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Brasília
16/07/2004
Computador dá 'empurrãozinho' à cidadania

As Escolas de Informática e Cidadania (EICs) do Distrito Federal são espaços onde realidade e ficção parecem se misturar. E não se trata de internet e mundo virtual.

A realidade ganha ar de ficção com histórias como a de Iara Delfina Alves. Em 2002, aos 22 anos, estava desempregada e não estudava. Uma amiga "muito insistente" a convenceu a fazer um curso de introdução à microinformática (Windows, Word e Excel) na EIC Recanto, em Brasília. "Eu disse que não queria porque não era capaz. Minha auto-estima era muito baixa, sabe? Mas de tanto ela falar, fui."

Essas escolas são produtos da organização não-governamental Comitê para Democratização da Informática (CDI), que trabalha para promover a inclusão digital e, ao mesmo tempo, disseminar noções de cidadania em comunidades de baixa renda. O CDI do Distrito Federal, apoiado pelo PNUD, existe desde 1999, tem 68 EICs montadas e 57 funcionando, com mensalidade ao redor de R$ 10.

As aulas de informática e cidadania deram tamanho estímulo a Iara que ela voltou para a escola e deu um salto profissional. "Antes do curso, o máximo que pensava para mim era ser dona-de-casa ou ficar atrás de um balcão. Mas depois do curso já fui secretária e auxiliar de administração por 10 meses num escritório. E quero muito mais", diz a jovem. Desde que o escritório fechou, ela está na "famosa procura" por emprego.

Também não demorou para que ela passasse de aluna a professora. O convite surgiu pouco depois do fim do curso, devido a seu bom desempenho nas aulas. Quarenta alunos depois, Iara tomou gosto pelo contato com as pessoas e pensa em fazer faculdade de Pedagogia ou Psicologia para desenvolver a habilidade. Com os meses no escritório, ela deixou de dar aulas, mas diz que está disposta a voltar. "Da maneira como me ajudaram, tenho o dever de ajudar. E ensinar é aprender duas vezes, né?"

Longe da marginalidade
A história de Walder Rodrigo Gonçalves de Almeida, 27 anos, também lembra passes de mágica. "Eu era problemático, me envolvia em brigas e com amizades erradas. Era um caso quase perdido", conta o rapaz.

Hoje, ele é instrutor-coordenador da EIC Cata-Vento, técnico de informática — trabalha com webdesign, instalação e manutenção de computadores — e está no primeiro semestre da faculdade de Sistemas de Informação.

A mudança começou quando aceitou ser voluntário de uma ONG que tenta resgatar jovens e crianças das ruas através do esporte, como queria o pai. Em pouco tempo, a ONG firmou uma parceria com o CDI para que esses jovens aprendessem informática. Os cursos são para alunos de todas as idades, exceto para crianças.

Como já tinha certa intimidade com computadores, foi um pulo para Almeida começar a ensinar numa EIC, há quatro anos. "A partir daí, vendo os alunos na minha frente, comecei a pensar diferente, a pensar na responsabilidade que eu tinha. Foi uma virada muito positiva."

Agora, os planos de Walder são terminar a faculdade, arrumar um bom emprego e continuar ajudando sua comunidade por meio do trabalho como educador. "Quero trabalhar com esses jovens que precisam apenas de um incentivo, como eu, para sair da vida marginalizada e ter um futuro digno", destaca.

A diferença do "empurrãozinho"
A principal contribuição do PNUD ao CDI é por meio do Programa de Voluntários das Nações Unidas. A voluntária Mônica Morais trabalha na capacitação de educadores e coordenadores das escolas. "As EICs são montadas em comunidades de baixa renda, a partir de parcerias com centros comunitários, grupos sindicais, religiosos, entre outros. Os computadores são doados ao CDI por empresas, órgãos públicos", afirma. Há cerca de cinco micros por escola e dois alunos por máquina.

Para Mônica, ser voluntária no CDI é um "experiência fantástica". Segundo ela, a auto-estima das pessoas melhora muito no decorrer do curso porque eles descobrem que são capazes de progredir na vida pouco tempo depois de "acharem que aprender aquilo era um sonho meio inatingível". E acrescenta: "Não precisa de muito para que as pessoas comecem a melhorar. Um empurrãozinho já faz uma enorme diferença", afirma.

De volta à ficção
Ao longo do curso, a estudante Barbarah Pereira Dias, de 17 anos, sensibilizou-se com as histórias de colegas da EIC. Resultado: inspirou-se a escrever um livro "sobre como mudar o mundo", recheando com ficção histórias reais, algumas delas sobre o que viveu em sala de aula.

Um dos textos é sobre aborto, com base na experiência de uma colega de classe. "A maioria das meninas faz isso hoje em dia", revolta-se Barbarah. "Elas não têm consciência", completa. O texto, intitulado "Esperança ou morte" é duro com os defensores da prática. No texto, um bebê ainda no útero questiona: "Por que querem me destruir antes mesmo de nascer?" E prossegue: "Quero viver e amar."

O livro também abordará temas como drogas e, por um viés mais político, desemprego, cidadania e outros. "Já escrevi todos os textos. Agora falta conclusão e edição", diz a jovem. Segundo ela, uma editora se interessou pela obra e já está com o caderno onde escreveu os primeiros textos. "Acho que estará pronto no final do ano".


As informações são do site PNUD Brasil.

 
 
 

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