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Não é na casa do Nicola
nem fica na rua Major Diogo, como cantou Adoniran Barbosa
em "Um Samba no Bexiga" (1956). O acervo do compositor
"muda-se" em abril para um endereço bem próximo:
o teatro Sérgio Cardoso.
As fotos, documentos, partituras,
discos e objetos pessoais de João Rubinato, nome civil
de Adoniran, coletados ao longo de 40 anos por sua companheira,
Mathilde de Lutiis, estavam desde 1983 sob a guarda do governo
estadual. Agora, todo material será doado formalmente
pela filha do compositor, a tradutora Maria Helena Rubinato
Rodrigues de Sousa, 67, e por seu neto, o jornalista Alfredo
Rubinato Rodrigues de Sousa, 33.
"Quando meu pai morreu, a Mathilde
conseguiu realizar seu maior desejo: expor aquilo que para
ela era um tesouro", conta.
À época, o espaço
oferecido para receber o acervo do "poeta do Bexiga"
foi o cofre do antigo Banco de São Paulo, na praça
Antonio Prado, onde fica a secretaria de Juventude, Esportes
e Lazer. Durante esses mais de 20 anos houve, segundo a filha,
duas mostras.
"O cofre é lindo, mas
quase que inexpugnável, como convém a um cofre...
E nunca teve uma divulgação apropriada",
diz. "Nossa expectativa é presentear a cidade
de São Paulo, grande paixão de meu pai, divulgar
que o acervo existe e permitir que todas as pessoas interessadas
em sua obra possam ter o acesso facilitado."
Agora, além de uma "residência
fixa" o mezanino do teatro, o acervo de Adoniran deve
ganhar um tratamento cenográfico. A intenção
é reproduzir o ambiente de um bar, numa alusão
aos freqüentados pelo compositor no bairro do Bexiga.
Essa etapa do projeto será financiada pela Ambev, empresa
cuja uma das marcas teve, em 1972, Adoniran como garoto-propaganda.
Como boa parte dos objetos precisam
ser restaurados, apenas algumas peças serão
exibidas na abertura da mostra. "A idéia é
inaugurar na primeira semana de abril com aquilo que não
está avariado. Ainda não vai ser uma exposição
de tudo que se tem", adianta a secretária de Estado
da Cultura, Claudia Costin.
Parte do acervo deve ser restaurado
na oficina do Arquivo do Estado. Contudo, não há
recursos técnicos para recuperar todas as peças.
"Vamos usar inicialmente o dinheiro do Orçamento.
O Estado tem obrigação de expor seu acervo",
garante Costin.
Os brinquedos figuram entre as surpresas
do acervo, que conta ainda com troféus e roupas. Segundo
Maria Helena, a construção de brinquedos era
o hobby de seu pai. "'Roubei' duas bicicletinhas do acervo
antes de fazer a doação: uma para guardar em
casa e outra para um amigo", diz.
O "xis" da questão
é onde guardar as peças que não estiverem
expostas. Segundo a diretora técnica do Departamento
de Museus e Arquivos, Silvia Antibas, uma reserva técnica,
que também servirá como centro de pesquisa,
deve ser construída no terceiro andar do teatro até
o outro semestre.
JANAINA FIDALGO
da Folha de S. Paulo
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