Clube
fechado
Destinada a registrar o
cotidiano dos paulistanos, esta coluna escolheu-me hoje como seu personagem.
Por insistência de
meus dois filhos - um de 13 anos, outro de 10 -, decidi entrar no Clube Alto dos
Pinheiros. A pressão dos garotos fazia sentido: muitos de seus amigos,
estudantes do Colégio Vera Cruz, frequentam o clube.
Logo fui informado de que,
por não ser oficialmente casado, minha companheira e sua filha não
poderiam ser minhas dependentes. Aceitei: não queria causar transtornos
a meus filhos, que moram com a mãe. Em janeiro, fui informado pela secretaria
de que minha proposta de admissão fora aprovada. No dia seguinte, as carteirinhas
foram emitidas.
Candidatei-me a personagem
desta coluna quando, segunda-feira passada, recebi carta dizendo que minha proposta
fora rejeitada pela Comissão de Admissão, apesar de ter as carteirinhas.
"O fundamento da rejeição da proposta não será
comunicado ao interessado", avisava o documento.
O presidente do clube, Carlos
Augusto Monteiro da Silva, que assinou a carta, disse-me, por telefone, que não
daria nenhuma informação. "Só cumpri uma decisão"
Procurei, então, o presidente da Comissão de Admissão, Paulo
Teixeira, que, por intermédio de uma secretária, disse que não
era obrigado a dar explicações. Mas entre a emissão das carteirinhas
e o recebimento da carta de veto houve um fato.
No dia 4 de fevereiro, a
Folha trouxe reportagem revelando a existência de áreas públicas
cedidas gratuitamente pela prefeitura a entidades privadas e usufruídas
pela elite. Entre elas, estava o Clube Alto dos Pinheiros. O ex-deputado Carlos
Augusto Monteiro da Silva fora indicado na reportagem como responsável
pelo favor obtido para concessão do terreno.
Ao investigar pelos bastidores
as causas do veto, lançado por alguns membros da Comissão de Admissão,
descobri um pouco mais sobre os modos de pensar e os valores de minha cidade:
alguns sócios não gostaram de eu ter, na primeira proposta, apresentado
como mulher uma companheira e viram nisso bom pretexto para descontar a irritação
causada por uma reportagem.
Como já tinham a
carteirinha, imaginavam-se sócios e adoram o clube, meus filhos estão
se sentindo expulsos de lá. Até ontem, não tinha conseguido
explicar-lhes essa trama social de uma cidade cujas principais marcas são,
justamente, a exclusão e o preconceito.
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