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Professores
brasileiros provêm de famílias pobres
O professor
formado pelas universidades brasileiras é filho de pais que
nunca foram à escola ou nem sequer completaram os quatro
primeiros anos do ensino fundamental. Vive em famílias com
renda inferior a R$ 1.800 ao mês e estudou sempre em escola
pública. É o que apontou o questionário sócioeconômico
do provão de 2001 do Ministério da Educação.
A profissão,
que no século passado abriu espaço no mercado de trabalho
para as mulheres, agora ajuda a incluir um novo perfil de trabalhador
no mercado formal. Os formandos de cursos como pedagogia, letras,
matemática, biologia, física e química (os
mais procurados pelos que pretendem ser professores) têm perfil
distinto dos que saem de cursos mais concorridos, como medicina,
ou de oferta mais comum nas faculdades, como direito e administração.
Em letras e
matemática, 23,1% e 24,4%, respectivamente, dos formandos
vivem em famílias com renda inferior a R$ 540. A média
de todos os cursos é de 10,9% dos alunos nessa situação.
Em faculdades mais concorridas, como a de odontologia, essa proporção
é de apenas 2,2%.
O nível
de escolaridade também destoa da média. Em pedagogia,
por exemplo, 9,8% dos pais dos formandos nunca frequentaram a escola,
enquanto outros 54,7% não completaram a 4ª série
do ensino fundamental. Em medicina, um dos mais elitizados, apenas
0,9% dos formandos têm pais que não frequentaram a
escola e 10,7% têm pais que não completaram quatro
anos de estudo.
Leia
mais:
Professor
tem família de renda mais baixa
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Professor tem família
de renda mais baixa
O professor
formado pelas universidades brasileiras é filho de pais que
nunca foram à escola ou nem sequer completaram os quatro
primeiros anos do ensino fundamental. Vive em famílias com
renda inferior a R$ 1.800/mês e estudou sempre em escola pública.
A profissão,
que no século passado abriu espaço no mercado de trabalho
para as mulheres, agora ajuda a incluir um novo perfil de trabalhador
no mercado formal.
O questionário socioeconômico do provão de 2001
do Ministério da Educação mostra que os formandos
de cursos como pedagogia, letras, matemática, biologia, física
e química (os mais procurados pelos que pretendem ser professores)
têm perfil distinto dos que saem de cursos mais concorridos,
como medicina, ou de oferta mais comum nas faculdades, como direito
e administração.
Em pedagogia,
por exemplo, 9,8% dos pais dos formandos nunca frequentaram a escola,
enquanto outros 54,7% não completaram a 4ª série
do ensino fundamental. Em medicina, um dos mais elitizados, apenas
0,9% dos formandos têm pais que não frequentaram a
escola e 10,7% têm pais que não completaram quatro
anos de estudo. Na média dos 20 cursos avaliados pelo provão,
essas porcentagens são, respectivamente, de 4,9% e 34,7%.
A renda mensal
das famílias em cursos de formação de professores
também destoa da média. Em letras e matemática,
por exemplo, 23,1% e 24,4%, respectivamente, dos formandos vivem
em famílias com renda inferior a R$ 540. A média de
todos os cursos é de 10,9% dos alunos nessa situação.
Em faculdades mais concorridas, como a de odontologia, essa proporção
é de apenas 2,2%.
Em letras, matemática,
pedagogia, química e física, mais de 50% dos estudantes
vêm de famílias cuja renda variava de R$ 540 a R$ 1.800
mensais. Entre todos os cursos avaliados no provão, essa
porcentagem é de 38,1%.
Apesar dos conhecidos
baixos salários, os cursos que formam professores atraem
alunos que, além da vocação, vêem na
profissão uma forma de ascensão social.
Foi o caso de Célia Regina Cristo de Oliveira, 31, que se
formou em pedagogia pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de
Janeiro) e hoje dá aulas na rede pública municipal
de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense (RJ).
O salário
de Célia é R$ 850, incluindo benefícios. Para
chegar ao trabalho, ela precisa pegar dois ônibus. Além
das aulas, ela participa como monitora de projetos sociais do governo
do Estado que lhe rendem mais R$ 1.200 mensais. Com isso, seu rendimento
passou a ser o maior da casa onde mora com os pais e seis irmãos.
Graças
ao salário de Célia, a família saiu do apartamento
onde morava num conjunto habitacional em Realengo (zona oeste do
Rio) para morar numa casa em Anchieta (zona norte).
Ela conta que
logo que se formou era motivo de orgulho para os pais e para o conjunto
habitacional onde morava. "Eles me incentivaram muito. Eu sabia
que ia ganhar pouco, mas queria muito ser professora", afirma.
"Para mim,
professor é tudo, abaixo apenas de Deus. Não somos
nada sem professor", diz a mãe de Célia, a dona-de-casa
Maria do Carmo Cristo de Oliveira, que, assim como o marido, completou
só o ensino fundamental.
A história
de Célia se assemelha à de Jorge André de Oliveira,
26, aluno de licenciatura em letras da Uerj. Antes de entrar na
universidade, ele morava com a mãe numa das favelas do Complexo
do Alemão (zona norte). Agora mora num apartamento em Niterói
(15 km do Rio). Conta que foi um dos poucos de seu grupo de amigos
a sonhar com a universidade.
"O sonho
da favela é ter uma casa de laje. Eu li muito quando era
pequeno porque minha mãe trabalhava como doméstica
em casas de pessoas que tinham muitos livros", conta Oliveira.
Mas o fato de
terem ascendido socialmente não chega a provocar deslumbramento
dos novos professores com a profissão.
"Minha
renda melhorou quando aumentaram os benefícios, mas quero
que eles façam parte do salário. Amanhã, pode
entrar um novo prefeito e voltar tudo ao que era antes", diz
Célia, que ganha R$ 850 como professora, dos quais apenas
R$ 319 são equivalentes ao salário formal.
(Folha de
S. Paulo)
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