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talento
31/08/2004

Paraibano transforma sucatas em obras de arte

Carlos Nazário da Silva, o Índio da Vila Vintém, é um arquiteto de miniaturas. Uma de suas obras mais famosas é a reprodução da quadra da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Ele já vendeu dez unidades, a R$ 600 cada. Já a casa do apresentador Silvio Santos saiu bem mais barata - apenas R$ 150. Auto-didata, Carlos tornou-se mestre na arte de construir maquetes de madeira. Hoje, tem peça até na Itália. Fama garantida apenas com a propaganda de boca.

Como matéria-prima, Carlos usa sucatas. Depois, corta a madeira, monta as estruturas, reveste-as com gesso e massa corrida. No final, vem a pintura. Natural de João Pessoa, Paraíba, Carlos Nazário mudou-se para o Rio com os pais aos cinco anos de idade. Aos 45, casado e pai de três filhos, ele aponta o destino como responsável por seu talento. Afinal, nunca fez aulas de artes plásticas, artesanato ou marcenaria.

“Quando cheguei ao Rio, a primeira pessoa que me chamou atenção foi um homem que vendia carrinhos de madeira numa esquina. O jeito que ele trabalhava a madeira parecia mágica”, lembra. Carlos já foi sapateiro, açougueiro e vendedor. Morador de Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio, hoje o artista é dono do bar e mercearia Mocidade, bem na da quadra da escola.

Uma casa para Dona Zica
A data, ele não sabe. Mas lembra que se sentiu atraído pelo trabalho com madeira ao fazer um porta-retrato para uma namorada, caixa do mercado onde Carlos trabalhava como açougueiro. "Ela me deu uma foto que eu não tinha onde colocar", conta o artista. Ao ver umas madeiras "jogadas num canto", veio a idéia. "Quando ficou pronto nem eu acreditei que tinha sido feito por mim. Dali em diante, sempre que podia, inventava mais um trabalho”.

E foi praticando que Carlos desenvolveu sua técnica. Depois do porta-retrato, foi arriscando outras formas: casinha japonesa para colocar miniaturas, porta-jóias, trem, navio, carrinho até chegar às maquetes de casas.

“Agora faço qualquer trabalho que me peçam”, garante. Para a filha Daniele, ele fez um porta-jóias inspirado em um modelo visto na televisão. O filho Carlos Júnior ganhou um navio negreiro e a esposa “quase” ficou com a casinha japonesa. “O presente era para mim, mas é só alguém pedir que ele dá. E quando não dá o que está pronto, ele faz só para provar que sabe”, provoca a esposa, Carolina da Costa André, de 48 anos.

Carlos rebate: “Aposto R$ 100 com quem não acredita que faço. No fim eu mostro que sei e ainda fico com a peça para vender. Isso é investir na propaganda”, explica.

Assim aconteceu com a maquete da casa de Dona Zica. Instigado por um morador da Mangueira que duvidou de sua capacidade, Carlos não deixou passar o desafio. Pediu ao rapaz que descrevesse uma casa e a reproduziu em seguida, mesmo sem nunca tê-la visto. Segundo conta, o rapaz disse que estava igual e que compraria para presentear Dona Zica, mas ela morreu em seguida e a maquete ficou de lembrança.

A casa da primeira-dama da Mangueira é reproduzida anualmente quando a faixa da escola muda de acordo com o enredo.

Gringos
Com madeiras reaproveitadas de sofás e estrados de cama que as pessoas jogam fora, Carlos também fez a sua “casa dos sonhos”. Desta vez, o trabalho teve como inspiração a mansão de um deputado que mora no bairro: “O muro é alto, não dá para enxergar nada, mas eu posso imaginar”. A mansão reproduzida tem piscina no terraço, quadra de tênis no quintal e o interior todo decorado com recortes de revistas, imitando objetos e utensílios domésticos.

Já a mansão de Silvio Santos foi copiada a partir de imagens de televisão e vendida a um amigo por R$ 150.

Em geral, ele leva três dias para fazer a maquete de uma dessas casas maiores e uma semana para montar as quadras da escola. Isso porque trabalha as peças somente nas horas vagas, já que o bar ocupa todo o seu dia.

Amante do carnaval, o artista aproveita para fechar boas vendas nos dias de ensaio da escola, quando o movimento do bar aumenta bastante. Nesses períodos, a Mocidade atrai também os “gringos”, que costumam comprar maquetes da quadra.

Admirado no bairro pelo seu trabalho, Carlos sempre se dispõe a ensinar a técnica aos que se interessam e ainda gosta de presentear as pessoas que não têm recursos para comprar as peças.

Mas apesar do reconhecimento, ele não pensa em mudar sua rotina para viver somente do mundo das artes. “Gosto muito de me surpreender com o que consigo fazer com a madeira, mas o dia-a-dia do bar também faz parte da minha vida”.

Ele tem dois sonhos, que espera realizar em breve: participar da criação do Carnaval da escola de seu coração, a Mocidade, e construir a maquete de uma cidade. “Certamente será João Pessoa, onde nasci”, revela.


SILVIA NORONHA
do site Viva Favela

 
 
 

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