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iniciativa
27/08/2004

Fábrica de móveis mobiliza sociedade para projeto de reciclagem de lixo

Manhã de segunda-feira na fábrica de móveis Zanzini, em Dois Córregos, no interior de São Paulo. Entre os funcionários que chegam para trabalhar, boa parte carrega sacos cheios de lixo até um galpão da empresa. No mês passado, a auxiliar de sistemas de gestão Alessandra Furlaneto, de 25 anos de idade, chegou a tirar 14 sacos do porta-malas do carro num dia. Para alcançar essa marca, ela recorreu não só à lixeira de sua casa mas também à de sua mãe, da irmã, da tia e até da sogra. O estimulo para tamanho empenho é grande: uma bolsa de estudo. Na empresa, esse material é separado em três coletores: papel, plástico ou metal (os vidros não são recolhidos pela dificuldade de manuseá-los). Em seguida, o lixo é prensado para ser vendido a empresas de reciclagem da região.

A iniciativa de Alessandra e dos outros funcionários é parte do projeto Reciclo, organizado desde 2001 pela Zanzini para conscientizar toda a população da cidade, de cerca de 25 mil habitantes, sobre a importância de dar um destino correto ao lixo e preservar o meio ambiente. A idéia surgiu quando a empresa passou a desenvolver, sob a orientação do Sebrae, um programa de qualidade total que despertou uma reflexão sobre o impacto da operação no meio ambiente. “Ali começamos a nos preocupar com o destino do papelão e do plástico que não aproveitávamos”, diz Denise Zanzini Torrano, diretora de qualidade da fábrica. “Pregar o cuidado com a natureza é ainda mais importante numa cidade como a nossa, que faz parte de uma região de ecoturismo.” O material descartado na produção, como papel, plástico e fios, passou a ser separado para ser vendido.

O passo seguinte foi ampliar a coleta para o lixo doméstico, mobilizando não só a empresa mas também crianças e adolescentes. Para isso, diretores e coordenadores de escola foram convidados a participar de um treinamento. “A única forma de garantir longa vida à nossa ação é formar nas gerações futuras essa cultura de preservação”, avalia Denise. Hoje, além dos funcionários, mais de três mil alunos de oito escolas da cidade participam da coleta seletiva. Treze lojistas também contribuem com o projeto, vendendo à Zanzini, por quantias simbólicas, o lixo que produzem.

Em três anos e meio, 560 toneladas foram arrecadadas pelo projeto – só de papel, foram 366. Com a reciclagem, deixaram de ser consumidos 4,38 hectares de terra, poupando nada menos que 7.330 árvores. Resultados como esse renderam à Zanzini o Prêmio de Tecnologia Social na categoria empresa, oferecido pela Fundação Banco do Brasil a cada dois anos. Com os R$ 50 mil da premiação, a fábrica comprou equipamentos – uma prensa para embalar o material, coletores para o lixo reciclável e um caminhão para o seu transporte – e fez reformas no espaço que recebe o lixo, cimentando o piso e construindo um teto para o galpão.

Para motivar os funcionários para a coleta seletiva, a Zanzini passou a oferecer bolsas de estudo – em cursos de graduação, pós-graduação, profissionalizantes, idiomas ou informática – pagas com o dinheiro obtido na venda do lixo prensado (em média, essa receita extra é de R$ 4,5 mil por mês). Essas bolsas já beneficiaram 79 funcionários. É o caso de Alessandra Furlaneto, que há um ano e meio voltou a freqüentar o curso de publicidade que trancara por não conseguir pagar. Hoje, a Zanini custeia 60% da mensalidade.

A fábrica ganha de duas maneiras com essa medida: com a capacitação de seu quadro de pessoal e com a sua maior motivação. É o que atesta o supervisor de projetos Hilton Roberto Santasso, que pôde se matricular em uma faculdade de desenho industrial no ano passado. “A empresa paga 80% do meu curso. Para mim, a bolsa é um grande incentivo para trabalhar aqui”, diz Santasso, que está na Zanzini há 13 anos. “Mas o mais interessante é que o projeto beneficia toda a comunidade.”

Nas escolas, o volume de lixo recolhido não pára de crescer: de janeiro a junho, 26 toneladas já haviam sido arrecadadas (em todo o ano passado, foram 46 toneladas). “Aprendi que é importante separar o lixo para preservar a natureza e deixar a cidade limpa”, diz Renato Teixeira, de 11 anos, aluno da 5a série do ensino fundamental na Escola Municipal Oscar Nova Costa. Segundo ele, a distribuição de brindes – como bonés, camisetas e material escolar – entre os que mais coletam é uma motivação secundária: “Faço a coleta pelo prazer de ajudar a limpar o planeta.”

Ele e os colegas assistem a palestras e apresentações teatrais de funcionários que a Zanini libera para ensinarem educação ambiental às crianças. Segundo a empresa, desde 2001 eles já cederam 8.120 horas de trabalho nessas atividades. Em casa, o engajamento das crianças tem tirado o sossego dos pais. “Já ouvi pais se queixando que agora têm que separar todo o lixo, pois os filhos não dão trégua”, diz Denise. “Se eles jogam um papel de bala no chão, são censurados na mesma hora.”

Atualmente, a preocupação com a reciclagem do lixo está longe de ser uma exclusividade de Dois Córregos. No Brasil, a reciclagem se difundiu muito em relação a latas de alumínio (87% delas passam por este processo), mas, em comparação com outros países, continua restrita para materiais como plásticos, papel e papelão. Enquanto os brasileiros reciclam apenas 17,5% dos plásticos que consomem, na Bélgica e na Alemanha a reciclagem atinge os patamares de 28,5% e 60%, respectivamente. Quanto ao destino do papel e do papelão, 43,9% são reciclados aqui – bem menos que nos Estados Unidos (55%) e no México (60%). Com o projeto Reciclo, os moradores de Dois Córregos estão dando sua contribuição para a redução dessas diferenças.


As informações são da Fundação Banco do Brasil.

 
 
 

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