"Patrícia,
meu amor, te adoro"
Nos 53
dias de espera do fim do sequestro, Patrícia Viotti
cumpriu um ritual. Deitada na cama, preparando-se para dormir,
colocava entre as mãos as fotos do marido, Washington
Olivetto, e repetia, por várias vezes, uma frase: "Nós
somos fortes, nós somos fortes". Entregava-se
a uma espécie de mantra na esperança de que
a energia daquelas palavras pudesse chegar até o cativeiro.
"Eu me sentia conversando com ele."
No seu
cativeiro, no Brooklin, Washington também cultivava
um ritual amoroso. Escreveu em vários tijolos da parede,
numa composição harmoniosa, a declaração
que seria estampada nos jornais depois da libertação:
"Patrícia, meu amor, te adoro". Naqueles
tijolos, ele registrava os nomes -Homero, o filho, por exemplo-
de quem o ligava ao prazer de viver. "Foi o jeito que
encontrei de sempre lembrar os meus pontos focais", conta
Washington, que, exposto apenas à luz artificial, não
sabia mais distinguir o dia da noite.
Ele gosta
tanto de amplos espaços que preferiu não ter
uma sala na W/Brasil, tornando-se pioneiro, no país,
de uma inovação arquitetônica. Tem espaço
em várias estações de trabalho. "Não
sei ficar numa sala fechada", dizia frequentemente. Metido
num cubículo de 1,5 m por 3 m, sem banheiro, impossibilitado
de conversar (até mesmo com o carcereiro), Washington
encontrou a salvação nas letras. Apesar de tudo,
não lhe negaram o direito ao papel. "Escrevia
sem parar para me manter conectado. Há muito tempo
já não estava acostumado a escrever à
mão. Por isso estou agora repleto de calos nos dedos."
Quando
os dedos não mais suportavam a dor, ele buscava refúgio
nas palavras marcadas nos tijolos com lembranças de
prazer. "O laço mais forte era o amor de Patrícia."
Naquele mural emotivo, fama, dinheiro e poder -coisas que
Washington ganhou muito na vida- não tinham mais importância.
O essencial, o que o ligava à vontade desesperada de
sair dali, de sobreviver, era o afeto.
Autor
de tantas frases famosas e de anúncios que projetaram
o Brasil na propaganda mundial, ele fez de seu cativeiro um
jeito inesquecível de dar originalidade a uma declaração
de amor tão repetida em todos os cantos do planeta.
Só mesmo um gênio publicitário seria capaz
de fazer que um tenebroso sequestro também fosse lembrado
como um caso de amor por causa de um anúncio de cinco
palavras gravadas em baixo-relevo na parede de uma casa numa
rua chamada Kansas.
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