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inovação
28/10/2004
Projeto quer escola de moda no Bom Retiro

Juntar em um desfile os estilistas Ricardo Almeida, que faz os ternos do presidente Lula, Clô Orozco (Huis Clos) e Amir Slama (Rosa Chá) não é tarefa fácil. Numa escola de moda, então, parece improvável. E se a escola for no Bom Retiro? Se você acha impossível, jogue no lixo a sua bola de cristal.

O trio assina hoje um protocolo com o governo do Estado de São Paulo que dá início a um processo que visa criar uma escola que quer mudar o ensino de moda no país.

O plano dos estilistas é que a escola funcione no Bom Retiro, bairro da região central de São Paulo que é o epicentro da moda popular no país, em um prédio de 1893. O edifício abrigou o Desinfetório Central da cidade, instituição que cuidava da desinfecção das casas no início do século passado assim que acontecia por ali um caso de doença epidêmica. Atualmente, ele é dividido entre o setor de transportes da Secretaria de Estado da Saúde e o Museu Emílio Ribas.

"Eu já tinha pronto um projeto de escola de moda. Acho sensacional se ele puder ser implantado no Bom Retiro porque o bairro em si já é uma escola de moda", afirma Ricardo Almeida. Se o plano der certo, o estilista será o diretor da unidade.

Além da escola
O projeto da Escola Superior de Moda de São Paulo é uma iniciativa do Núcleo de Ação Empresarial do Projeto Bom Retiro, uma organização não-governamental (ONG) da qual fazem parte desde estilistas até empresários, comerciantes e urbanistas.

O projeto apresentado é ambicioso: ele quer recuperar a malha urbana do bairro e ao mesmo tempo colocar a produção de moda das confecções de lá no compasso dos mercados globais, com o foco na exportação.

"A escola deve ser a âncora do projeto porque poderá repassar novas tecnologias para as empresas", afirma o arquiteto Cleiton Honório de Paula, diretor do Projeto Bom Retiro.

Ensino errado
Almeida teve o estalo de criar a escola a partir de preocupações mais modestas: acha que os cursos de moda ensinam de maneira "totalmente errada." "Quem gosta de criação tem o olhar mais desenvolvido e não escuta direito. O negócio dela é o olhar. As escolas estão erradas porque privilegiam a fala", afirma o estilista.

Clô Orozco diz sentir na pele a falta de preparo dos estudantes que saem das faculdades. "Os cursos são muito elementares. Os alunos não aprendem a construir uma roupa e não sabem como funciona a indústria."

A ausência de aulas práticas nas escolas é o maior dos problemas, porém não é o único existente, de acordo com Carlos Simões, consultor da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), que já deu aulas nas quatro faculdades de moda que existem em São Paulo.

"As faculdades e o mercado não conversam e isso vai virar um desastre se não for corrigido. A mão de obra formada não interessa ao mercado", diz ele.

As faculdades formam estilistas e gestores de produto, de acordo com Simões, mas 90% das empresas são familiares e não têm recursos para contratar esses profissionais. É por isso que as confecções do Bom Retiro exibem durante o ano todo cartazes de "Precisa-se de modelista".

Não dá para ser competitivo no mercado externo de moda com problemas tão elementares, acredita o consultor da Abit.

Outra prática que será adotada, segundo Simões, é a mescla de professores acadêmicos com profissionais. O modelo de escola que planeja seguir é o do Goldsmiths College, de Londres, no qual o aluno trabalha no ateliê desde o primeiro ano.

A idéia inicial é que a escola tenha cursos técnicos e de nível superior. O secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento do Estado de São Paulo, João Carlos Meirelles, afirma, no entanto, que seria uma diminuição imaginar mais uma escola técnica: "É um conjunto de ensino que deve responder às demandas da cadeira produtiva, que vá do fio à vitrine", afirmou o secretário.

Por sugestão dos empresários do Bom Retiro, a escola deve ser pública, mas não estatal. Num modelo assim, os proprietários das confecções poderiam bancar parcialmente o projeto. Com a parceria, evita-se também os entraves burocráticos do Estado para compra e oferta de cursos.


MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo

 
 
 

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