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REFLEXÃO


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sinapse
17/02/2004

As lições de Cristovam Buarque

O professor Cristovam Buarque passou 12 meses no Ministério da Educação e está agora tentando descobrir as lições que deveria tirar dessa tão curta quanto tumultuada experiência. Na visão dele, as lições não são boas —nem para ele nem para o país.

Criador do Bolsa-Escola e prestigiado dentro e fora do Brasil, Cristovam reconhece que a passagem pelo governo "feriu seu patrimônio de credibilidade", por ter saído acusado, entre assessores do presidente, de inoperante e, pior, porque a demissão foi feita pelo telefone. "A primeira lição: eu não imaginava que, uma vez no poder, reproduziríamos com tanta intensidade o ambiente de intrigas da corte."

Outra lição, diz ele, é ter aprendido sobre a distância que existe no PT entre as promessas e o empenho de mudar a educação brasileira. "No programa eleitoral, propúnhamos que toda criança deveria estar na escola desde os quatro anos. Quando, na condição de ministro, insisti nessa idéia, fui acusado de fanfarronice." O próprio Lula teria dito a assessores que muitas das propostas de Cristovam seriam "fanfarronices".

Essa distância se deve, para Cristovam, à "acomodação" do núcleo do poder à lógica da estabilidade econômica. "Certa vez eu disse ao Lula que o ministro da Educação deveria defender o princípio da estabilidade econômica, assim como o ministro da Fazenda deveria querer que todas as crianças estivessem na escola."

Para o senador, a maior lição, porém, é a respeito do olhar do PT sobre a educação. "Para mim, a educação é a chance de uma nova abolição. É preciso fazer disso uma mania, uma obsessão nacional. Não é o que o governo sente e eu pensei que sentia."

Mais lições ainda estão sob reflexão. Antes de assumir o Ministério da Educação, muitos advertiram Cristovam de que seria muito arriscado —o governo exigiria, naquele momento, pessoas mais pragmáticas, menos sonhadoras. Ele não acreditou, imaginava-se adequado ao cargo, o homem certo no lugar certo.

Ou não era o homem certo, ou estava no lugar errado —ou, quem sabe, as duas coisas. "Sobre essa lição, ainda vou ter de estudar", brinca.




Coluna originalmente publicada na Folha de S. Paulo, na editoria Sinapse.

   
 
 
 

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