REFLEXÃO


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pensata
20/11/2007

Quanto custa a calhordice política

Até pouco tempo atrás, a imagem das ONGs estava associada à generosidade e à eficiência. Agora, associa-se, graças aos escândalos que aparecem na mídia, à malandragem típica da política. A verdade sobre os escândalos, porém, não está clara.

A imensa maioria das pessoas que apoiaram e apóiam entidades não-governamentais queria fazer a diferença nas suas comunidades, mas, ao mesmo tempo, ficar justamente longe da política, terreno em que corrupção e incompetência são rotina.

O ambiente mudou e o resultado dos escândalos é o surgimento de uma CPI para investigar as entidades não-governamentais. O ambiente mudou exatamente por causa da calhordice política.

É bom que se investigue qualquer entidade com dimensão pública. Quanto mais investigação, melhor. O chamado terceiro setor cresceu muito, misturando os mais diferentes tipos de entidade sem fins lucrativos, desde um templo evangélico, um sindicato patronal ou de trabalhadores, até um grupo que cuida de crianças com HIV. Há anos, fala-se na "pilantropia".

O que provocou o escândalo, no entanto, foi a forma como os partidos (e aqui se incluem o PT e o PSDB) usaram o terceiro setor como recurso para ajudar aliados, a começar dos sindicatos. Basta ver que o que está na mira da CPI são grandes transferências de recursos a entidades suspeitas de alinhamento partidário --e, por isso, beneficiadas não por sua competência.

Não é à toa que muito do dinheiro dado aos sindicatos para formação profissional foi desperdício. A junção de incompetência com esperteza e falta de fiscalização só poderia mesmo resultar em escândalo.

É uma pena que um movimento generoso e com grandes conquistas de direitos de mulheres, crianças, idosos, negros, trabalhadores, portadores de deficiências, seja contaminado pela malandragem. Tudo isso talvez desestimule a participação dos brasileiros em desafios coletivos, especialmente dos jovens --esse é mais um custo da calhordice política.

Coluna originalmente publicada na Folha Online, editoria Pensata.

   
 
 
 

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