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20/11/2005 - 09h45

Dona da Daslu afirma que prisão "ainda dói"

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CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
da Folha de S.Paulo

Quatro meses após ter passado cerca de 12 horas detida na Polícia Federal em São Paulo, sob a suspeita de cometer crime de sonegação fiscal nas importações da Daslu, Eliana Tranchesi afirma que os negócios na loja "nunca estiveram tão bem" --a despeito das críticas de clientes que reclamam de araras vazias, da falta de lançamentos de importados e de rumores de que a butique está à venda.

"São 18 mil novos clientes desde que viemos para a Vila Olímpia em junho. Na antiga Daslu havia cerca de 50 mil clientes", diz a dona do maior empreendimento de compras de luxo do Brasil.

Na semana passada, em uma entrevista de 15 minutos à Folha, ela diz estar "muito magoada" com o episódio de sua prisão em 13 de julho deste ano durante a operação Narciso, que contou com a participação de cerca de 250 policiais federais e 80 auditores da Receita Federal. A dona da loja foi detida e liberada no mesmo dia. Antonio Carlos Piva Albuquerque , irmão de Eliana e seu sócio na butique, e Celso de Lima, ex-contador da Daslu e dono da importadora Multimport (uma das principais da loja) ficaram presos durante cinco dias.

"É uma coisa que dói, porque sempre trabalhei muito. Não foi algo que conquistei só por sorte. Trabalho há 30 anos e me empenhei muito. Fui pioneira [no segmento de luxo] no país em uma série de coisas, que, infelizmente, não são reconhecidas no Brasil".

Leia os principais trechos da entrevista.

Folha - A sra. tem a intenção de nacionalizar a Daslu e não mais trabalhar com importados, após as suspeitas de sonegação fiscal envolvendo as importações da loja?

Eliana Tranchesi - Não, de forma alguma. A cliente brasileira gosta [dos importados] e há mercado. Do total de vendas da loja, 40% são de produtos importados e 60%, de nacionais. Esse percentual tem se mantido. Não pretendemos mudar nada. O fato é que a marca Daslu tem crescido e ganhado cada vez mais espaço dentro da loja mesmo. A história da Daslu sempre foi assim.

Folha - A ação da Polícia Federal e as investigações da Receita e do Ministério Público Federal não tiveram impacto nos seus negócios?

Tranchesi - Não afetaram as vendas. Se você comparar as vendas realizadas em outubro do ano passado e outubro deste ano, houve aumento [real] de 24,6%. É um "mundo" numa situação do país. Vender 25% a mais quando o varejo está em queda não é pouca coisa. Em julho, quando houve o episódio, tivemos a maior liquidação da história da Daslu.

Folha - As clientes, então, estão vindo mais à loja após a prisão da senhora em julho...

Tranchesi - Não posso nem andar dentro da loja. As pessoas me param e ficam emocionadas em me ver. Com lágrimas nos olhos, muita gente diz "força, força, Eliana, não desanime". Gente que nem conheço me fala: "tenho pensado muito em você". Na semana após o episódio [de sua prisão pela PF], o movimento da loja era um movimento de Natal.

Folha - Passados quatro meses da operação Narciso, a loja ainda não foi autuada. O MPF havia informado que pretendia encaminhar a denúncia até o fim deste mês. Como a sra. avalia isso?

Tranchesi - Sobre o caso do processo e de não haver ação até agora, não quero comentar nada. Porque é um caso para os advogados cuidarem. A Receita não pediu nada, nem houve autuação. Estamos esperando. Não é intenção nossa falar sobre isso. Mas, [sobre o fato] pessoalmente, é uma coisa que dói muito. Sempre trabalhei muito. Não foi algo que conquistei só por sorte. Trabalho há 30 anos e sempre me empenhei muito. Fui pioneira [no segmento de luxo] no país em uma série de coisas, que, infelizmente, não são reconhecidas no Brasil. A revista Wallpaper elegeu o nosso serviço como o melhor do mundo. A gente é muito reconhecido lá fora.

Folha - Na sua avaliação, o reconhecimento é maior fora do país?

Tranchesi - Muito, muito maior. Não sei se é uma coisa particular do brasileiro, mesmo, de não dar tanto valor para uma coisa genuinamente brasileira. O conceito Daslu não foi copiado de lugar algum. A gente criou o conceito, a marca, o tipo de atendimento. Criamos essa coisa de ter bar, ter sofá. Você poder sentar para pagar não é algo que pertencia à cultura do varejo. Isso não existe em nenhum lugar do mundo. São detalhes que as pessoas não percebem. A gente inventou tudo isso e é admirado no mundo inteirinho. Fiquei muito sentida pelo modo como a gente foi visto [após a operação da PF]. De repente, todo esse trabalho perde um pouco o seu valor.

Folha - Por falar em críticas, algumas clientes da Daslu reclamam que faltam novidades nas araras e que diminuiu o número de novidades, de produtos importados. As importações diminuíram?

Tranchesi - Houve um período de interrupção [30 a 40 dias, por problemas operacionais após as investigações da Receita, PF e MPF]. O processo [de importação] está acontecendo. Está colocado para a sociedade como se a Receita Federal não estivesse em greve, mas a Receita está lenta. [As importações] estão demorando mais para todo o mercado. O setor de eletroeletrônicos é um exemplo. Maquiagem, perfume... não conseguimos trazer nada. Agora, as pessoas falam, né? Não sei o porquê disso.

Folha - Quais os planos da loja? A Daslu pretende investir em novos mercados? Exportar?

Tranchesi - Começamos a exportar há três anos, mas muito pouco. No início não havia nem produção para isso. Vendemos inicialmente para seis lojas. Procuramos lojas conceituais, parecidas com a Daslu. Vendemos para a Browns, em Londres, para a Scoop, em Nova York. Sempre procurávamos butiques bacanas, com marcas "antenadas". Mas o volume era irrisório. Foram US$ 100 mil.

Folha - E a previsão para este ano?

Tranchesi - A gente foi crescendo aos poucos. No final de outubro, vendemos para 90 lojas de 40 países. A previsão é exportar US$ 10 milhões no período [janeiro de 2005 a janeiro de 2006]. No acumulado do ano, já foram exportados cerca de US$ 3 milhões. Além das butiques de Nova York, Los Angeles e Londres, exportamos para Le Bon Marché, em Paris, e para "stores" de luxo em Milão, Hong Kong, Moscou, Cingapura, Tel Aviv, Dubai... E nunca usamos os canais que todo mundo usa. Não anunciamos em revista, nunca fizemos desfile. Os editores de moda têm vindo para conhecer a loja e fazem propaganda boca a boca. O Gildo Zegna [neto de Ermenegildo Zegna], que tem a minha idade, é muito arrojado e comandou o crescimento da empresa, me disse: "Você não tem noção do número de pessoas que vai para o Brasil para conhecer a Daslu para poder chupar [copiar] esse estilo de vender, os serviços, o conceito da loja. A gente sabe do pessoal da Berdorf Goodman (em NY), que fez uma reforma, que vai ficar pronta agora no começo do ano, inspirada na Daslu.

Folha - A Daslu pretende atuar em outros ramos?

Tranchesi - Já atuamos. No terraço Daslu, por exemplo, há 13 eventos programados para este mês. No local, cabem 1.200 pessoas sentadas. Alugamos, além desse espaço, as áreas para Louis Vuitton, Armani.

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