir para evitar os mesmos problemas nos protótipos seguintes. O sucesso foi parcial e sintomático da natureza técnica e específica dos documentos: os defeitos de fato foram diferentes em cada veículo, mas todos ocorreram no sistema pirotécnico, ligado à ignição. Os relatórios nada disseram sobre a possibilidade de o programa induzir erros estruturalmente.

Em programas espaciais estrangeiros, as comissões investigadoras de acidentes normalmente vão além dos aspectos técnicos e buscam as causas mais profundas dos problemas -- em especial quando ocorrem mortes.

É o que foi visto nos EUA na destruição dos ônibus espaciais Challenger (1986) e Columbia (2003), que juntos mataram 14 astronautas -- sete a menos que o acidente em Alcântara. Além de determinar a causa imediata dos acidentes, a comissão, formada por pessoas independentes do programa e não só engenheiros aeroespaciais ou militares, aponta que vícios e cultura interna podem levar a Nasa (agência espacial americana) a negligenciar o nível de segurança adequado.

O impacto desses relatórios é visível. Após a investigação do Challenger, em 1986, os americanos tiveram não só de corrigir o defeito dos propulsores que causaram a explosão, o que interrompeu as missões por quase três anos, como foram obrigados a expandir o orçamento dos ônibus espaciais para ampliar as verificações de segurança e rever a forma com que estavam conduzindo os procedimentos que antecediam os vôos.

Depois disso, os ônibus espaciais voaram por 17 anos sem incidentes fatais, até a perda do Columbia, em fevereiro deste ano. O relatório da comissão independente que investiga o caso nos EUA deve ser divulgado nesta terça-feira. Antes mesmo do relatório, a Nasa já iniciou um processo para que informações vitais de segurança cheguem mais facilmente aos tomadores de decisão.

Antes do incêndio em Alcântara, alguns engenheiros do CTA e do Inpe já trocavam impressões e temiam o fracasso da missão, até mesmo um desastre. Entrevistados antes do acidente, integrantes da Agência Espacial Brasileira e do CTA disseram que não havia razão para tais temores.
 

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