Recrutamento
de empresas exclui mulheres no Japão
Apesar de as previsões
apontarem que em breve o Japão enfrentará uma falta de mão-de-obra,
o país ainda adota um padrão de contratação que relega
as mulheres a cargos inferiores. E prefere receber mais imigrantes a oferecer
melhores oportunidades às japonesas.
Segundo projeções
oficiais, a população japonesa na faixa de 20 anos encolherá
em quase um terço até 2015. Mas jovens qualificadas, como Yoko Hayakawa,
aluna de uma conceituada universidade do país, recebem propostas de trocar
cargos técnicos por postos subalternos. "Uma das empresas perguntou
se eu aceitaria trabalhar como secretária", relata Yoko.
Especialistas dizem que
as empresas japonesas discriminam as mulheres por medo de que elas casem e abandonem
a carreira. O diretor da Associação de Estudantes Femininas contra
a Discriminação, Hiromi Harada, rejeita a idéia e afirma
que a maioria das mulheres quer trabalhar até a idade de aposentadoria.
"O fato é que muitas delas são obrigadas a abandonar o emprego
devido aos altos custos das creches.", disse Harada.
(Valor)
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Recrutamento
de empresas relega mulheres no Japão
Quando a estudante Yoko
Hayakawa iniciou recentemente sua primeira maratona de entrevistas para um emprego
no setor de tecnologia, não demorou muito para notar o "estranho"
padrão de contratação em vigor em seu país.
Apesar de obter excelentes
notas na faculdade, falar inglês fluentemente e possuir uma vigorosa ambição
profissional, seus entrevistadores lhe faziam perguntas triviais sobre sua vida
social ou sobre como ela se sentiria, por exemplo, caso fosse pedida em casamento.
"Uma das empresas perguntou
se eu aceitaria trabalhar como secretária, ao invés de ter um cargo
técnico", disse Yoko, de 23 anos, que está no último
ano na Universidade Keio, uma das mais conceituadas do Japão. "Outro
entrevistador chegou até a me perguntar quantas lojas de conveniência
existem no Japão."
Yoko diz que, quando relatou
aos seus amigos homens o teor das perguntas, soube que eles nunca tinham passado
por esse tipo de entrevista. Para os homens, pergunta-se aquele tipo "normal"
de coisas, como o que estudaram na escola e quais são suas ambições
profissionais.
A exaustiva série
de entrevistas que caracterizam a temporada de contratações no Japão
- com início no inverno do último ano escolar dos universitários
- é algo tão convencional no calendário dos estudantes japoneses
quanto as festas de graduação.
Yoko descobriu, no entanto,
que uma espécie de entendimento tácito do ritual de busca de um
emprego acaba empurrando mulheres qualificadas para postos menos valorizados.
Ao longo de sucessivas gerações,
o processo de recrutamento no Japão operou baseado no pressuposto de que
o destino mais certo para uma jovem japonesa é o casamento e a educação
de filhos - o investimento na carreira fica para o marido.
À medida que o Japão
vislumbra uma potencial falta de mão- de-obra no futuro breve, a sociedade
japonesa vem dando mais sinais de que, se preciso, está pronta para receber
uma leva de imigrantes em maior escala - assunto, até hoje, tabu na sociedade
japonesa. Isso só para não fornecer às mulheres melhores
oportunidades profissionais.
De acordo com projeções
oficiais, a população japonesa na faixa etária de 20 anos
deverá encolher em quase um terço - para 12,4 milhões - até
2015.
Para enfrentar o problema,
uma lei nacional que prevê igualdade de oportunidades às mulheres
foi atualizada em 1999, determinando, pela primeira vez, punições
para casos de discriminação contra a mulher no ambiente de trabalho.
Recentes entrevistas com
desempregados, advogados trabalhistas, economistas e defensores dos direitos da
mulher, apontaram, porém, que a nova lei teve pouco impacto real. Os antigos
padrões de contratação feminina para posições
"subalternas" continuam imbatíveis.
"Eu não comparecia
às entrevistas esperando um ato de discriminação", disse
Yoko, que conseguiu um emprego na Canon.
Especialistas no mercado
de trabalho do Japão dizem que muitas empresas excluírem as mulheres
de uma carreira profissional é o medo de que elas casem depois de alguns
anos. "As empresas sabem que os riscos são maiores com mulheres e
querem garantir o retorno em seu investimento em capital humano." Mas a noção
de que as mulheres acabam deixando o emprego poucos anos depois para casar-se
é veementemente rejeitada por entidades ligadas ao assunto.
"Nossa pesquisa mostra
que entre 70% e 80% das mulheres querem continuar a trabalhar até a idade
de aposentadoria", disse Hiromi Harada, diretor da Associação
de Estudantes Femininas contra a Discriminação. "Além
do mais, pouquíssimas mulheres dizem desejar largar o emprego quando tiverem
filhos. O fato é que muitas delas são obrigadas a abandonar o emprego
devido aos altos custos das creches. Se quisermos mudar essa situação,
deveríamos tomar medidas no sentido de tornar o serviço de creche
mais comum e acessível ", disse Harada.
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