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21/09/2005 - 20h10

Preconceito faz parte da rotina de 35% dos empresários negros fluminenses

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JANAINA LAGE
da Folha Online, no Rio

As preocupações do dia-a-dia do empresário nacional são acrescidas do preconceito racial para os empresários negros fluminenses. Pesquisa realizada pelo Colymar - Centro de Empresários Afro-Brasileiros revela que 35,58% dos entrevistados convivem com o preconceito.

A discriminação com base na cor da pele ou raça durante o exercício da atividade profissional parte principalmente dos clientes. Esta é a avaliação de 71,6% dos empresários consultados, mas a lista inclui também outros empresários, fornecedores, empregados, instituições financeiras e até mesmo licitações como fontes de discriminação.

Para conhecer melhor o perfil do empresário negro fluminense o Colymar, em parceria com a Fundação Interamericana, ouviu 326 empresários que se declararam pretos ou pardos nos municípios do Rio de Janeiro, Belford Roxo, Duque de Caxias, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, São João de Meriti e São Gonçalo. A amostragem foi definida a partir dos dados do Censo 2000, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A pesquisa traça um retrato do empresário negro fluminense e de seus empreendimentos. Segundo Osvaldo Neves, presidente do Colymar, a principal surpresa foi a qualidade das empresas. A escolha por abrir o próprio negócio foi decorrente da experiência profissional, segundo 29,75% dos entrevistados. Os percentuais de pessoas que abriram empresas em razão do desemprego e dos que optaram por este passo em razão da oportunidade de mercado e do planejamento foi igual, de 22,09%.

Entre os empresários consultados, a maioria comanda empresas legalizadas: 63,5%. O tempo de vida das empresas é de seis a dez anos, de acordo com 29,63% dos entrevistados e de um a cinco anos, segundo 28,70% dos empresários.

A maior parte das empresas atua no setor de serviços (51,05%). O comércio aparece em segundo lugar entre as atividades, com 41,54%.

A pesquisa mostra que o empresário negro fluminense abre sua empresa com recursos de poupança própria (70,25%), poucos conseguiram recursos para abrir empresas por meio de herança familiar, apenas 2,45%.

A remuneração dos empregados é baixa e as empresas costumam ter no máximo seis funcionários: 57,7% dos entrevistados têm de um a três funcionários e 24,5% de quatro a seis empregados. Os salários e comissões pagas aos empregados vão de um a dois salários mínimos, segundo 41,10% dos empresários ouvidos na pesquisa e de dois a três salários para 29,75% dos entrevistados.

Do total de 326 empresas, 122 contratam familiares como empregados e a maioria vê benefícios nesta prática.

Crédito

Neves afirma que com base na pesquisa, a instituição vai reordenar sua estratégia de atuação. "Se não houver políticas públicas específicas, não há como eliminar o fosso que existe entre empresários brancos e negros", disse.

Neste cenário, o financiamento é um dos principais entraves para o empresário fluminense negro. A maioria destas empresas investe pouco, mas se tivesse recursos disponíveis aproveitaria para aplicar na própria empresa. Poucas são informatizadas (38,34%) e apenas 20,25% dispõem de página na internet.

As principais dificuldades apontadas pelos entrevistados são a situação econômica do país, a taxa de juros muito elevada, a falta de apoio dos governos, a falta de capital, a dificuldade de acesso a crédito e a carga tributária elevada.

A imensa maioria jamais se beneficiou de instituições de apoio a empresários: 92,64%. Apenas 1,23% tem nesta forma de financiamento uma prática freqüente. Neves atribui este resultado à falta de informação, de formação empresarial e, em última instância, ao preconceito.

"As pessoas acabam sofrendo o efeito da barreira invisível do preconceito e não conseguem se aproximar. Algumas não chegam sequer a perceber que estão sendo vítimas desta prática. É como se estivesse naturalizada a diferença", disse.

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