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26/08/2003 - 03h12

Impacto ou descarga pode ter incendiado foguete

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RUBENS VALENTE
da Folha de S.Paulo, em Alcântara
FÁTIMA LESSA
da Agência Folha, em Alcântara

Integrantes da comissão técnica criada pela Aeronáutica para investigar as causas do incêndio que matou 21 pessoas e destruiu o VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites), na sexta-feira, disseram ontem já ter certeza de que o fogo começou após uma ignição inesperada no motor do primeiro estágio, na parte inferior do foguete, mas ainda não sabem o que provocou o acionamento.

Os técnicos concederam entrevista coletiva perto dos destroços do foguete e da torre móvel em que estava instalado, na base de Alcântara (a 22 km de São Luís). Ontem, pela primeira vez desde o acidente, a Aeronáutica autorizou a entrada de jornalistas na base.

O coordenador da Operação São Luís, major-brigadeiro Tiago da Silva Ribeiro, apontou duas hipóteses para explicar o acionamento da ignição: choque (pancada) e uma onda eletromagnética. Ambas podem ter sido causadas por uma série de fatores.

A Operação São Luís tinha por objetivo lançar em órbita, pela primeira vez, um satélite brasileiro por meio de um foguete construído no país e lançado de uma base nacional. Esse feito realizaria a chamada Missão Espacial Completa Brasileira (MECB). As duas tentativas anteriores de lançar o foguete VLS-1, em 1997 e 1999, também resultaram em fracasso.

"Estamos pesquisando como foi essa ignição intempestiva do primeiro estágio", disse o brigadeiro. "Um motor [de foguete] tem um ignitor e um iniciador. O iniciador é um explosivo primário que pode ser acionado por corrente elétrica, por uma estática, remotamente, talvez por um raio que pudesse ter caído na região ou uma onda de rádio, e por um choque direto. Como ele é um explosivo primário, com o choque ele também se inicia."

Duas hipóteses

"[Há] dois fenômenos possíveis: o impacto e o choque [elétrico]. A origem do impacto e do choque pode ser imensa, até cair um martelo em cima pode deflagrar o processo", disse o engenheiro Luiz Roberto Del Monaco, do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), de São José dos Campos (SP), da comissão de investigação.

"A corrente elétrica pode ter origem em raios, em emissão eletromagnética ou em indução por uma fonte de energia diretamente aplicada no local ou no sistema, num fio, num condutor elétrico levando uma corrente com uma tensão ter acionado [o motor]", disse o engenheiro.

Editoria de Arte/Folha imagem


Del Monaco explicou que a onda eletromagnética, em tese, pode ser gerada também a partir de comunicação por ondas. "Como se recebe [sinal] através de uma antena? São ondas eletromagnéticas se propagando através do espaço, alguém transmitindo e alguém recebendo. Alguém transmitindo em altíssima potência pode induzir corrente elétrica novamente, o que deflagra o processo."

O engenheiro do CTA Mauro Dolinsky, vice-diretor da Operação São Luís e membro da equipe de investigação, no entanto, adiantou que há pelo menos uma séria dificuldade técnica para a identificação correta da causa. Ele revelou que os dados necessários para uma análise mais precisa do que ocorreu não foram todos armazenados. "Infelizmente, os sistemas de registro não estavam todos ligados. Nós não estávamos numa operação de lançamento."

Ele disse que a investigação pode acabar sem oferecer resposta definitiva. "Podemos até não chegar a uma coisa conclusiva. Podemos dizer [ao final da apuração]: "Olha, pode ter sido isto ou isto"."

Indagado se uma onda eletromagnética pode ter sido gerada criminosamente, num ato de sabotagem, Dolinsky afirmou que não cabe à comissão dizer se foi sabotagem ou não.

Um jornalista quis saber se um satélite seria capaz de, direcionado para o foguete, provocar tal efeito. O engenheiro Del Monaco qualificou a possibilidade como "pouco provável". Dolinsky e Ribeiro disseram que o leque das investigações é amplo: "Qualquer coisa que falemos agora, em termos de causa, é muito prematura", disse o brigadeiro.

O diretor do Deped (Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento) da Aeronáutica, brigadeiro Sérgio Pedro Bandini, disse que a comissão de investigação pretende reconstruir na base o foguete incendiado, para avaliação. "Vai ser um trabalho de detetive espacial", disse o brigadeiro.

A comissão, presidida pelo coronel-aviador Antonio Cerri, tem prazo inicial de 30 dias para apresentar resultados. Anteontem, em São Luís, Cerri disse que avaliará "todas as possibilidades".

Verbas

O coordenador da Operação São Luís, major-brigadeiro Tiago da Silva Ribeiro, estimou em "três ou quatro anos" o tempo necessário para reposição dos quadros no projeto. Morreram 11 pessoas com formação superior e dez técnicos de nível médio. "Temos de ter uma ação clara e rápida para a contratação de pessoal", disse.

Os militares enfatizaram aos jornalistas que o incêndio no mato gerado pelo acidente não ultrapassou uma área de 50 metros. Segundo Bandini, é preciso "acalmar a população" de Alcântara. Bandini disse que não há riscos para os moradores. O local do acidente fica a 9 km da cidade.

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