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goiás
25/08/2004

Atendimento oftalmológico gratuito melhora desempenho de estudantes

Desde que começou a estudar, Jean Soares Pessoa, de 12 anos, acostumou-se a ser chamado por apelidos pejorativos na escola em Rio Verde, no interior de Goiás. Seus colegas o tratavam dessa forma por causa de uma doença chamada ptose palpebral, que Jean apresentava desde que nasceu: sua pálpebra direita era rebaixada, causando a obstrução parcial do olho. Para ele, era irritante ouvir dos amigos apelidos, o mais incomodo, no entanto, eram as constantes dores de cabeça que sentia aos estudar. “Todo dia, a dor de cabeça era tanta que eu não conseguia fazer minhas tarefas”, lembra Jean. Como seus pais não podiam pagar os R$ 2,5 mil de uma cirurgia para corrigir a ptose, o jeito era conviver com a dor, estudando menos do que poderia em condições normais.

No começo de julho, porém, Jean foi à mesa de cirurgia para corrigir a posição da pálpebra. Isso graças ao projeto Boa Visão, da Fundação Jaime Câmara, que desde 1997 oferece consultas oftalmológicas gratuitas a alunos de escolas municipais em Goiânia, Aruanã e Rio Verde. Quando necessário, os médicos receitam óculos, fazem tratamento ou cirurgia – sempre de graça. O objetivo do programa, cadastrado no Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil, é proporcionar correção visual e prevenir a cegueira para garantir a melhoria do desempenho dos estudantes e, com isso, reduzir a evasão escolar. “Um aluno pode tirar notas ruins por não enxergar como deveria e não ter consciência disso porque os pais nunca puderam levá-lo ao oftalmologista”, diz Luiz Antônio Araújo, diretor de projetos da Fundação Jaime Câmara.

Tudo começou em 1995, quando o oftalmologista mineiro João Nassarala chegou a Goiânia para trabalhar no Instituto de Olhos. Ele aceitou o convite disposto a criar um projeto de assistência à população de baixa renda – em especial, crianças carentes. “O pobre, no Brasil, não tem acesso ao que deveria. Na Europa e nos Estados Unidos, os carentes são atendidos”, diz Nassarala, que não abria mão de ter equipamentos para atender a qualquer tipo de problema na visão.

Mas se o instituto contava com os médicos e aparelhos com tecnologia de ponta, faltava um meio para atrair as crianças. Aí entrou a parceria com a Fundação Jaime Câmara, criada também em 1995 e que conta entre seus objetivos se dedicar à deficiência visual, já que seu patrono havia sido diretor do Instituto de Olhos. Cabia à fundação fazer contato com a prefeitura para chamar alunos das escolas municipais (desde o início, lanches eram oferecidos para atraí-los às consultas).

No começo, os alunos eram atendidos no Instituto de Olhos, aos sábados, para não prejudicar o atendimento particular já prestado pelo médico. Porém, muitas crianças não iam porque os pais não autorizavam, com medo de haver algum acidente com os filhos. Então, para atender a todos que gostaria o doutor Nassarala se inspirou em um projeto administrado pela Fundação Hilton Rocha, em Belo Horizonte, Minas Gerais, que usava unidades volantes para oferecer consultas oftalmológicas em comunidades de baixa renda.

A idéia é bem simples. Quem apresenta sintomas que sugerem algum problema de visão é encaminhado a um consultório no ônibus. Após a consulta, os alunos que precisam de óculos pegam a receita e podem escolher na mesma hora o modelo, que recebem de graça na própria sala de aula – quem paga por eles é a fundação, enquanto as consultas são pagas pelas prefeituras de acordo com a tabela do SUS (cada consulta custa cerca de R$ 2). Quando há necessidade de algum tratamento ou cirurgia, o aluno é encaminhado ao instituto.

Ir onde o povo está
Ao todo, mais de 200 mil alunos do ensino fundamental e adultos em alfabetização já foram atendidos – incluindo crianças da aldeia carajá, em Aruanã. Entre os alunos atendidos, 31 mil foram examinados nos ônibus, sendo que mais de 11,5 mil receberam óculos. Os casos que exigem a ida do aluno até o Instituto de Olhos não chegam a 5% do total.

A professora desempregada Ana Josefa da Conceição é uma das mães gratas ao projeto. Sem ele, não teria condições de comprar óculos para corrigir a miopia dos filhos Aloísio e Túlio, de 11 e 7 anos. “O par de óculos mais simples custa R$ 300. Fica muito difícil pagar”, diz Ana Josefa, cujo marido é carpinteiro aposentado. “Depois que passaram a usar os óculos, as crianças estão com menos dificuldade de aprender.”

Zaida Guimarães, secretária municipal de Educação de Rio Verde, já está acostumada a ouvir relatos parecidos com o de Ana Josefa: “muitos pais e professores têm comentado a melhoria das crianças na escola”, diz ela, que cadastrou sua cidade para receber o projeto por solicitação do sindicato rural de Rio Verde.

Graças a seus resultados, o Boa Visão teve reconhecimento público do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e foi usado como modelo por cidades que o conheceram em congressos de oftalmologia. Segundo Luís Antônio Araújo, da Fundação Jaime Câmara, um dos próximos passos é preparar um levantamento estatístico que ateste essa melhoria em números.

Nos planos do doutor Nassarala também estão a ampliação do atendimento para outras cidades e a instalação de unidades cirúrgicas nas localidades atualmente incluídas no projeto. Além disso, ele pretende um dia oferecer tratamento para catarata para idosos em ônibus itinerantes. “Se não vamos lá, eles não vêm aqui”, conclui Nassarala.



As informações são da Fundação Banco do Brasil.

 
 
 

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