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cultura e arte
08/12/2004
Teatro promove inclusão social na periferia de SP

"O teatro tem uma função, principalmente num país que precisa de qualquer tipo de manifestação com caráter de transformação social", afirma Neriney Moreira, advogado, ator e um dos fundadores do Teatro Popular União e Olho Vivo (TUOV). Em fevereiro de 2004, o TUOV completou 38 anos de teatro e impulsiona a troca de experiências culturais com as comunidades carentes da cidade de São Paulo.

União e Olho Vivo é conhecido por desenvolver um trabalho social ao levar o teatro para o povo com um enredo simples de autores nacionais. "Nós levamos para o povo a oportunidade de conhecer o teatro. O pessoal de periferia, geralmente, mora a 40 km do centro e dos teatros. Como eles vão para esses lugares, sendo que todos acordam cedo para trabalhar no dia seguinte? É uma coisa inviável", diz Neriney.

A proposta da TUOV não é de revolucionar a dramaturgia nacional nem o modo de interpretar, mas a troca de experiência na periferia. "Todos são capazes de fazer teatro", declara Neriney. Seguindo esse pensamento, o elenco é formado por bancários, professores, advogados, pintor, dona-de-casa e outras ocupações. O teatro surge como um forte instrumento de inclusão social, quando o grupo mostra que todos são capazes de fazer arte. "O grupo nasceu daquela idéia que a cultura e a educação é direito de todos, não é privilégio de alguns", afirma.

Para sobreviver, o grupo segue a prática Robin Hood já que faz e vende os espetáculos para prefeituras, clubes que têm condições de pagar e com a arrecadação desses cachês a peça vai para periferia por um preço simbólico, pois a população carente não tem condições de gastar com lazer. Segundo Neriney, o grande problema é conseguir financiamento para desenvolver teatro popular entre o poder público e privado. Nesses 38 anos, o TUOV praticamente ficou sozinho, sem subsídios.

A maioria das apresentações ocorreram em locais com pouca infra-estrutura, como salas de aula em que as apresentações eram realizadas em cima de carteiras; em praças da comunidade; quadras de esporte e outros locais. Os lugares não tinham palco e a comunidade ajudava os atores da peça a carregar tijolos e tábuas para os atores simularem um palco.

O professor de português Oswaldo Ribeiro, já atuava em teatro com a comunidade São José Operário, no Itaim Paulista, zona Leste da cidade de São Paulo, e em 1992 ingressou no TUOV. "Para mim, o teatro representa um transformador social, um meio de desinibição e expectativa no crescimento contrário à linguagem teatral industrial", afirma.

O Olho Vivo se apresentou mais de 3500 vezes para um público superior a três milhões de pessoas. O grupo trabalha com temáticas relacionadas à arte popular e história brasileira, como: carnaval, bumba-meu-boi, literatura de cordel, circo e outros. Já foi reconhecido por meio de vários prêmios nacionais e internacionais, entre eles estão: EnCena Brasil do Ministério de Cultura Brasília, em 2001; Prêmio Carlos Miranda Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, em 2001; Prêmio Casa das Américas, de Havana (Cuba), em 1985; Prêmio Santos Dias de Direitos Humanos Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, em 2003 etc.

O nome
O grupo surgiu em 1966 entre os estudantes que queriam reativar o departamento da cultura do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), denominado Teatro das Onze. O objetivo era fazer um teatro estudantil voltado para o público acadêmico e convencional. Em 1972, o nome passou para Teatro Popular União e Olho Vivo, originário do Grêmio Recreativo Escola de Samba União e Olho Vivo que figurava no espetáculo "Rei Momo" e era uma saudação ("União e Olho Vivo"), usada na vida real por D. Pedro I, personagem daquela encenação.

Desde o começo, o grupo discutia como desenvolver um tipo diferente de teatro e era composto por elementos da classe média, mas com o tempo passou a ter componentes do meio popular, usando a linguagem popular. Há uma troca de experiências culturais já que ninguém ensina nada para ninguém. É uma interação entre ensino e aprendizado.

Teatro para São Paulo
Olhos atentos para a cortina do teatro do Centro Educacional Unificado Pêra Marmelo, zona noroeste de São Paulo. Começa mais um espetáculo para a comunidade do Jaraguá. Marinheiros desciam da platéia para o palco, remetendo um episódio da História do Brasil. A peça "João Candido do Brasil- A Revolta da Chibata" relata a façanha dos marinheiros majoritamente negros em 1910, em que eram maltratados por seus superiores. Em comemoração ao dia da Consciência Negra, a peça é carregada de sátira e batuques da percussão, que enfatiza a ação dos atores.

Em seguida, com muita mímica e expressão corporal, "Os Queixadinhas" dão um show de representação, em que remete a greve da década de 60 na cidade de Perus, em que uma família de porquinhos do mato tem o cotidiano de milhares de trabalhadores explorados, mas conseguem se juntar para matar o caçador-explorador. A peça é resultado do Programa Fomento ao Teatro da Secretaria Municipal da Cultura da cidade de São Paulo.

O Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, promovido pela Secretaria Municipal da Cultura, tem o objetivo de apoiar a manutenção e a criação de projetos de trabalho continuado de pesquisa e produção teatral, visando o desenvolvimento do teatro e o melhor acesso da população.

Há cerca de um ano e meio, o TUOV trabalha teatro com alunos da Escola Municipal Brigadeiro Fontenelle e moradores do bairro do Jaraguá na faixa etária de 14 até 19 anos, por meio do Programa. O projeto é denominado Fonteatro Olho Vivo Jaraguá. Neste ano, o projeto está na segunda etapa, em que o grupo faz apresentações em bairros periféricos e se prepara para seguir sua trajetória de continuidade da orientação teatral.

Leonilton Souza de Jesus é da comunidade do Jaraguá e está há dois anos com o grupo Fonteatro Olho Vivo Jaraguá. "Já tinha feito um curso de teatro que durou cinco meses no colégio Fontenelle e vi que meu negócio era o teatro mesmo, porque interpretar é coisa fácil. Tudo não passa de uma brincadeira. Apesar de continuar com o estilo de largado, mudei muito com o teatro. Parei de beber, pichar e freqüentei mais teatros, mais cultura", confessa Leonilton.

Ana Célia Souza Almeida, dona-de-casa e integrante do Fonteatro Olho Vivo Jaraguá, entrou no teatro apenas por distração, mas já sabia como era o teatro de rua, pois aos 15 anos participava de um grupo no Maranhão, sua cidade natal. "Esse trabalho é muito bom, porque TUOV apóia a gente em tudo. Não é fácil conciliar casa, filho e teatro. Eu sempre gostei de lidar com o público e me ajudou muito numa época bastante complicada de minha vida. Hoje, estou bem melhor e aprendi algumas técnicas como ritmo, voz até desenvoltura", conta Ana.


SUSANA SARMIENTO
do site Setor3

 
 
 

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